Néctar do Jaiva-Dharma -
I
(A Ciência da Alma – Apreendendo
com Srila Bhaktivinoda Thakur)
A palavra Jaiva-Dharma refere-se ao dharma
da jiva ou a função constitucional da entidade viva (do ser). Se nos deixarmos
guiar pelas aparências externas, percebemos que os seres humanos têm diferentes
religiões de acordo com a classificação de país, classe social, raça e assim por
diante. A natureza constitucional dos seres humanos, animais, pássaros, vermes,
insetos e outras entidades vivas também são observadas em diferentes variedades.
Mas, na realidade, toda entidade viva através do
universo tem somente um eterno e imutável dharma. O Jaiva-Dharma oferece uma convincente descrição deste dharma, o qual é eterno
e que se aplica em toda parte, a todo o momento e para todas as entidades
vivas. De forma muito concisa, este ensinamento nos revela a essência dos mais
profundos e confidenciais temas dos Vedas, Vedanta, Upanisads, Srimad-Bhagavatam, Puranas, Brahma-sutra, Mahabharata, Itihasas, Pancaratra, Sat-sandarbhas, Sri Caitanya-caritamrta, Bhakti-rasamrta-sindhu, Ujjvala-nilamani e outros sastras (escrituras) sublimes (Srila Narayana Maharaj).
Embora
a jiva
(ser) seja
infinitesimal, seu dharma
é
pleno e nitya
(eterno).
Sua dimensão diminuta é apenas um aspecto pelo qual ela é identificada.
Parabrahman
Sri Krsnacandra (Deus Pessoa) é a única
substância infinita (brhad-vastu) e as jivas, são Suas inumeráveis
partículas atômicas. Como centelhas que emanam de um fogo indiviso, as jivas emanam de Krsna
(a Pessoa Divina), que é a personificação da consciência imutável. Assim como
cada centelha é dotada da potência do fogo completo, da mesma forma, cada uma
das jivas
é
capaz de apresentar a plena função da consciência. Se uma única centelha tiver
combustível suficiente, ela poderá acender um fogo abrasante que irá incinerar
o mundo inteiro. Similarmente, mesmo uma única jiva poderá ocasionar uma grandiosa
inundação de amor ao alcançar Sri Krsnacandra, que é o
verdadeiro objeto do amor. Enquanto não for bem-sucedida em contatar o
verdadeiro objeto de sua função espiritual (dharma-visaya), a jiva consciente e
infinitesimal não será capaz de manifestar o desenvolvimento natural desta
função. Na realidade, somente quando a jiva estiver conectada com o
seu real objeto é que a identidade do seu dharma torna-se evidente.
Qual
é o nitya-dharma, ou função
constitucional eterna da jiva (ser)? Esta pergunta deve ser examinada
com muito cuidado. O amor transcendental por Krsna (prema) é o nitya-dharma da jiva. Como a jiva é constituída de
consciência, ela é uma substância transcendental à matéria mundana. Sua função
eterna é o amor divino, e a natureza deste prema puro é o serviço a Krsna.
Portanto, a função constitucional da jiva é o serviço a Krsna,
o qual é a natureza de prema.
As jivas existem sob duas condições:
suddha-avastha, o estado puro e
liberado, e baddha-avastha, o estado condicionado.
No estado liberado, a jiva
é
inteiramente espiritual (cinmaya), não tendo vínculo algum com a
matéria mundana. Contudo, mesmo no estado liberado, a jiva é uma entidade
infinitesimal.
A jiva pode submeter-se a uma
mudança de condição porque tem a qualidade de ser diminuta. Krsna,
porém, jamais Se submete a uma mudança de condição, pois, por Sua própria
natureza, Ele é a entidade de cognição infinita. Por Sua constituição essencial
como vastu
(uma
entidade existente de fato), Ele é supremo, inteiramente puro e eterno, ao
passo que a jiva, por sua constituição
essencial como vastu, é diminuta, um
fragmento, passível de contaminação e sujeita a repetidas mudanças. Não
obstante, em virtude de seu dharma, ou função espiritual inata, a jiva é grandiosa, indivisa,
pura e eterna. Enquanto for pura, seu dharma manifestará seu caráter
imaculado. No entanto, quando ela é contaminada pelo envolvimento com maya (natureza material), sua verdadeira
natureza perverte-se e ela torna-se impura, desprotegida e oprimida pela
felicidade e aflição mundanas. A trajetória da jiva pela existência material
começa assim que ela esquece sua atitude de serviço a Krsna.
Enquanto
a jiva
permanece
pura, ela mantém sua identidade e auto-concepção de acordo com sua função
espiritual pura (sva-dharma). Seu egoísmo inato e
original possui suas raízes na concepção de que ela é serva de Krsna.
Porém, assim que ela se contamina pelo contato com maya, esse egoísmo puro é
retraído e assume muitas formas diferentes. Então, os corpos grosseiro e sutil
encobrem sua identidade constitucional pura, e em consequência disso, surge um
egoísmo diferente no corpo sutil (linga-sarira). Quando este se
combina com a identificação da alma com o corpo grosseiro (sthula-sarira), uma terceira forma de
egoísmo é assumida. Em sua forma espiritual pura, a jiva é exclusivamente uma
serva de Krsna (Deus). Quando a jiva se identifica com o
corpo sutil, seu egoísmo puro e original de ser uma serva de Krsna
fica encoberto e ela pensa que pode gozar dos frutos de suas ações. Aí então,
ela obtém um corpo grosseiro e pensa: ‘Sou brahmana (instrutor); sou rei; sou pobre;
sou miserável; estou acometido pela doença e pela lamentação; sou mulher; sou
mestre desta e daquela pessoa. Deste modo, ela se identifica com muitos tipos
diferentes de concepções corpóreas grosseiras.
Quando
a jiva
entra
em contato com estes diferentes tipos de egoísmo falso, sua função
constitucional torna-se pervertida. A função constitucional intrínseca (sva-dharma) da jiva é o prema (amor a Deus) imaculado. Este prema se manifesta de maneira
pervertida no corpo sutil sob a forma de felicidade e aflição, apego e aversão
e assim por diante. Observa-se esta perversão de forma mais concentrada no
corpo grosseiro como os prazeres de comer, beber e manter contato com os
objetos dos sentidos. Você deve entender claramente que a função eterna da jiva, conhecida como nitya-dharma, só se manifesta em seu
estado puro. O dharma que surge no estado
condicionado é conhecido como naimittika (circunstancial). O nitya-dharma é por natureza, completo,
puro e eterno.
“O Vaisnava-dharma puro como é descrito no Srimad- Bhagavatam é a religião eterna (nitya-dharma). Os vários tipos de dharma que são propagados no
mundo podem ser divididos em três categorias: nitya-dharma, naimittika-dharma (dharma circunstancial) e anitya-dharma (religião impermanente).
Anitya-dharma
é a
religião que não fala sobre a existência de Isvara (o Controlador Supremo
– Deus) e não aceita a eternidade da alma. Naimittika-dharma reconhece a existência
de Isvara e a eternidade da alma, mas só
se esforça no sentido de obter a misericórdia de Isvara
por meio de métodos provisórios. Nitya-dharma empenha-se para obter o
serviço a Bhagavan por meio de prema puro.
Nitya-dharma
pode
ser conhecido por diversos nomes conforme as diferenças de país, raça e idioma.
No entanto, ele é um só e supremamente benéfico. O exemplo ideal de nitya-dharma é o Vaisnava-dharma, o qual é prevalecente
na Índia. O estado prístino de Vaisnava-dharma é o dharma, o qual Bhagavan Sacinandana,
o Senhor de nosso coração, ensinou ao mundo. É por este motivo que grandes
personalidades buscaram e aceitaram o auxílio desses ensinamentos e, assim
absorveram-se no êxtase do amor divino.