terça-feira, 24 de junho de 2014



O VERDADEIRO JULGAMENTO DO AMOR

De acordo com as autoridades médicas indianas, no corpo existe ar, bílis e muco, que correspondem ao ar, fogo, e água, três elementos no éter que influenciam a terra. A terra é principalmente influenciada pela água, e a água pelo calor, o calor pelo ar, e todos estäo brigando, lutando dentro do éter. Esta é a natureza do mundo material. Depois temos o mundo mental, a manifestaçäo da energia mental: "Quero isto, näo quero aquilo; gosto disso, näo gosto daquilo." E, a inteligência dá a diretriz para a mente: "Näo aceite isso, aceite aquilo." Mas está tudo dentro do ahankara, ego material. Acima disso temos a alma, que experimenta tudo, bom e mau. Esta chama-se purusha:

purushah sukha-duhkhanam, bhoktrtve hetur ucyate
(Bhagavad-gita 13.21)

"Estabeleceu-se que é a entidade viva condicionada, o próprio purusha que é a causa responsável dos sentimentos de alegria e tristeza que experimentamos neste mundo."
Essa é a diferença entre espírito e matéria. Matéria, chamada prakrti, é energia, porém a alma, purusha, experimenta bem e mal; ela é a pessoa que sente bem ou mal, tristeza ou felicidade. Ela é de uma substância, e aquilo que é sentido é de outra:

karya-karana-kartrtve, hetuh prakrtir ucyate
(Bhagavad-gita 13.21)

"Certamente neste mundo impermanente todo movimento ocorre através da qualidade inerente da natureza material predominada, prakrti, que é responsável tanto pela causa (a força dos sentidos) e efeito (o corpo material).
Portanto toda atividade que encontramos aqui, todo movimento, é devido a essa energia material, e quem sente tudo, quem conhece, quem concebe, é a alma. A alma é como o olho, um olho vendo qualquer coisa e tudo.
Na filosofia sankhya, este relacionamento prakrti-purusha tem sido comparado ao de um cego e um aleijado. Um aleijado poderá andar sentado nos ombros de um cego. Aquele que está se movendo (prakrti) é cego; e aquele que é aleijado, e que está em seus ombros (purusha), tem olhos para ver e pode guiar. A alma está "aleijada"; näo consegue mover-se, porém pode ver. O cego é o comandante da energia, que pode movimentar-se aqui e ali; pode carregar, porém é cego. Desta maneira, a alma é a conhecedora, quem sente, a existência subjetiva, e o aspecto energético é aquele da força, prakrti. Portanto, há força e consciência.
Estamos täo absorvidos na força; só queremos a força, a energia, e esquecemos que somos quem sente essa força! Este ser que a sente, é espantoso; se tentarmos compreender nosso próprio ser, ficaremos estupefatos: "Oh, que é isso? Sou de tal natureza! Näo tenho nada a ver com esse mundo da mortalidade; posso viver independentemente deste mundo mortal? É assim mesmo?"
Entäo conseguiremos compreender mais além, que existe uma Superalma. No mundo material existem tantos planos diferentes: o mundo do calor, da água, do ar. Tudo está evoluindo de um plano mais sutil para coisas mais grosseiras, como pedra ou madeira. Assim como há desenvolvimento nesta direçäo no mundo material, assim no mundo subjetivo também existe desenvolvimento, porém para cima, da alma para a Superalma, até a Super-Superalma; desta maneira há desenvolvimento e este é infinito. E nós somos tatastha, marginais; nossa alma está na posiçäo marginal, entre o superior e o inferior, entre o lado sutil e o lado grosseiro. O lado superior é eterno, é sat-chit-anandam, eterno, consciente e feliz; e aqui: asat, acit, nirananda. É asat, vacilante, a cada minuto está morrendo; e acit, inconsciente; e nirananda, sem nenhum sentimento de júbilo ou felicidade. Estas säo as respectivas naturezas deste mundo, e daquele mundo. E se quisermos ter associaçäo com aquele mundo, nos dizem que na posiçäo superior há infinita beleza, amor, e êxtase. Esse mundo pode descer até nós, e podemos ser aceitos como um dos membros familiares do Senhor. Podemos viver como um membro familiar com a Entidade mais elevada daquele mundo! Mahaprabhu nos disse que é possível, mas só através da afeiçäo, e näo pelo conhecimento ou qualquer realizaçäo mística. Pela afeiçäo e amor podemos atraí-Lo de tal maneira que possamos ser reconhecidos como membro familiar, uma posiçäo muito próxima a Ele - a tal ponto é possível.

No Bhagavad-gita o Senhor diz:

tato mam tattvato jnatva, vishate tad anantaram
(Bhagavad-gita 18.55)
"Após realizar Minha devida posiçäo, eles entram lá; isto é, na Minha própria jurisdiçäo especial, na Minha família." E o Bhagavatam diz:

mamatma-bhuyaya ca kalpate vai
(Srimad-Bhagavatam 11.29.34)

"Recebem reconhecimento täo elevado que os qualifica a irem viver Comigo eternamente, como Meus. Se eles se adiantarem desinteressadamente para satisfazer-Me, deixando tudo de lado, ananya  bhajana, se quiserem somente a Mim e a nada mais, entäo esta é a futura perspectiva deles."

Palestra de Srila Sridhara Maharaj - no Sri Chaitanya Sarasvat Math

‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬

sexta-feira, 20 de junho de 2014

'ADHIKARA'
(Elegibilidade-qualificação)

Quem tem adhikara para executar o Raganuga Sadhana tanto no aspecto Sambandhanuga ou Kamanuga? Shri Rupa Gosvami com clareza responde essa pergunta no Bhakti Rasamrita Sindhu. Antes de consultar suas declarações, contudo, vamos examinar, cuidadosamente, os seguintes versos do Cheitanya Charitamrita:

purbe braja vilasa, jei tin abhilase
jatne asvadan na haila
sri radhar bhava sar, apani kori angikara
sei tin bostu asvadila
apane kori asvadane sikhaila bhaktagane
prema chintamani prabhu dhani
nahi jane stan astan, jare na paya eka bindu
hena dhan bilailo sansare
aiche dayalu avatara, aiche data nahi ara
guna keha nare varnibare

Cc. Madhya 2

"Três desejos permanecem insatisfeitos na relação de Krishna com Radharani. Quando Gouranga deva aceitou o Radha Bhava para saborear essas doçuras, mas também para compartilha-las com Seus devotos; a partir daí Ele é a pedra de toque de Prema Vraja Bhakti. Não considerando tempo ou lugar, Mahaprabhu distribuiu esse tesouro a todos. Assim Ele é Data-Siromani - o Supremo Doador. As doçuras confidenciais de Vrindavana são tão secretas que mesmo o Senhor Brahma não pode saborear uma gota dessa doçura. Todavia, Gouranga derramou uma chuva dessas doçuras para as pessoas caídas da Kali Yuga! Será que esse karuna pode ser dado por algum outro avatara? Quem pode descrever as qualidades maravilhosas de Shri Cheitanya Mahaprabhu?"
Alguém pode perguntar: Pode ser verdade que Cheitanya Deva mostrou a misericórdia mais inacessível a todos, porém, quem é capaz de adotá-la? Na verdade nós podemos imaginar: por um lado os karmis estão muito ocupados com atividades fruitivas e gratificação dos sentidos. Por outro lado os jnanis estão em busca do conhecimento seco e liberação impessoal. Em relação aos bhaktas, mesmo eles usualmente ficam enredados nas práticas de Vaidhi bhakti. Assim quem irá aproveitar o param karuna de Gouranga? Shri Krishna Das Kaviraja responde essa pergunta na seguinte declaração:

kahibar katha nahe kahile keho na bhujaya
aiche citra caitanyer ranga
sei se bhujite pare, caitanya kripa jare
hoy tar das anudas sanga
Cc. Madhya 2

"A misericórdia de Shri Cheitanya Mahaprabhu está além da descrição, mesmo quando colocada em palavras a maioria das pessoas não conseguem compreender. A pessoa que vivencia o significado dos passatempos variados e assombrosos do Senhor, pode-se dizer que alcançou de fato, Sua misericórdia. Na realidade ele recebe a associação direta de Cheitanya Deva como o servo dos Seus servos."
Essa declaração do Kaviraja nos faz lembrar a declaração de Shri Krishna do Bhagavad Gita de que a pessoa deve conhecer a natureza transcendental do Seu nascimento e atividades a fim de alcança-lO (janma karma ca me divyam). Isso quer dizer que além do parama karuna do Senhor que está disponível a todos deve haver outro karuna mais especial, onde o Senhor revela o segredo de Sua aparição e lila ao sadhaka. A chuva pode cair em toda a parte, porém ela não vai beneficiar o oceano, as praias ou as pedras. Da mesma forma, o kripa inicial de Cheitanya Deva não frutificará no coração dos karmis, jnanis ou devotos neófitos a menos que o solo fértil de laula (avidez) seja acrescentado. Shrila Kaviraja Gosvami cita o seguinte:

krishna bhakti rasa bhavita matih
kriyatam yadi kuto pi labhyate
tatra laulyam api mulyam ekalam
janma kori sukritair na labhyaate
Cc. Madhya 8

"A disposição de se absorver plenamente nas doçuras não podem ser obtidas meramente pelas atividades piedosas nem por milhões de nascimentos. Ela pode apenas ser comprada por um único preço: laulam (avidez intensa). Onde estiver disponível a pessoa deve comprá-la imediatamente."
Laulam e o anteriormente discutido lobha são idênticos. Apenas quando lobha desperta o devoto se torna elegível para adotar Raganuga Sadhana. Nada mais é necessário. E Shri Rupa outra vez confirma essa mesma conclusão, nos seguintes dois slokas:

Tatra adhikari ragatmikaiknistha ye vrajavasi janadaya
tesam bhavaptaye lubdho bhavedatradhikaram (B.R.S. 1/2/291)

"Qualquer um que ouça sobre o nishta resoluto dos associados Ragatmika Vrajas de Krishna, e a partir dessa audição fica ansioso de alcançar essas doçuras - apenas ele é elegível para executar Raganuga bhakti sadhana."

‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬

quarta-feira, 18 de junho de 2014



       Akiñcana Krsna dasa Babaji Maharaja 
                  Um Querido Irmão Espiritual de Srila Swami Prabhupada

                                            (por Hrsikesananda das)
 

Queridos Krsna-bhaktas, 

Por mais de 6 anos (1968-1973), pude ter uma associação muito próxima com Paramahansa Krsnadas Babaji Maharaja e pude particpar de mais de 2.500 dos seus maravilhosos kirtanas. Vou lhes transmitir algo que escrevi sobre Srila Krsnadas babaji Maharaja. Espero que vocês gostem dessa pitada de Hari-katha.
Paramahansa Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja era a alegria de todos os associados do grandioso Sarasvati Thakura. Ele era o favorido de todos os seus irmãos espirituais e sempre lhes dava o seu sorridente “Hare Krsna.”
Em 1968, Paramahansa Akincana Krsnadas Babaji Maharaja estava acomodado na Gaudiya Math em Vrindavana, liderada por Srila Vana Maharaja, e lá permanecia no seu “bhajana kutir,” o que fazia todos os anos  passava por lá uma temporada de 4 a 5 meses  durante o verão. No inverno ficava em Navadvipa. Dormíamos no telhado nas noites quentes do verão e jamais o vimos dormir. Ele passava a noite inteira fazendo preces, bhajana em silêncio e cantando. Vivia sempre sorridente e sempre dizendo “Hare Krsna!” com grande exuberância, algo que jamais pude ver alguém imitar.
Ele era quem tinha um caráter mais parecido com o dos Goswamis. Parecia com o que podemos imaginar como eram Sanatana e Rupa Goswami em Vraja. Foi o único devoto que pude testemunhar que vivia derramando lágrimas enquanto liderava o kirtana sem ficar com a voz embargada. Ele foi o maior líder de kirtana do universo! Todos os devotos das várias Gaudiya Maths concordam que o próprio Senhor Caitanya aparecia pessoalmente para se juntar ao kirtana de Babaji Maharaja. Enquanto ficava no asrama de Vana Maharaja em Vrindavana, sempre liderava o kirtana que começava as 4:30 da madrugada. Sempre tocava mridanga, quer no kirtana, quer solitário enquanto cantava para as Deidades.
As Deidades do bhajana-kutir eram o Senhor Caitanya, Sri Govinda no centro e Srimati Radhika ao lado. Também havia uma sila de Govardhana e uma Salagrama, que eram adoradas diariamente com as Deidades principais. O padrão do puja era de primeira classe. Havia uns 10 ou 15 residentes no asrama, com idades variando de 18 a 80 anos. Todos ou eram brahmacaris ou sannyasis. Akiñcana Krsnadas era o único Babaji que regularmente ficava no bhajana-kutir. Durante o dia, depois do kirtana do meio-dia, Babaji Maharaja descia para uma cômodo subterrâneo que Vana Swami havia construído há alguns anos atrás. O local era bem fresco. Por isso todos os anos Babaji Maharaja passava a tarde toda ali naquele subsolo cantando sua mala; ele também fazia a contagem das suas voltas.
Babaji Maharaja não tinha nenhum dente. Ele era um velho discípulo bengali de Sarasvati Thakura, que segundo dizem, havia ido viver isolado em Haridwar depois do desaparecimento de Gurudeva. De qualquer maneira, isso havia sido há muitos anos atrás. Quando o conheci pela primeira vez estava com cerca de 70 anos. Não podia passar em sua mente coisas como fazer discípulos, coletar dinheiro ou construir templos e ele nunca, jamais, criticou ninguém. Sua única preocupação era cantar o tempo todo; quer no kirtana quer na japa. Quando falavam com ele, sempre respondia com um sorridente “Hare Krsna!” Costumava ter em sua face um olhar alegre, como se tivesse acabado de ouvir a maior piada e prestes a explodir de rir. E quando alguém dizia Hare Krsna para Babaji, ele gargalhava da maneira mais contagiante. Sempre que dizia Hare Krsna ria do seu jeito alegre com o mantra. Nunca pude ver prema-bhakti como o exibido por Krsnadas Babaji Maharaja. Todos os devotos da Gaud…ya Matha ficavam muito contentes quando Babaji Maharaja vinha ficar com eles. Era época de “uttama -kirtana!”
Em 1968 para me “proteger” de ser mandado para o Vietnam, fui para a colina de Govardhana fazer parikrama. Para a minha grande boa fortuna, fui acompanhado por Babaji Maharaja que também queria ir visitar Govardhana. No caminho paramos em Nandagram, onde ficamos por uma semana no bhajana-kutir de Sanatana Goswami (não tinha eletricidade, água e nem latrina). Passávamos o tempo fazendo ‘madhukari’ dos vrajabasis locais e exclamando: “Radhe Syama!” Cantávamos, e explorávamos a casa de Nanda Maharaja. Babaji Maharaja não falava coisa alguma, só dizia “Hare Krsna!” e eu também não falava o bengali naquela época, por isso o nosso relacionamento inicialmente era só na base do “Hare Krsna!”
De lá fomos para Varsana, onde ele me apresentou para a própria Sriji. Mas devido à minha cegueira material, só pude ver as encantadoras Deidades. Também passamos alguns dias no Man-mandira com um siddha-purusa chamado Radha-charan Das Babaji. Ele é uma das almas mais elevadas que jamais pude conhecer.
Depois de alguns dias finalmente chegamos na colina de Govardhana, mas descemos do ônibus (por insistência do Babaji) antes de ele se dirigir para a colina no ponto final. Bem cedo na manhã seguinte, depois de nos banharmos no Syama e no Radha-kunda, demos a volta em Govardhana descalços, carregando nosso saco de dormir e cantando pelo caminho. Às vezes Babaji Maharaja, enquanto cantava dava gargalhadas e às vezes parecia triste como se tivesse perdido Krsna. Assim como Srila Prabhupada, Babaji Maharaja nunca perdia um único segundo fora da consciência de Krsna. No final da tarde terminamos o parikrama e voltamos para o Radha-kunda para passar a noite. No dia seguinte voltamos para Mathura de ônibus e de lá fomos para Vrindavana de tonga.
Exsitem inúmeras histórias nectáreas associadas a Govardhana e aos dois kundas. Nos anos seguintes, para lá retornei inúmeras vezes. Mais tarde, num outro parikrama de Govardhana com Babaji Maharaja, tenho vergonha de confessar que cantava tão mal que ele foi forçado a quebrar o seu silêncio habitual.
O Samadhi de Akiñcana Krsnadas Babaji em Nandagram
O sagrado bhajana-kutir de Sanatana Goswami fica na beira do eterno lago de Pavan-sarovar. Esse kunda é muito especial porque Sri Krsna toma banho ali todos os dias. Dizem que um banho matinal no Pavan-sarovara concede a liberação da prisão material para sempre (pelo menos um shira-snana). Todos os devotos devem se banhar diariamente nesse sarovara. É um lugar encantador.
Junto a esse asrama austero há um tirtha muito sagrado, o samadhi de Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja, que é o irmão espiritual de “bhajana-anandi” de Srila Swami Prabhupada. É interessante notar que os dois únicos discípulos de Srila Sarasvati Thakura que estão citados no livro “Gaudiya Vaisnava Samadhis’s in Vrindavana,” de H.H. Mahanidhi Maharaja, são o de Srila Prabhupada (que atuava como o gostya-anandi mais capacitado) e o de Krsnadas Babaji Maharaja (que era o bhajana-anandi mais elevado).
Nandagram é o lila-stali que, dentre todos os demais, Babaji Maharaja escolheu para abandonar o seu velho corpo. Alguns devotos acreditam que Babaji Maharaja é um associado eterno de Sri Krsna em sakhya-rasa. Apesar dele nunca ter dito isso, lembro-me dele cantando em Madhuvana uma canção em hindi sobre os amigos de Krsna, com lágrimas caindo de suas faces  sem perder a voz!
No seu samadhi há uma grande pintura de Babaji Maharaja, parecendo triste. Na verdade não me lembro de jamais tê-lo visto com aquela fisionomia. Sempre lembro dele sorridente e muito feliz. Era tão humilde que tínhamos medo de oferecer-lhe reverências, porque ele sempre as retribuía. Ele nunca aceitava reverências. Vocês pode imaginar um Babaji vaisnava como ele prestando reverências para um prakrta-bhakta e ex-comedor de carne como eu? Não era digno de sequer lavar os seus pés.
Permitam-me falar um pouco mais sobre Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja. Uma vez ele estava levando um grande grupo de sankirtana pelas ruas de Vrindavana. Era o meio do verão de Vrindavana! Quando chegamos no Gaudiya Math de Bhakti-Saranga Goswami, Babaji Maharaja desmaiou. Todos pensávamos que ele havia morrido, por isso continuamos a cantar e o levamos para o asrama de Bhakti Saranga Maharaja no Amalitala. Finalmente Babaji Maharaja voltou a si e estava passando por uma indisposição estomacal. Quando sentiu-se melhor, pediu que continuássemos, e que iria nos encontrar mais tarde. Foi o que fizemos, e na primeira esquina, lá estava Babaji Maharaja com sua mridanga na mão, com um fulgor na sua face.
Numa outra ocasião, estava seguindo Babaji Maharaja fazendo o parikrama de Giriraj Maharaja. Em tantos anos que passamos juntos, jamais o ouvi falar tanto. Uma vez perguntei:
Babaji Maharaja, é verdade que o senhor está em sakhya-rasa?
Ele respondeu:   HARE KRSNA!
Mesmo quando se encontrava com seus irmãos espirituais, sempre sentava-se aos seus pés e simplesmente exclamava sorridente:  Hare Krsna!
Era só o que dizia. Naquela ocasião passamos por um devoto que estava fazendo o parikrama de 108 dandavts por Govardhana, quando de repente, Babaji virou para mim e disse:  Ucharan Koro! (pronuncie o santo nome corretamente!).
Meu cantar era tão pobre que Babaji teve que quebrar o seu silêncio.
Como já mencionei, Babaji Maharaja nunca dormia. Estava sempre desperto a noite toda, fazendo bhajana; pelo menos durante o verão enquanto ficava em Vrindavana com Srila Vana Maharaja. A primeira coisa que fazia de manhã era liderar o kirtana com muitas melodias tradicionais da Gaudiya Matha. Depois, lia o Caitanya-caritamrita (em bengali), sentava-se sozinho diante das Deidades e cantava infindáveis bhajanas muito doces por algumas horas. E também recitava muitos versos, que sempre começavam com os Guru-vandanas. Durante a tarde ficava no subsolo e cantava a japa. Costumava servi-lo ali e nunca o vi dormir. A noite liderava outro kirtana e depois da prasadam ia sentar no telhado para orar, a noite toda! A melhor maneira de descrever Babaji Maharaja é um sorridente “Hare Krsna!”
Uma vez por ordem de Srila Vana Maharaja, Babaji Maharaja pegou uma pedra de Govardhana e a deu para mim. Mais tarde, enquanto adorava a sila, comecei a praticar ‘manasa-seva’ (serviço mental) enquanto oferecia bhoga. Srila Vava Maharaja havia me dito para não tentar me visualizar, e sim apenas visualizar as descrições das lilas do Casal Divino. Quando ao meu seva, fui instruído para apenas ‘visualizar as minhas delicadas mãos’ enquanto fazia o serviço e ficar atento, sendo um observador das lilas fidedignas.
Depois de uns seis meses de prática, um dia um macaco de Vrindavana entrou no meu quarto (durante o meu canto/meditação) e jogou a sila no chão. Srila Vana Maharaja ficou perturbado com aquilo e mandou que eu colocasse imediatamente a sila dentro do templo e que parasse de tentar fazer manasa-bhajana devido à minha condição de prakrita-bhakta.    

 ‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬

terça-feira, 17 de junho de 2014



 Um Método de Práticas Devocionais Fidedígnas

Primeiro devemos conhecer a nossa meta, o nosso objetivo e depois devemos saber como alcançá-lo começando por sraddha:

adau sraddha tatah sadhu-sango ‘tha bhajana-kriya
tato ‘nartha-nivrittih syat tato nistha rucis tatah
athasakis tato bhavas tatah premabhyudañcati
sadhakanam ayam premnah pradurbhave bhavet kramah

“A progressão do desenvolvimento de bhakti no sadhaka até o aparecimento de prema é a seguinte: começando com fé (sraddha), segue-se a associação com os devotos (sadhu-sanga), prática de atividades devocionais (bhajana-kriya), cessação de hábitos indesejáveis (anartha-nivritti), firmeza (nistha), gosto (ruci), apego (asakti), bhava (o estágio que antecede o amor a Deus) e então finalmente surge o prema (amor puro por Krsna).”
(Bhakti-rasamrita-sindhu, 1.4.15-6)

pradurbhave bhavet kramah:  (1) por ouvir os sastras, aparece paramarthika sraddha, ou a fé transcendental ­ suddha-sraddha. A palavra sraddha aqui se implica firme convicção do significado dos bhakti-sastras tais como o Srimad Bhagavatam, o Bhagavad-gita, o Sri Bhakti-rasamrita-sindhu e assim por diante. (2) Com o aparecimento dessa sraddha, alcança-se sadhu-sanga, e na companhia dos sadhus, começamos a receber instruções sobre os métodos de se executar bhajana. (3) Depois disso, assumimos a prática de bhajana (bhajana-kriya) começando com sri-guru-padasraya e assim por diante. (4) Pela dedicação constante em bhajana, os anarthas vão desaparecendo gradativamente (anartha-nivritti). (5) Essa eliminação dos anarthas ocorre em diversos estágios. À medida que nos tornamos livres dos  anarthas, alcançamos nistha e a isenção de todas as distrações (viksepa). Os estágios de ekagrata (uni direcionado) e nairantaryamayi (esforço incessante) vão surgindo com a prática de bhajana. (6) Depois surge ruci (gosto) ou, em outras palavras, uma avidez intensa (lalasa) para o desenvolvimento do bhajana. (7) Quando ruci se torna bem profundo isso se denomina asakti. A diferença entre nistha e asakti é que nistha envolve a aplicação da inteligência, enquanto que asakti é espontâneo. No estágio de nistha, mesmo que a mente não se sinta atraída, a inteligência faz com que permaneçamos dedicados à prática de bhajana. No entanto, quando chegamos ao estágio de asakti, não dependemos mais de nenhum tipo de racionalismo que surge do emprego da inteligência. Nesse estágio estamos profundamente imersos na realização de bhajana de maneira espontânea. (8) Depois do estágio de asakti, surge bhava ou rati. (9) No estágio final se manifesta prema.
Essa é a ordem dos estágios que conduzem ao aparecimento de prema no coração do sadhaka segundo o Bhakti-rasamrita-sindhu. Devemos compreender essas verdades todas e então adotar o processo correto. E ao mesmo tempo não devemos pensar que não existem devotos que estejam qualificados para se lembrarem do seu siddha-deha. Seguramente existem devotos puros nesse mundo e devemos tentar não perturbá-los criticando-os.
Obviamente que eles não serão perturbados, mas nós o seremos. Não obtemos qualquer vantagem ao tentar rebaixá-los artificialmente ao nosso nível. Podem haver milhares de devotos que estejam qualificados para essa perfeição e que estão agindo de acordo com esta perfeição no presente momento. Nossa meta deve ser a mesma que a deles, mas não devemos imitá-los. Devemos ser pacientes e nos dedicarmos sinceramente ao sadhana e bhajana, então obteremos automaticamente todas as perfeições (siddhas) espirituais.
Vocês já ouviram falar de nama-gane sada ruci? Esse é um sintoma
daqueles que alcançaram bhava-bhakti. nama-gane sada ruci, laya Krsna-nama “Por sentir um grande gosto pelo santo nome, o devoto fica inclinado a cantar o mahamantra Hare Krsna constantemente.” (C.c. Madhya, 23.32)

Parte de uma aula de Srila Narayana Maharaj dada na França, em 1997