quarta-feira, 18 de junho de 2014



       Akiñcana Krsna dasa Babaji Maharaja 
                  Um Querido Irmão Espiritual de Srila Swami Prabhupada

                                            (por Hrsikesananda das)
 

Queridos Krsna-bhaktas, 

Por mais de 6 anos (1968-1973), pude ter uma associação muito próxima com Paramahansa Krsnadas Babaji Maharaja e pude particpar de mais de 2.500 dos seus maravilhosos kirtanas. Vou lhes transmitir algo que escrevi sobre Srila Krsnadas babaji Maharaja. Espero que vocês gostem dessa pitada de Hari-katha.
Paramahansa Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja era a alegria de todos os associados do grandioso Sarasvati Thakura. Ele era o favorido de todos os seus irmãos espirituais e sempre lhes dava o seu sorridente “Hare Krsna.”
Em 1968, Paramahansa Akincana Krsnadas Babaji Maharaja estava acomodado na Gaudiya Math em Vrindavana, liderada por Srila Vana Maharaja, e lá permanecia no seu “bhajana kutir,” o que fazia todos os anos  passava por lá uma temporada de 4 a 5 meses  durante o verão. No inverno ficava em Navadvipa. Dormíamos no telhado nas noites quentes do verão e jamais o vimos dormir. Ele passava a noite inteira fazendo preces, bhajana em silêncio e cantando. Vivia sempre sorridente e sempre dizendo “Hare Krsna!” com grande exuberância, algo que jamais pude ver alguém imitar.
Ele era quem tinha um caráter mais parecido com o dos Goswamis. Parecia com o que podemos imaginar como eram Sanatana e Rupa Goswami em Vraja. Foi o único devoto que pude testemunhar que vivia derramando lágrimas enquanto liderava o kirtana sem ficar com a voz embargada. Ele foi o maior líder de kirtana do universo! Todos os devotos das várias Gaudiya Maths concordam que o próprio Senhor Caitanya aparecia pessoalmente para se juntar ao kirtana de Babaji Maharaja. Enquanto ficava no asrama de Vana Maharaja em Vrindavana, sempre liderava o kirtana que começava as 4:30 da madrugada. Sempre tocava mridanga, quer no kirtana, quer solitário enquanto cantava para as Deidades.
As Deidades do bhajana-kutir eram o Senhor Caitanya, Sri Govinda no centro e Srimati Radhika ao lado. Também havia uma sila de Govardhana e uma Salagrama, que eram adoradas diariamente com as Deidades principais. O padrão do puja era de primeira classe. Havia uns 10 ou 15 residentes no asrama, com idades variando de 18 a 80 anos. Todos ou eram brahmacaris ou sannyasis. Akiñcana Krsnadas era o único Babaji que regularmente ficava no bhajana-kutir. Durante o dia, depois do kirtana do meio-dia, Babaji Maharaja descia para uma cômodo subterrâneo que Vana Swami havia construído há alguns anos atrás. O local era bem fresco. Por isso todos os anos Babaji Maharaja passava a tarde toda ali naquele subsolo cantando sua mala; ele também fazia a contagem das suas voltas.
Babaji Maharaja não tinha nenhum dente. Ele era um velho discípulo bengali de Sarasvati Thakura, que segundo dizem, havia ido viver isolado em Haridwar depois do desaparecimento de Gurudeva. De qualquer maneira, isso havia sido há muitos anos atrás. Quando o conheci pela primeira vez estava com cerca de 70 anos. Não podia passar em sua mente coisas como fazer discípulos, coletar dinheiro ou construir templos e ele nunca, jamais, criticou ninguém. Sua única preocupação era cantar o tempo todo; quer no kirtana quer na japa. Quando falavam com ele, sempre respondia com um sorridente “Hare Krsna!” Costumava ter em sua face um olhar alegre, como se tivesse acabado de ouvir a maior piada e prestes a explodir de rir. E quando alguém dizia Hare Krsna para Babaji, ele gargalhava da maneira mais contagiante. Sempre que dizia Hare Krsna ria do seu jeito alegre com o mantra. Nunca pude ver prema-bhakti como o exibido por Krsnadas Babaji Maharaja. Todos os devotos da Gaud…ya Matha ficavam muito contentes quando Babaji Maharaja vinha ficar com eles. Era época de “uttama -kirtana!”
Em 1968 para me “proteger” de ser mandado para o Vietnam, fui para a colina de Govardhana fazer parikrama. Para a minha grande boa fortuna, fui acompanhado por Babaji Maharaja que também queria ir visitar Govardhana. No caminho paramos em Nandagram, onde ficamos por uma semana no bhajana-kutir de Sanatana Goswami (não tinha eletricidade, água e nem latrina). Passávamos o tempo fazendo ‘madhukari’ dos vrajabasis locais e exclamando: “Radhe Syama!” Cantávamos, e explorávamos a casa de Nanda Maharaja. Babaji Maharaja não falava coisa alguma, só dizia “Hare Krsna!” e eu também não falava o bengali naquela época, por isso o nosso relacionamento inicialmente era só na base do “Hare Krsna!”
De lá fomos para Varsana, onde ele me apresentou para a própria Sriji. Mas devido à minha cegueira material, só pude ver as encantadoras Deidades. Também passamos alguns dias no Man-mandira com um siddha-purusa chamado Radha-charan Das Babaji. Ele é uma das almas mais elevadas que jamais pude conhecer.
Depois de alguns dias finalmente chegamos na colina de Govardhana, mas descemos do ônibus (por insistência do Babaji) antes de ele se dirigir para a colina no ponto final. Bem cedo na manhã seguinte, depois de nos banharmos no Syama e no Radha-kunda, demos a volta em Govardhana descalços, carregando nosso saco de dormir e cantando pelo caminho. Às vezes Babaji Maharaja, enquanto cantava dava gargalhadas e às vezes parecia triste como se tivesse perdido Krsna. Assim como Srila Prabhupada, Babaji Maharaja nunca perdia um único segundo fora da consciência de Krsna. No final da tarde terminamos o parikrama e voltamos para o Radha-kunda para passar a noite. No dia seguinte voltamos para Mathura de ônibus e de lá fomos para Vrindavana de tonga.
Exsitem inúmeras histórias nectáreas associadas a Govardhana e aos dois kundas. Nos anos seguintes, para lá retornei inúmeras vezes. Mais tarde, num outro parikrama de Govardhana com Babaji Maharaja, tenho vergonha de confessar que cantava tão mal que ele foi forçado a quebrar o seu silêncio habitual.
O Samadhi de Akiñcana Krsnadas Babaji em Nandagram
O sagrado bhajana-kutir de Sanatana Goswami fica na beira do eterno lago de Pavan-sarovar. Esse kunda é muito especial porque Sri Krsna toma banho ali todos os dias. Dizem que um banho matinal no Pavan-sarovara concede a liberação da prisão material para sempre (pelo menos um shira-snana). Todos os devotos devem se banhar diariamente nesse sarovara. É um lugar encantador.
Junto a esse asrama austero há um tirtha muito sagrado, o samadhi de Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja, que é o irmão espiritual de “bhajana-anandi” de Srila Swami Prabhupada. É interessante notar que os dois únicos discípulos de Srila Sarasvati Thakura que estão citados no livro “Gaudiya Vaisnava Samadhis’s in Vrindavana,” de H.H. Mahanidhi Maharaja, são o de Srila Prabhupada (que atuava como o gostya-anandi mais capacitado) e o de Krsnadas Babaji Maharaja (que era o bhajana-anandi mais elevado).
Nandagram é o lila-stali que, dentre todos os demais, Babaji Maharaja escolheu para abandonar o seu velho corpo. Alguns devotos acreditam que Babaji Maharaja é um associado eterno de Sri Krsna em sakhya-rasa. Apesar dele nunca ter dito isso, lembro-me dele cantando em Madhuvana uma canção em hindi sobre os amigos de Krsna, com lágrimas caindo de suas faces  sem perder a voz!
No seu samadhi há uma grande pintura de Babaji Maharaja, parecendo triste. Na verdade não me lembro de jamais tê-lo visto com aquela fisionomia. Sempre lembro dele sorridente e muito feliz. Era tão humilde que tínhamos medo de oferecer-lhe reverências, porque ele sempre as retribuía. Ele nunca aceitava reverências. Vocês pode imaginar um Babaji vaisnava como ele prestando reverências para um prakrta-bhakta e ex-comedor de carne como eu? Não era digno de sequer lavar os seus pés.
Permitam-me falar um pouco mais sobre Akiñcana Krsnadas Babaji Maharaja. Uma vez ele estava levando um grande grupo de sankirtana pelas ruas de Vrindavana. Era o meio do verão de Vrindavana! Quando chegamos no Gaudiya Math de Bhakti-Saranga Goswami, Babaji Maharaja desmaiou. Todos pensávamos que ele havia morrido, por isso continuamos a cantar e o levamos para o asrama de Bhakti Saranga Maharaja no Amalitala. Finalmente Babaji Maharaja voltou a si e estava passando por uma indisposição estomacal. Quando sentiu-se melhor, pediu que continuássemos, e que iria nos encontrar mais tarde. Foi o que fizemos, e na primeira esquina, lá estava Babaji Maharaja com sua mridanga na mão, com um fulgor na sua face.
Numa outra ocasião, estava seguindo Babaji Maharaja fazendo o parikrama de Giriraj Maharaja. Em tantos anos que passamos juntos, jamais o ouvi falar tanto. Uma vez perguntei:
Babaji Maharaja, é verdade que o senhor está em sakhya-rasa?
Ele respondeu:   HARE KRSNA!
Mesmo quando se encontrava com seus irmãos espirituais, sempre sentava-se aos seus pés e simplesmente exclamava sorridente:  Hare Krsna!
Era só o que dizia. Naquela ocasião passamos por um devoto que estava fazendo o parikrama de 108 dandavts por Govardhana, quando de repente, Babaji virou para mim e disse:  Ucharan Koro! (pronuncie o santo nome corretamente!).
Meu cantar era tão pobre que Babaji teve que quebrar o seu silêncio.
Como já mencionei, Babaji Maharaja nunca dormia. Estava sempre desperto a noite toda, fazendo bhajana; pelo menos durante o verão enquanto ficava em Vrindavana com Srila Vana Maharaja. A primeira coisa que fazia de manhã era liderar o kirtana com muitas melodias tradicionais da Gaudiya Matha. Depois, lia o Caitanya-caritamrita (em bengali), sentava-se sozinho diante das Deidades e cantava infindáveis bhajanas muito doces por algumas horas. E também recitava muitos versos, que sempre começavam com os Guru-vandanas. Durante a tarde ficava no subsolo e cantava a japa. Costumava servi-lo ali e nunca o vi dormir. A noite liderava outro kirtana e depois da prasadam ia sentar no telhado para orar, a noite toda! A melhor maneira de descrever Babaji Maharaja é um sorridente “Hare Krsna!”
Uma vez por ordem de Srila Vana Maharaja, Babaji Maharaja pegou uma pedra de Govardhana e a deu para mim. Mais tarde, enquanto adorava a sila, comecei a praticar ‘manasa-seva’ (serviço mental) enquanto oferecia bhoga. Srila Vava Maharaja havia me dito para não tentar me visualizar, e sim apenas visualizar as descrições das lilas do Casal Divino. Quando ao meu seva, fui instruído para apenas ‘visualizar as minhas delicadas mãos’ enquanto fazia o serviço e ficar atento, sendo um observador das lilas fidedignas.
Depois de uns seis meses de prática, um dia um macaco de Vrindavana entrou no meu quarto (durante o meu canto/meditação) e jogou a sila no chão. Srila Vana Maharaja ficou perturbado com aquilo e mandou que eu colocasse imediatamente a sila dentro do templo e que parasse de tentar fazer manasa-bhajana devido à minha condição de prakrita-bhakta.    

 ‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬