terça-feira, 5 de fevereiro de 2019


Vidagdha Madhava de Rupa Gosvami
UM EXEMPLO VÍVIDO

Iremos agora estudar o modelo da perícia dos Gosvamis em descrever os romances amorosos de Radha Krishna sem incitar a luxúria material.
O excerto foi selecionado do Vidagdha Madhava de Shri Rupa Gosvami que se compara ao 'Premananda-rasa-uttal-taranga-maya maha sagar' (o grande bater do oceano de prema rasa repleto de elevadas ondas das variadas doçuras transcendentais). Aqui, todos os 64 kalas ou aspectos intrincados do Natya shastra, se mesclam para elucidar o sidhanta por detrás de várias expressões de Vraja prema dharma. Por exemplo, o sistema rasa shastra primeiro explica o Purva Raga (o estágio antes do encontro) da Nayika (heroina). Assim, no primeiro ato, Shri Rupa descreve o anuraga de Radharani, ou extrema ansiedade, pela união com Krishna em três aspectos:

1.   Nama anuraga - A intensa atração de Shri Radhika pelas duas sílabas, Kri - shna. (Após ouvir o verso de Shri Rupa): "Eu desejo milhares de línguas e milhares de ouvidos para saborear e ouvir os nomes de Krishna, etc." mesmo Haridasa Thakura ficou estupefato diante dessa extrema atração pelo nome de Krishna!)
2.   Guna Anuraga - A mente de Radharani foi roubada pelas inúmeras qualidades de Shri Krishna, começando com o chamado melodioso de Sua flauta.
3.   Rupa anuraga - a aguda e forte cativação de Radharani pela forma do quadro de Krishna trazida por Vishaka Sakhi.
Devido a extrema força do ataque de Krishna prema em Radharani, ela conclui:
- "Como é isso, eu, uma mulher recém casada, de repente fiquei enlouquecida por três outros homens de uma só vez! Primeiro fiquei atraída por uma pessoa cujo nome é Krishna . em segundo lugar, um assombroso tocador de flauta roubou minha mente. E, ó Vishaka, quando você trouxe a pintura desse encantador e jovem vaqueirinho para abrandar minha febre, ai de mim, isso só aumentou minha dor mil vezes mais. O que posso fazer agora? Decerto minha única saída é o suicídio!"
Ao ouvir o apelo de Radharani, Shri Lalita com ternura a conforta com as seguintes palavras:
·       ‘Oh, Sakhi, os três homens que você mencionou com tanta culpa são de fato uma única pessoa – Shri Gokulananda!’
Em seguida, quando Paurnamasi (a própria Yogamaya, e a mais sênior e respeitada senhora de Vrindavana) e Mukhara (avó de Radharani) observam os humores incomuns e sintomas corpóreos de Shrimati, elas concluem que isso não tem outra causa além do navina-cupido Shri Madan Mohan de Vrindavana:
·       "Veja só que incrível é o efeito do nava-anuraga. Ele assalta sua vítima, entra no coração e simultaneamente traz efeitos múltiplos, sinuosos e doces". Paurnamasi, então falou a Nandimukhi:
·       O anuraga de Radha de natureza excepcionalmente profunda se quebra em ondas que perturbam Sua mente e coração. Veja o que acontece aqui: após desapegar a mente de pensamentos mundanos, os munis e sábios tentam com tanto empenho fixar-se na meditação em Shri Krishna, nem que seja por um único instante. Todavia, essa jovem moça, embora desesperadamente tente esquecer de Krishna e ocupar Sua mente nos deveres habituais de dona-de-casa, não consegue; isso é muito incrível!’"
(Em outro local não distante, o purva–raga o estágio antes do encontro do casal) de Shri Krishna também está acontecendo. Krishna entra ansiosamente e muito introspectivo):
Krishna: "Desde que essa amorosa forma apareceu de repente e iluminou Meus olhos como um relâmpago, desde o primeiro segundo que recebi o darshan de Shri Radhika, Minha mente ficou estonteada! Eu me tornei como um iogui que sacrificou todos os tipos de apegos em prol de seu objetivo."
Madhumangala entra trazendo uma guirlanda de flores. Vendo Krishna ele pensa: -Por que meu querido amigo está tão deprimido hoje? Deixe ver o motivo de seu estado."
(após andar em volta de Krishna por alguns momentos ele conclui pensando alto):Sempre que Krishna olha para a videira dourada champak, Seu corpo treme. Eu creio que a forma dourada de Shri Radhika tornou-se impressa em Seu coração como se fosse uma tilaka".
Madhumangala: (oferecendo a guirlanda de flores para Krishna fala):
·       Ei, sakha! Pegue esta puspa mala (guirlanda de flores)"
(Krishna começa a murmurar como se não tivesse ouvido) "O brilho resplandecente do corpo de Shri Radhika pode ser comparado com uma macia montanha dourada. Quando ela se tornará o ornamento de meu peito que é como uma nuvem?"
Madhumangala (pensando alto): "Exatamente o que eu pensei aconteceu." (então ele fala com Krishna ) :
- Madhumangala : "Ei sakha! Estou aqui a Sua frente (agora gritando) Você não está percebendo o que está acontecendo?"
·       (Krishna responde escondendo Seus sentimentos): "Oh Madhu, eu me atrai pela beleza da guirlanda de flores e não percebi você aqui!"
·       Madhumangala : "Meu querido amigo, sei que Você fala a verdade; mas a champak mala (guirlanda) que Você viu não é esse objeto inanimado - Ela é uma entidade móvel!". Shri Krishna: "ó sakha, como poderia uma guirlanda de flores se mover de um lugar para outro?"
·       "Querido amigo, por que Você não deixa de lado Sua natureza de querer me enganar por um momento e revele os pensamentos que passam por Sua mente? Fale francamente o que pertuba tanto Você?"
·       (Krishna sorrindo levemente): oh sakha! Eu apenas esperava a sua guirlanda de flores."
·       "não é a mala (guirlanda), e sim a bala (jovem moça) que Lhe deixa nessa condição dolorosa, por que Você não fala francamente comigo e confessa."
·       "Oh Madhu, suas suspeitas não têm fundamento."
·       "Meu querido amigo! Suas penas de pavão caíram de sua coroa e estão espalhadas pelo chão. Quando eu coloquei essa mala em volta de Seu pescoço, Você nem notou. Ei romantico amante que é como um elefante da floresta de Vrindavana! Eu posso ver bem que os dois olhos de abelha de Shrimati Radharani abalaram Sua calma!"
·       (Krishna pensando): "Esse Meu hábil amigo já entendeu tudo. Bem, acho melhor contar a verdade a ele". (agora falando com Madhumangala): "Oh querido amigo, suas suspeitas estão corretas. Do mesmo modo como a lua cheia do verão faz com que o fluxo do rio Ganga vá para trás, os pensamentos constantes de Radha são a causa de Minha angustia mental."
·       Madhumangala: "Decerto, Você deve ter dado uma boa olhada em Shri Radhika?"
·       Krishna: "Sim, eu dei e além disso também ouvi tudo a respeito das qualidades dEla de Subala (o irmão mais novo dela)." Nisso Ele começa falar com muito cuidado) "oh sakha! Radharani estava lá de pé na estrada, e Sua refulgência corpórea iluminava todas as direções, de repente, como se estivesse instruindo a gazela como se deve fazer olhares atrativos, Seu belo olhar parou em Mim. Assim que Eu comecei a admirar a graça irresistível de Radharani, o cupido se zangou e Me estraçalhou com suas flechas de flores!"
·       Madhumangala: "Então, Você conseguiu se encontrar com ela?"
·       Krishna: "Não, não sakha! Eu só pude colocar Meus olhos a distância na face dEla que é como a lua, aí, Minha mãe chegou e Me levou para jantar."
·       Madhumangala: "Querido amigo, existem jovens gopis belíssimas em Vrindavana, nem se pode contá-las, por que Você deveria se preocupar só com Shri Radhika?"
·       Krishna: "Oh sakha, Ela possui uma doçura incomum muito elevada. Para ser sincero com Você, desde que vi a candura dos olhos e rosto de Shri Radha, me aborreço quando vejo a beleza inferior da lua ou da flor de lótus."
·       Madhumangala: "Estou achando que o anuraga por Ela nasceu já à primeira vista (darshan); mas por que ficar aí falando, falando o tempo todo sobre ela?"
·       Krishna: "Oh sakha, o que posso dizer? Depois que passei a pensar constantemente nEla, estou vivenciando uma grande maravilha! Uma vez que o homem mais elevado não pôde resistir a Ela, concluo que Ela deva ser também alguém muito elevado. Quem questionaria a pureza do local onde o gamo negro (Shri Krishna) passeia?"
(Enquanto esse diálogo ocorre, Lalita e Vishaka entram na floresta levando uma carta de Radha para Krishna)
Lalita: (fala de longe): "oh Vishaka você está vendo o filho de Nanda Maharaja em alguma lugar?"
Krishna : "Oh Madhu, o som de vozes de jovens vaqueirinhas está se aproximando, vamos ficar quietos e esperar."
(Lalita e Vishaka entram)
Lalita: "Oh, que boa sorte! Olhe, Krishna está aqui bem diante de nós: vamos nos aproximar dEle. Jaya Gokulananda! Todas as glórias a Você!"
Krishna : "Lalita, posso deduzir que Você se aventurou nesta floresta de Vrindavana para transmitir alguma mensagem afetuosa?"(Krishna falou com duplo sentido, o outro é que ‘Posso ver que você veio entregar uma mensagem afetuosa.’)
Lalita: "Considerando que Você já sabe o motivo de nossa vinda, por que Você finge que não sabe o assunto? Aqui está, pegue está carta escrita com o liquido extraído do pólen das flores karnika." (Dizendo isso, ela coloca a carta de amor de Radha nas mãos de Krishna ).
Krishna: (pensando) "oh aflito coração! Seja paciente! Mantenha-se calmo, pois aqui repousa a semente florescente que desabrochará para satisfazer todos seus desejos!"
Madhumangala: "Lalita, por que você apenas está oferecendo a carta? Onde estão os pratos com os doces? "
Krishna : "Oh Madhu, por que você não lê em voz alta esta carta. Vamos ver se haverá prazer para os ouvidos?"
Madhumangala: "Meu querido amigo, eu só estou observando a hospitalidade da comunidade das vaqueirinhas! Por outro lado, devo mostrar respeito às brâmanes que me alimentam suntuosamente com quatro tipos de deliciosas preparações!"
(Dizendo essas palavras Madhumangala começa a ler a carta para todos ouvirem):
‘Oh simpático, Você habita o meu lar na forma de um quadro. Sempre que, por curiosidade olho para o quadro, sinto Você se manifestar e me impedir, à força, de escapar para qualquer direção em que possa ir!"
Krishna : "Oh sakha, o significado desse poema é muito difícil de alcançar; melhor você ler a carta outra vez."
(Madhumangala lê a sentença pela segunda vez)
Krishna : ( tomado de prazer, pensa )
"Por natureza as moças que nasceram em famílias de alta estirpe permanecem castas e tementes aos princípios religiosos. Porém, devo testar qual a força da atração que ela sente por Mim fingindo agora que estou desinteressado."
(Então Ele começa a responder)
"Oh Madhu, olhe! Você ouviu isso? Pense bem: Eu caminho em Vrindavana apascentando as vacas com esses afetuosos vaqueirinhos, e nem por um instante sequer encontrei tempo de pensar em mulheres. Agora, essas moças atrevidas tentam poluir nossas mentes, só o que posso fazer é denunciar o mau comportamento delas para o grupo das senhoras idosas de Vrajabhumi!"
(Fingindo estar irritado, Krishna se prepara para partir)
Madhumangala: (escondendo seu sorriso)
"Você está muito certo, oh Rei dos Bramacharis! Acho que Você deve castigar essas jovens moças audaciosas com suas palavras seletas!"
(Dizendo isso Madhumangala segurou as duas mãos de Krishna trazendo=O de volta)
As sakhis (Lalita e Vishaka olham uma para a outra com grande perplexidade).
Krishna "Oh Vishaka, será que Radharani possui olhos na nuca? Como ela pode afirmar que eu atrapalho seus movimentos em todas as direções? Decerto deve ser algum outro galanteador romantico que confundiu a mente dEla!"
Vishaka: Oh menino de olhos de lótus, será que em toda Vraja mandala há outro tão famoso e forte que pode fazer que a elevada montanha da castidade de uma mulher virtuosa balance? Todas nós testemunhamos Sua força natural quando Você levantou a colina de Govardhana."
Madhumangala: "Oh tagarela Vishaka, pare com esse falatório sem sentido! Eu mesmo vi com estes olhos todos os vaqueirinhos segurando Govardhana com seus bastões; assim por que glorificar unicamente o poder de meu amigo?"
Krishna : "Oh Lalita, você tem algo mais a dizer? Vocês duas podem ir caminhando agora."
Lalita: "Oh Sundar, se você traz auspiciosidade para todos os residentes de Gokula, por que deveria dar sofrimento só a uma pessoa – a bela e altamente qualificada Shri Radhika?"
Krishna: "Ei ingênua! Meu companheiro Madhumangala não pode suportar ao Me ver diante do perigo de desviar-Me do caminho da religião. Sridhama está sempre tentanto encobrir Minhas faltas. E outra coisa, os espiões de Kamsa Maharaja estão sempre na minha trilha. Assim como posso permitir esse desperdicio de tempo considerando algo sobre jovens e belas mocinhas?"
Lalita: (já irada)
"Nós ficamos escandalizadas! Nosso coração confuso arde! Portanto, hoje nós nos tornaremos convidadas de Yamaraja. Com certeza essa será a punição adequada para nós. Pobre coitada! Oh Shrimati Radharani! Que desafortunado maravilhoso amor é esse que teve que se deitar sobre este enganador e libertino, que é o número um em toda comunidade de vaqueirinhos!"
(Ao dizer isso ela sucumbe em lágrimas)
Madhumangala: "Oh inexperiente Lalita, você chegou a pensar mesmo por um minuto que Shri Krishna abandonaria seus votos estritos de celibatário depois de aceitar este erudito e altamente sábio (eu mesmo) como seu amigo? Portanto, essas suas lágrimas nesta floresta não a levarão a lugar algum!"
Vishaka: (pensa consigo mesma)
"Vou oferecer a Krishna a gunja mala (guirlanda de flores) de Radharani para poder perceber qual é o verdadeiro sentimento dEle"
Vishaka fala: " Deixe que este colar gunja atraente para a mente e de cor vermelha flamejante, cuja beleza se ressalta com brilhantes manchas negras, seja a decoração de Seu peito."
(essa frase tem duplo sentido, o outro sentido- "Shri Radhika está tomada de anuraga (profundo apego), e Ela fala constantemente o nome de Krishna. Ela é possuidora de todas boas qualidades e é encantadora para a mente; assim deixe que Shri Radhika adorne Seu peito!"
(Dizendo isso, Vishaka colocou a guirlanda (mala) de Radhika em torno do pescoço de Krishna).
Krishna: ( mostrando um leve sorriso e fingindo estar irado)
"Esta gunja mala pode ter uma atraente cor vermelha mas é desagradável; e embora seja bem feita é tortuosa. Porém, devido a que ela me lembra as Vraja Gopis, não me importo em usá-la."
(O significado íntimo dessa declaração é: "Radha pode ter anuraga por Mim em seu coração, mas externamente Ela é muito difícil de se lidar, além disso, embora possa ser que Ela seja inocente, o jeito externo dEla é muito tortuoso.")
(Ao dizer isso e fingindo não notar, Krishna tirou Sua própria rangan mala como se por engano e a colocou nas mãos de Vishaka)
Vishaka: ( cuidadosamente esconde a mala (guirlanda) debaixo de sua roupa) e pensa:
"esse engano de Shri Krishna é um sinal de auspiciosidade para nós"
Lalita: "oh Vishaka, você não testemunhou o comportamento deste bramachari impostor que brinca com milhões de Gopis nos kunjas da floresta de Vrindavana? Vamos voltar para Radha e aconselhá-la a não nutrir qualquer afeto por este depravado!"
Vishaka: "Oh Sakhi, você falou bem."
(dizendo isso, as duas afastam-se)
Lalita: "Oh Vishaka entregue esta prasadi rangam mala a Radhika e assim tente acalmá-la. Eu vou ter com Paurnamasi Devi e informá-la sobre a situação."
(dizendo isso elas saem)
Madhumangala: "Oh querido amigo, elas vieram a fim de submissamente oferecer o afeto de Shri Radha, mas Você indevidamente afugentou-as. Com essa atitude Você só conseguiu construir sua própria escada na elevada montanha do sofrimento."
Krishna: "Oh sakha, você está certo! Com Meus sorrisos e brincadeiras decerto cometi a maior das injustiças!"
Madhumangala: "Olhe, as duas sakhis já estão fora de nossa visão."
Krishna : (com grande arrependimento) "Oh não! Quando Radha de rosto de lua ouvir sobre Meu comportamento cruel o seu amor que está agora apenas nascendo por Mim acabará arruinado! E mesmo se ela passar por essa severa prova, ela será gravemente ferida, sem dúvida! Então outra vez, se o pecaminoso cupido obtiver sucesso em amendrontá-la com o som de seu arco, quem sabe, ela pode até se suicidar! Ai de mim! Que atitude precipitada; eu desenraizei a tenra videira do amor de Radha bem na hora que estava para dar fruto!"
Madhumangala; "O que fazer agora?"
Krishna : "O único recurso é escrever uma resposta a carta de amor dela!"
Madhumangala: "Sim, e com o que Você vai escrever a carta?"
Krishna: "Para subjugar amadas o suco pulverizado da flor vermelha jaba é o melhor!"
Madhumangala: "Sim, vamos já para Praskandan tirtha, lá temos um floresta inteira de flores jaba."
(Dizendo isso Madhumangala e Krishna saem. Enquanto isso Shri Vishaka devi chega diante de Radha para consolá-la.)
Radha: (chorando em profunda lamentação) "Ei Sakhi, eu sacrifiquei o temor a meus superiores, abandonei o dharma respeitável de mulheres castas e causei tanto sofrimento a você e minhas outras sakhis que são todas mais queridas para mim do que Minha própria vida; ainda assim não tive sucesso em obter o abrigo do doce abraço de Shri Krishna. Portanto, eu só posso condenar minha tolerância que insiste em manter viva uma pessoa pecaminosa como eu!"
(Dizendo isso Shri Radhika cai ao chão inconsciente)
Vishaka: "Oh priya Sakhi! Por favor, mantenha sua paciência e tente recobrar sua compostura."
(Ao dizer isso ela coloca a rangan mala de Krishna próximo ao nariz de Shrimati.)
Radhika: (retorna de repente a consciência)
"Oh Sakhi! Que incrível objeto é este que lança feitiço a quem olhe para ele? "
Vishaka: (oferecendo a mala-guirlanda- para Radha):
"Oh Sakhi, este mohan mala está untado com a fragrância corpórea do marido daquela flauta sedutora. Portanto, é a jóia de todos os objetos de atração, apenas o seu nome é um mantra de subjugação e simultaneamente, é o grande remédio para a obsessão hipnótica. Oh Radhe, devido a essas três potências inconcebíveis, quem não glorificará suas qualidades?"
Radhika pensando consigo mesma:
"Eu sou uma desavergonhada, porque apesar de ter sido rejeitada pelo filho altamente qualificado de Maharaja Nanda, esse corpo inútil permanece vivo; consequentemente, meu único abrigo são as águas profundas do Yamuna."
Agora falando alto:
"Oh Vishaka, informe os membros mais velhos da comunidade que quero executar surya puja no Dvadasa aditya-tirtha."
Vishaka: Oh querida, é muito bom você ter me lembrado isso, porque Jatila deu a mesma ordem. Vamos.
(Dizendo isso ambas saem)
Radhika falando em transe:
"Sakhi, embora Mukunda tenha me rejeitado, meu desejo é como o inimigo que se fixou em meu coração flamejante. Agora deixe que minha irmã Shri Yamunaji acabe com meu sofrimento para sempre!"
Vishaka: Oh Sakhi. Quando saímos de casa, você não observou os sinais auspiciosos; assim porque não animar-se por um momento?"
Radhika olhando para frente: "Oh Vishaka, olhe bem! Parece que o sol está se pondo na direção leste no momento errado do dia!"
Vishaka: "Não, esse não é o por do sol. E sim o brilho das flores jaba que estão desabrochando no praskandan Tirtha. Vamos para lá para colher algumas dessas flores para o Surya puja."
(Dizendo isso ambas seguiram para colher flores. Enquanto isso, Shri Krishna e Madhumangala entram)
Krishna: Oh sakha, a cor vermelha dessas flores jaba me lembram os lábios reluzentes de Shri Radhika, que roubaram Minha mente!!
"Madhumangala: "Tudo bem, por que você não extrai o suco de algumas dessas flores para escrever sua carta de amor."
Krishna (andando de lá para cá, fala com grande assombro):
"Olhe aqui! Como é que o pico dourado do monte Sumeru pode aparecer nessa floresta; que brilho refulgente é esse que ilumina todas as direções? (Após ouvir o tilintar dos sinos das tornozeleiras) Oh, agora eu compreendo: a própria forma da beleza personificada, Shrimati Radharani, deve estar se aproximando na companhia de Suas sakhis!"
Madhumangala: "Oh amigo, a corça que você estava tentando com tanta dificuldade pegar veio ela mesma cair na sua rede!"
Krishna (sentindo-se em júbilo) "Oh Madhu, você está certo! Vamos nos esconder atrás dos arbustos para ver o que elas dizem.
(Ambos se escondem)
Radhika (abraçando Vishaka com lágrimas rolando de Seus olhos)
"Sakhi, após Minha partida, por favor lembre dessa sua querida amiga de vez em quando."

Vishaka (derramando lágrimas)
"Oh Radhe! Você é conhecida de muitos como sendo tranqüila e calma, assim como você está tomada por essa tristeza?"
Radhika: "Aquele enganador esvaziou o meu coração de todas as boas qualidades! Ele cujo peito largo é perito em desviar o rio da compostura de mulheres respeitáveis, cuja face de lua faz com que as flores de lótus da castidade e da religião sequem, e cujos braços fortes são como dois bastões de incenso que inauguram o puja para destruir o recato das mocinhas. Ei Sakhi, que tragédia nós fomos envolvidas por esses olhares de rabo de olho dEle como serpente!"
Krishna conversando consigo mesmo, permanecendo escondido:
"Oh Priya, as qualidades de Madhava também foram reduzidas a nada pelo poder de sua doçura!
Radhika (de mãos postas e olhando para o céu):
"Oh destruidor de Putana, devido a minha inexperiência juvenil sempre permaneço em casa brincando, inconsciente do certo e errado. Será decente da Sua parte me abandonar dessa maneira sem abrigo? Oh matador de Putana, como você ousa permanecer indiferente? (Aqui Radharani chama Krishna de "Putana ghatin" assinalando que Krishna matou Putana, e Ele também a está matando; pois esse é Seu hábito desde a infância matar mulheres que se abrigam nEle).
Krishna (Krishna respondendo a declaração de Radha, murmurando para Si mesmo):
"Oh querida Radhe, desejando viver, deve alguém negligenciar o uso do remédio rejuvenescedor das trepadeiras das florestas divinamente poderosas!"
Radhika (suspirando profundamente):
"Oh Vishaka, pegue esse Meu colar precioso e coloque em volta de Seu pescoço. (Radha tira Seu colar e o entrega a Vishaka).
Vishaka (recusando pegar o colar)
"Oh Sakhi! Por que você me atormenta com esse comportamento? Eu não posso decidir o que fazer sem Lalita. (Ela começa a chorar)
Radhika: "Oh Vishaka não é culpa sua que Krishna seja tão cruel comigo; assim por favor pare de chorar. Uma vez que estou agora a beira da morte, você pode estender meus braços dourados como trepadeiras colocando-os em volta de uma negra árvore Tamal. Deixe-me eternamente permanecer em Vrindavana nessa posição. Esse é meu último pedido."
Krishna (derramando lágrimas)
"Oh Madhu, veja a intensidade do amor dEla por Mim!"
Radhika (pensando consigo mesma): "Que ansiedade extrema me fez tão impaciente?" (Então fala) "Ao adorar Surya Deva, ganhei uma bênção especial. Assim Vishaka, vá pegar flores até que eu retorne de meu banho no Yamuna".
(Então, após descer as escadas que levam à água, Radhika parou e pensou):
"Oh espere! Deixe que uma vez mais Eu possa ver essa face de lua rara, antes de entrar no Yamuna!"
(Voltando-se ela corre para Vishaka):
"Sakhi! Seria muito bom se você me mostrasse uma vez mais o quadro que você desenhou."
Vishaka: "Oh Radhe o quadro não está aqui."
Radhika (com desânimo) "Então farei com que essa forma se manifeste através da Minha meditação de samadhi (Ela se senta para meditar).
Krishna: "Ei sakha! Você ouviu isso? Aquelas palavras foram como néctar para os meus ouvidos. Agora é hora de aparecer diante delas!"
(Os dois avançam)
Vishaka (Olhando com assombro e alegria)
"Oh Sakhi! Devido a boa fortuna o objeto de sua meditação apareceu diante de Você; Você pode agora abrir seus olhos!"
Radhika (Levemente abre seus olhos maravilhada)
Vishaka: Sakhi, aquele por quem Cupido machucou o corpo jovem e delicado no fogo abrasador de prema, esse príncipe jovem cuja cabeça está enfeitada com arranjo de penas de pavão apareceu diante de você, como o próprio senhor de sua vida renovada."
Radhika: "Que assombrosa a doçura desse sonho!"
Vishaka: "Oh descrente! Esse sonho maravilhoso se manifesta sem você estar dormindo!"
Krishna: "Que espantoso que os passos atrativos e a cintura bem formada dessas vrajas sundaris deixaram envergonhado os movimentos progressivos do rei dos elefantes intoxicado. Nisso, o movimento de Seus olhos juntaram forças com as flechas de flores de cupido e o brilho da face dela completamente derrotou o esplendor das flores de lótus delicada!"
Radhika (penetrando o coração de Krishna com olhares de soslaio dardejantes e pensando consigo mesma): "Oh coração que é como um sadhu, oh sadhu que boa sorte que você hesitou apenas por um momento!"
Krishna (manifestando um doce sorriso):
"Ei Vishaka enganadora. Eu estive procurando vocês; afortunadamente as encontrei agora. Hoje você me enganou ao trocar esse colar de gunja inferior pelo Meu raro e precioso Ranga Mala, mas não vou deixar você sair assim!"
Madhumangala: "Olhe! Oh Priya Sakha, olhe lá é o Seu Rangan mala valioso em volta do pescoço de Shri Radhika. Vá em frente e o remova você mesmo!"
Krishna: "Oh Madhu, que tipo de tolice você está propondo? Você sabe muito bem que Eu nunca toco nenhuma mocinha, nem em sonhos!"
Radhika (Pensando consigo mesma): "Embora Ele esteja gracejando, esse comportamento brincalhão capturou o meu coração tímido."
Vishaka (manifestando um sorriso): "Ei Krishna, você é como um oceano onde elevadas ondas em forma de mulheres encontram o seu refúgio. Agora pare onde você está! Fique a distância, porque nós podemos ver as marcas do amor das donzelas ainda visíveis em Seu corpo!"
Vishaka: "Ei Krishna de kajjal variado, desde que você capturou a mente das Vraja gopis fazendo-as anurakta ou apegadas a você, o Ranga mala vermelho que você usa em volta de Seu pescoço é adequado. Além disso, uma vez que as mocinhas de Vrindavana olham para você com os olhos fixos, Suas penas de pavão são um símbolo disso. Assim você fica sempre auto satisfeito nessa floresta de Vrindavana!"
Krishna (Pensando consigo mesmo totalmente satisfeito):
"Ai de Mim! As bochechas de flor de Radhika ficam enaltecidas pelo sorriso que é como uma alta onda que se quebra em bem aventurança. Suas belas sobrancelhas estão dançando e derrotam o poder do arco do Cupido; e de Seus olhos como pétalas longos e estreitos abelhas negras enlouquecidas levantam vôo para golpear Meu coração!"
(Uma voz é ouvida à distância)
"Oh neta Vishaka."
Krishna: "Oh que desastre! Por que essa senhora de faces pálidas, Jatila aparece bem na hora errada?
Jatila (entra olhando para todos os lados e pensando consigo mesma) : "O que Krishna faz aqui?" (Então fala alto):
"Oh Vishaka por que vocês duas deixaram a casa sem pegar a parafernália necessária para o Surya puja, como o incenso, óleo aromático e o chandan vermelho, etc.?"
Krishna (Pensando consigo mesmo): "Ai de Mim! Bem na hora que Meus olhos chakora perceberam a boa fortuna de beber o néctar do rosto de lua de Radharani, essa desfavorável nuvem branca de Jatila aparece e cobre a lua! (Então falando alto):
"Oh afetuosa mãe Jatila, ofereço meus pranam a você."
Jatila: "Oh sedutor, não permito que seu olhar tortuoso pouse na comunidade das kishori gopis de Vrindavana. Madhumangala (Gargalhando): Ei, velha mal humorada! O olhar do meu querido amigo é sempre magânimo; além disso é o seu olhar que é tortuoso! Assim mantenha as suas bênçãos para você mesma."
Jatila (Dirigindo-se a Krishna): "Oh Paquerador! O que você faz aqui?"
Krishna: "Oh respeitável Jatila quem não se cativaria pelo encanto destas flores jaba desabrochando na floresta?"
(As palavras 'sujaba laksmi', ou bela floresta de jaba tem um duplo sentido: aquela pessoa que tem a beleza 'jaba' ou marcas da fortuna em seu corpo, significando Radharani).
Jatila (Pensando consigo mesma): "Krishna deve ter adquirido alguma percepção especial pela graça de Paurnamasi, caso contrário como poderia Ele saber de antemão que deveria vir aqui." (Então falando alto):
"Oh enganador, por que Você não segue Seu caminho agora rapidamente?"
Krishna: "Oh tagarela irreverente! Por que você está assim tão nervosa? Estou me preparando para partir mas quando Eu quiser."
Jatila (Olhando com severidade para Krishna):
"Ei Krishna! Você talvez tenha notado que a jóia da coroa de toda a beleza universal está a meu lado como a minha auspiciosa nora; assim você pode imaginar porque eu possa estar um pouco preocupada ao ver você caminhando livremente por esses campos com Seus olhos divagantes?
Krishna: "Oh idosa senhora injustamente desconfiada, você não precisa ficar preocupada. A partir do momento que ouvi que ela é sua nora, mantive alta consideração resspeitosa por Ela."
Jatila: "Oh Vishaka, por que você desperdiça tanto tempo?"
Vishaka (sorrindo levemente): "Oh respeitada Jatila, vendo um belo corço diante de nós, ficamos momentaneamente atônitas (com o sentido de que ao ver Krishna nós fomos incapazes de nos mover. Nisso falando com palavras de duplo sentido enquanto olhava para o céu):
"Ei corço cruel! Por que você desconsiderou a amorosa corça de Lalita que está tomada de afeto por você? Por que você perde tanto tempo vagando pelas florestas e falando eloquentes palavras dolorosas ao coração?"
Madhumangala: "Oh Priya Sakha! Veja como o papagaio macho negligencia desfrutar das romãs?"
Krishna (Manifestando um doce sorriso, secretamente dirigindo sua atenção a Radha):
"Ei romã sedutora, ao ver a sua cor avermelhada macia o papagaio macho ficou atraído por você incapaz de advinhar se você está madura por dentro ou não, contudo, o papagaio ficou indiferente!"
(Vishaka olhando na direção de Radha gesticulando com o olhar).
Radha (Pensando consigo mesma): "Oh coração inquieto, seja paciente, seja paciente!" (Então falando no ouvido de Vishaka): "Oh Sakhi, devido ao temor eu não pude nem beber a doçura das palavras nectáreas de Hari; nem fui capaz de com cuidado colocar o meu olhar em sua bela face. Então, finalmente, quando um momento tranqüilo veio após esperar por tanto tempo, que má fortuna que tudo foi estragado por essa velha mal humorada!"
Jatila (Pensando consigo mesma): "Ah que assombroso é o efeito do darshan de Krishna. Exceto por isso, vejo tantos outros elementos perturbadores para minha nora. (Falando alto):
"Oh Vishaka, veja só, a tarde já passou; vamos diretamente para o Surya mandap executar o puja."
(Dizendo isso, as três partiram)
Krishna: "Oh Priya sakha, esse raio de lua (Shri Radha) segue a lua cheia (Paurnamasi Devi), assim vamos nos abrigar nela."
Assim termina o segundo ato da peça Vidagdha Madhava de Shri Rupa Gosvami.
Nós inserimos essa porção do Vidagdha Madhava em nossa discussão sobre o controle dos sentidos para mostrar como Vraja rasa pode transformar os desejos luxuriosos de alguém. Nossos leitores podem primeiramente apreciar a perícia com que Shri Rupa Gosvami conduz a profundidade e um elo incomum entre Radha e Krishna no estágio de Purva raga. A narração leva o leitor para bem distante do brilho do romance ordinário. Esse vislumbre de Vraja lila irá cortar a atração inferior da pessoa pelo amor mundano. Por outro lado, um apego positivo, ou como diremos, uma sede de saborear o Vraja Prema Rasa é despertada no coração do devoto. De fato, a fórmula de Shriman Mahaprabhu de compaixão reside aqui. Shrila Rupa Gosvami tendo compreendido o manovista (desejo interno) de Shri Cheitanya estabeleceu a missão do Senhor ao escrever esses livros como o Vidagdha Madhava.
Os leitores atentos notarão como Shrila Rupa Gosvami combina todos os necessários rasa-sidhanta, lila tattva, e prema bhakti tattva, para proporcionar o conhecimento que se requer para o despertar do Vraja prema. Através de sua narração do lila, Shri Rupa apresenta seus leitores para as personalidades, humores e comportamentos dos associados mais íntimos de Shri Krishna: Lalita, Vishaka, Madhumangala, Subala, Jatila, Chandravali, etc. Sendo ele mesmo associado direto e testemunha ocular, Shri Rupa é a pessoa ideal em quem buscar refúgio. De fato, é como se a própria Shri Rupa Manjari, pessoalmente levasse o leitor pelas mãos para apresentá-lo aos residentes elevados de Vrindavana. Em resumo, citamos os versos seguintes do Cheitanya Charitamrita em louvor ao Vidagdha Madhava:
eto suni raya kabe prabhur carane
ruper kavita prasamsi sahasra badane
kavita na hoy ei amritera dhara
nataka lakhan sab siddhanter sara
prema paripatri ei adbhuta varnona
suni citta karner hoy ananda gurnona
Cc. Antya 1
Ouvindo essa peça teatral, Shri Ramananda Raya disse a Cheitanya Mahaprabhu:
"Deixe-me louvar a poesia de Shri Rupa com milhares de bocas! De fato, isso não é poesia, mas uma cachoeira de néctar! Aqui os muitos aspectos da escrita se combinam para apresentar a essência de todo o sidhanta transcendental. Além disso, as numerosas expressões de Vraja Prema Bhakti são espantosamente descritas fazendo com que a cabeça e o coração do ouvinte girem de êxtase!