terça-feira, 4 de novembro de 2014

 A Doutrina Sahajiya 


Prakrita-sahajiyas são aqueles que imaginam que a lila aprakrita (espiritual) do aprakrita Bhagavan é como as atividades mundanas (prakrita) de homens e mulheres comuns e assim, julgam que a aprakrita-tattva é alcançada com um sadhana material. 

Eles são contrários aos ensinamentos do aprakrita acarya Srila Rupa Gosvami e se imaginam como sendo gopis. Decoram o corpo material grosseiro e inerte, um corpo masculino, com vestes de mulher e realizam bhajana com esse gopi-bhava imaginário. Aqueles que agem assim são chamados prakrita-sahajiyas. 

Mantendo no coração um sentimento masculino, essas pessoas externamente se vestem e agem como mulheres, com cabelos longos, anéis no nariz, longos véus, saris, camisetas, corpetes, anáguas, cintos com pingentes, tornozeleiras, ornamentos de ouro e tudo mais. Eles se apresentam pelos nomes de Lalita ou Visakha. Com o pretexto de realizar parakiya-bhajana, mantêm moças nos seus asramas como criadas e mantêm relacionamento sexual impróprio com elas. Essa conduta é contrária às escrituras. 

Outros não adornam seus corpos masculinos com vestuário de mulher, mas são favoráveis à opinião de quem age assim. Com gestos de galanteios, cantam os relacionamentos confidenciais de Rai-Kanu (Radha e Krisna) diante de qualquer platéia, geralmente pessoas comuns em lugares públicos, sem levar em conta a elegibilidade da audiência. 

Dão conferências pretenciosas sobre a rasa-lila e também imitam a rasa-lila. E assim, por libertinagem, confudem a aprakrita-rasa com a jada-rasa (material). Acreditam que é absolutamente necessário ter a companhia da mulher de outro homem como uma amante ilegal, para poderem praticar a aprakrita-rasa. 

Além do mais, acham que Sri Jiva Gosvami e Srila Narottama µhakura não podem ser rasikas, porque Sri Jiva Gosvami era um brahmacari desde a infância e Srila Narottama µhakura nunca teve vida conjugal. Essas pessoas também estão na categoria de prakrita-sahajiyas. 

Externamente Sriman Mahaprabhu era um homem, mas interiormente costumava nutrir o humor de uma gopi no serviço a KrisŠa. Essas pessoas agem de forma complemente contrária a Sri Caitanya Mahaprabhu. Internamente mantêm um humor masculino e externamente tentar cobrir o corpo com o vestuário de uma gopi. Sri Caitanya Mahaprabhu explicou que gopi-bhava é o dharma do atma, mas os prakrita-sahajiyas acham que gopi-bhava é o dharma do corpo. 

antare nistha kara bahye loka-vyavahara 
acirat krisŠa tomaya uddhara 
(Sri Caitanya-caritamrita, Madhya 16.239) 

mane nija-siddha-deha kariya bhavana 
ratri-dine kare vraje krisnera sevana 

(Sri Caitanya-caritamrita, Madhya 22.152) 

Aqui Sri Caitanya Mahaprabhu está dizendo que no início devemos nos tornar nistha (ter fé muito firme), com uma atitude introspectiva, adotando o comportamento de pessoas comuns para poder manter a subsistência. Lentamente, paulatinamente, conforme a fé vai amadurecendo, as atividades mundanas também acabam fazendo parte do bhajana; isto é, elas se tornam favoráveis ao bhajana. 

Nessa condição, deve-se meditar no siddha-deha concebido interiormente que é adequado para o serviço ao Casal Divino e com o âmago do coração se dedicar ao aprakrita manasi-seva a Sri KrisŠa. Seguindo esse processo, primeiro se obtém svarupa-siddhi (a realização do corpo espiritual eterno) e finalmente, no estágio de vastu-siddhi na Vraja prakata, depois de abandonar o corpo material, recebe-se o corpo de uma gopi, correspondente ao siddha-deha concebido internamente. 

No que diz respeito ao tema de raganuga bhakti-sadhana, Srila Rupa Gosvami disse: 

krisnam smaran janañ casya prestham nija samihitam 
tat tat katha ratas casau kuryad vasam vraje sada 

seva sadhaka-rupena siddha-rupena catra hi 
tad bhava lipsuna karya vraja-lokanusarataƒ 

sravanotkirtanadini vaidhi-bhakty uditani tu 
yanyagani ca tanyatra vijñeyani manisibhih 

“Deve-se sempre residir o tempo todo em Vraja, lembrando Sri Krisna e os Seus associados queridos que se deseja seguir e deve-se manter-se dedicado em seu lila-katha. Se for incapaz de residir em Vraja diretamente, o aspirante deve residir em Vraja mentalmente. No caminho de raganuga, deve-se seguir os associados de Krisna e seus seguidores, sempre permanecendo absorto em seu serviço. Isso deve ser feito com o sadhana-rupa (corpo material externo na condição atual) e também com o siddha-rupa (com o corpo concebido interiormente capacitado a realizar o tipo de serviço que o coração anseia). Deve-se ansiar pela bhava, ou sentimento amoroso específico do associado de Krisna em Vraja a quem se aspira seguir. Os eruditos no assunto de bhakti-tattva esclarecem que em vaidhi-bhakti se recebe a instrução de observar os processos de bhakti tais como sravaŠa e kirtana de acordo com a adhikara (elegibilidade). Essas instruções também se aplicam em raganuga-bhakti.” 

Nem Sri Caitanya Mahaprabhu e nem Srila Rupa Gosvami, que satisfez o desejo íntimo do coração de Mahaprabhu, deram qualquer instrução dizendo que os sadhakas de sexo masculino deveriam esconder a sua condição masculina vestindo-se de mulher, usando tranças, usando véu, corpete, anágua e outros acessórios para o vestuário feminino e depois praticar raganuga-bhajana com a esposa dos outros. Ao invés disso, eles disseram que estas atividades são abomináveis e que são contrárias aos sastras. 

Sriman Mahaprabhu rejeitou Chota Haridasa e estabeleceu um ideal elevado para os praticantes de bhakti. Este mesmo ideal imaculado também foi estabelecido pelos Seis Gosvamis. Nos livros de Srila Rupa Gosvami como o Sri Bhakti-rasamrita-sindhu e Sri Ujjvala-nilamaŠi , ele deu instruções para se realizar sadhana-bhajana seguindo de perto os passos dos srutis (dos Vedas personficados) e dos sábios de DandakaraŠya. Sri Svarupa Damodara, Sri Raya Ramananda, Srila Raghunatha dasa Gosvami, Sri Jiva Gosvami, Sri Narottama Thakura, Srila Visvanatha Cakravarti Thakura e tantos outros são exemplos vívidos desse bhajana. Como suas vidas foram puras! É muito adequado que os suddhas-bhaktas sigam os passos dessas grandes personalidades espirituais. 

Srila Bhaktivinoda Thakura disse o seguinte em seu ensaio denominado “A Depravação da Doutrina Sahajiya”: 

— Uma ideologia repugnante está se espaldando insinuosamente em inúmeros locais da Bengala. Todas as atividades e a conduta prescritas pela doutrina sahajiya são extremamente corruptas e desprezíveis. A jiva é cinmaya (espiritual) e o seu único dharma natural é o serviço cinmaya a Krsna. A palavra sahaja significa saha-ja; ou seja, aquilo que surge junto com o atma. O serviço transcendental a Krsna é sahaja (natural) para o atma puro, porque ele surge dentro da jivatma e portanto tem natureza inerente a ela. No entanto, ele não é natural no estágio condicionado de existência material. 

Os sahajiyas se enganam a si mesmos e aos outros e ficam privados do seu amor puro e natural por Krsna, porque transformam a união do homem com a mulher em um suposto dharma natural mundano. Mas o que na verdade ocorre, é que no dharma natural do atma a união grosseira entre corpos masculinos e femininos é extremamente repugnante, depravada e imprópria. O que hoje em dia se denomina sahajiya-dharma é algo  completamente imoral, contrário ao comportamento santo e oposto ao sastra. 

Os suddha vaisnavas devem ser extremamente cuidadosos quanto a isso. Este dharma onde é costume aceitar mantra pelo ouvido esquerdo é uma depravação total. 

Em nenhum local das escrituras encontramos instruções do tipo: “Devemos nos associar com uma mulher para alcançar Vrajendra-nandana.” 

Ao entrar em madhurya-rasa a minúscula jiva consciente alcança a sua condição natural. Portanto não há a necessidade de ela se associar com qualquer coisa dentro na natureza material inanimada. Chota Haridasa, sendo prakriti (feminino), foi rejeitado por Sri Caitanya Mahaprabhu por cometer a ofensa de se assumir purusa-bhava, ou o humor de um macho, com outra prakriti. As pessoas licenciosas criam o caminho da sua própria gratificação sensorial (veja o Antya-lila 2.117), mas os suddha vaisnavas as negligenciam. 

A associação com uma mulher não é parte do bhajana nem mesmo para os chefes de família, por isso essa associação com mulheres tem sido aceita de maneira regulada, livre de pecado, para se manter a vida de chefe de família. 

A opinião dos vaisnavas puros é que sadhakas do sexo masculino devem realizar bhajana e manterem-se separados de sadhakas do sexo feminino. Uma sadhaka de sexo feminino não deve convidar nenhum homem para fazer parte das suas atividades de bhajana. Bhajana é uma atividade  completamente espiritual. Quando até mesmo um indício de sentimento mundano tem acesso a ele, o bhajana se arruina.” 

Extraído do "Sri Srimad Bhakti Prajñana Kesava Goswami — His Life and Teachings" de Srila Bhaktivedanta Narayana Maharaja

‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬