domingo, 28 de setembro de 2014

Néctar do Jaiva-Dharma - I
(A Ciência da Alma – Apreendendo com Srila Bhaktivinoda Thakur)

A palavra Jaiva-Dharma refere-se ao dharma da jiva ou a função constitucional da entidade viva (do ser). Se nos dei­xarmos guiar pelas aparências externas, percebemos que os seres humanos têm diferentes religiões de acordo com a classificação de país, classe social, raça e assim por diante. A na­tureza constitucional dos seres humanos, animais, pássaros, vermes, insetos e outras entidades vivas também são observadas em diferentes variedades.

Mas, na realidade, toda entidade viva através do universo tem somente um eterno e imutável dharma. O Jaiva-Dharma oferece uma convincente descrição deste dharma, o qual é eterno e que se aplica em toda parte, a todo o momento e para todas as entidades vivas. De forma muito concisa, este ensinamento nos revela a essência dos mais profundos e confidenciais temas dos Vedas, Vedanta, Upanisads, Srimad-Bhagavatam, Puranas, Brahma-sutra, Mahabharata, Itihasas, Pancaratra, Sat-sandarbhas, Sri Caitanya-caritamrta, Bhakti-rasamrta-sindhu, Ujjvala-nilamani e ou­tros sastras (escrituras) sublimes (Srila Narayana Maharaj).

Embora a jiva (ser) seja infinitesi­mal, seu dharma é pleno e nitya (eterno). Sua dimensão diminuta é apenas um aspecto pelo qual ela é identificada.

Parabrahman Sri Krsnacandra (Deus Pessoa) é a única substância in­finita (brhad-vastu) e as jivas, são Suas inumeráveis partí­culas atômicas. Como centelhas que emanam de um fogo indiviso, as jivas emanam de Krsna (a Pessoa Divina), que é a personificação da consciência imutável. Assim como cada centelha é dota­da da potência do fogo completo, da mesma forma, cada uma das jivas é capaz de apresentar a plena função da cons­ciência. Se uma única centelha tiver combustível suficiente, ela poderá acender um fogo abrasante que irá incinerar o mundo inteiro. Similarmente, mesmo uma única jiva poderá ocasionar uma grandiosa inundação de amor ao alcançar Sri Krsnacandra, que é o verdadeiro objeto do amor. Enquan­to não for bem-sucedida em contatar o verdadeiro objeto de sua função espiritual (dharma-visaya), a jiva consciente e infinitesimal não será capaz de manifestar o desenvolvi­mento natural desta função. Na realidade, somente quando a jiva estiver conectada com o seu real objeto é que a iden­tidade do seu dharma torna-se evidente.

Qual é o nitya-dharma, ou função constitucional eterna da jiva (ser)? Esta pergunta deve ser examinada com muito cuidado. O amor transcendental por Krsna (prema) é o ni­tya-dharma da jiva. Como a jiva é constituída de consciên­cia, ela é uma substância transcendental à matéria mundana. Sua função eterna é o amor divino, e a natureza deste prema puro é o serviço a Krsna. Portanto, a função constitucional da jiva é o serviço a Krsna, o qual é a natureza de prema.

As jivas existem sob duas condições: suddha-avastha, o estado puro e liberado, e baddha-avastha, o estado condicionado. No estado liberado, a jiva é inteira­mente espiritual (cinmaya), não tendo vínculo algum com a matéria mundana. Contudo, mesmo no estado liberado, a jiva é uma entidade infinitesimal.

A jiva pode submeter-se a uma mudança de condição porque tem a qualidade de ser diminuta. Krsna, porém, ja­mais Se submete a uma mudança de condição, pois, por Sua própria natureza, Ele é a entidade de cognição infinita. Por Sua constituição essencial como vastu (uma entidade existente de fato), Ele é supremo, inteiramente puro e eter­no, ao passo que a jiva, por sua constituição essencial como vastu, é diminuta, um fragmento, passível de contaminação e sujeita a repetidas mudanças. Não obstante, em virtude de seu dharma, ou função espiritual inata, a jiva é grandiosa, indivisa, pura e eterna. Enquanto for pura, seu dharma ma­nifestará seu caráter imaculado. No entanto, quando ela é contaminada pelo envolvimento com maya (natureza material), sua verdadeira natureza perverte-se e ela torna-se impura, desprotegida e oprimida pela felicidade e aflição mundanas. A trajetória da jiva pela existência material começa assim que ela esquece sua atitude de serviço a Krsna.

Enquanto a jiva permanece pura, ela mantém sua identidade e auto-concepção de acordo com sua função espiritual pura (sva-dharma). Seu egoísmo inato e original possui suas raízes na concepção de que ela é serva de Krsna. Porém, assim que ela se contamina pelo contato com maya, esse egoísmo puro é retraído e assume muitas formas diferentes. Então, os corpos grosseiro e sutil encobrem sua identidade constitucional pura, e em consequência disso, surge um egoísmo diferente no corpo sutil (linga-sarira). Quando este se combina com a identificação da alma com o corpo grosseiro (sthula-sarira), uma terceira forma de egoísmo é assumida. Em sua forma espiritual pura, a jiva é exclusivamente uma serva de Krsna (Deus). Quando a jiva se identifica com o corpo sutil, seu egoísmo puro e original de ser uma serva de Krsna fica encoberto e ela pensa que pode gozar dos frutos de suas ações. Aí então, ela obtém um corpo grosseiro e pensa: ‘Sou brahmana (instrutor); sou rei; sou pobre; sou miserável; estou acometido pela doença e pela lamentação; sou mulher; sou mestre desta e daquela pessoa. Deste modo, ela se identifica com muitos tipos di­ferentes de concepções corpóreas grosseiras.

Quando a jiva entra em contato com estes diferentes tipos de egoísmo falso, sua função constitucional torna-se pervertida. A função constitucional intrínseca (sva-dhar­ma) da jiva é o prema (amor a Deus) imaculado. Este prema se manifesta de maneira pervertida no corpo sutil sob a forma de felici­dade e aflição, apego e aversão e assim por diante. Obser­va-se esta perversão de forma mais concentrada no corpo grosseiro como os prazeres de comer, beber e manter con­tato com os objetos dos sentidos. Você deve entender clara­mente que a função eterna da jiva, conhecida como nitya-dharma, só se manifesta em seu estado puro. O dharma que surge no estado condicionado é conhecido como naimittika (circunstancial). O nitya-dharma é por natureza, comple­to, puro e eterno.

“O Vaisnava-dharma puro como é descrito no Srimad- Bhagavatam é a religião eterna (nitya-dharma). Os vários tipos de dharma que são propagados no mundo podem ser divididos em três categorias: nitya-dharma, naimittika-dharma (dharma circunstancial) e anitya-dharma (religião impermanente). Anitya-dharma é a religião que não fala so­bre a existência de Isvara (o Controlador Supremo – Deus) e não aceita a eternidade da alma. Naimittika-dharma reconhece a existência de Isvara e a eternidade da alma, mas só se esforça no sentido de obter a misericórdia de Isvara por meio de métodos provisórios. Nitya-dharma empenha-se para obter o serviço a Bhagavan por meio de prema puro.

Nitya-dharma pode ser conhecido por diversos nomes conforme as diferenças de país, raça e idioma. No entanto, ele é um só e supremamente benéfico. O exemplo ideal de nitya-dharma é o Vaisnava-dharma, o qual é prevalecente na Índia. O estado prístino de Vaisnava-dharma é o dharma, o qual Bhagavan Sacinandana, o Senhor de nosso coração, ensinou ao mundo. É por este motivo que grandes personalidades buscaram e aceitaram o auxílio desses ensinamentos e, assim absorveram-se no êxtase do amor divino.


(Editado por SBS Radhanti, em 28.09.2014 ---- ‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬)