segunda-feira, 2 de junho de 2014

                     Srila Gour Govinda Goswami Maharaja

Sua Divina Graça Gour Govinda Swami Maharaja fez o seu aparecimento como Braja-bandhu Manik numa família vaishnava no dia 2 de setembro de 1929.

Ele apareceu na vila de Jagannatha-pura, não muito distante de
Jagannatha Puri dhama, em Orissa, mas como sua mãe era descendente da família Giri, da vila de Gadai-giri, foi lá que Braja-bandhu passou a sua infância. O seu avô era um paramahamsa cuja única atividade era cantar Hare Krishna e ficar chorando diante da Deidade local, conhecida como Gopal Jiu.

Ele ensinou a Braja-bandhu como cantar o mahamantra Hare
Krishna  contando nos dedos. Em companhia dos seus tios, Braja-bandhu costumava viajar pelas vilas cantando Hare Krishna e canções de Narottama dasa Thakura. A família Giri era conhecida desde a época de Shyamananda Prabhu como sendo os mais famosos realizadores de kirtana de Orissa.

Há trezentos anos, nos registros do templo de Jagannatha Puri, o
rei de Orissa escreveu que o grupo de kirtana de Gadai-giri deveria vir realizar kirtana para o Senhor Jagannatha sempre que possível.

Em Orissa eles são considerados kirtana-gurus.

Desde a idade de seis anos, Braja-bandhu adorava a Deidade de Gopal, fazendo guirlandas e às vezes, sob a luz de um candeeiro, ele cantava para a Deidade os hinos escritos em folhas de palmeira. Ele jamais comia algo sem antes oferecer a Gopal.
Com a idade de oito anos ele ouviu todo o Bhagavad-gita, o Shrimad Bhagavatam e o Shri Caitanya-caritamrita, além de poder explicar o seu significado.

À noite inúmeros aldeões vinham ouvir as sua recitação do
Bhagavata, Ramayana e do Mahabharata. Portanto, desde a infância sua vida era ficar absorto em cantar o santo nome de Krishna, estudar a literatura vaishnava e adorar o seu amado Gopal. Os parentes e amigos se lembram dele como sempre calmo e introspectivo. Ele nunca se interessava em brincar com os outros meninos ou em ir ao cinema ou teatro.

Depois que o seu pai morreu em 1955, como o filho mais velho, ele se tornou o responsável pelo sustento da família e, a pedido da sua mãe viúva, entrou no grihastha-ashrama. Ele viu a esposa, Shrimati Vashanti Devi, pela primeira vez na cerimônia de casamento.

Devido às dificuldades financeiras ele não pôde cursar uma universidade formalmente, mas estudou de forma particular à noite para se submeter aos exames, obtendo o grau de B.A. da Universidade de Utkal com segunda maior média do exame. Mais tarde ele também obteve o grau de B.Ed. de uma maneira similar e assumiu a profissão de mestre escola.

No entanto, apesar das inúmeras responsabilidades a sua devoção por Gopal nunca foi perturbada. Ele acordava todo dia às 3 horas da madrugada, cantava o mahamantra Hare Krishna, adorava tulasi-devi e falava o Bhagavad-gita para sua família. Na escola sempre procurava criar uma oportunidade de falar sobre Krishna aos estudantes e de ensinar os princípios devocionais. Alguns dos seus alunos se tornaram seus discípulos trinta anos mais tarde.

Durante as férias escolares ele costumava levar sua esposa para visitar diferentes locais sagrados e ashramas nos Himalayas e às vezes se envolvia em debates filosóficos com os mayavadis locais.
Em 8 de abril de 1974, com a idade de 45 anos, Braja-bandhu deixou seu lar e parentes em busca da perfeição espiritual. Ele se auto-nomeou “Gour-Gopalananda dasa” e, levando apenas um Bhagavad-gita e uma bolsa de mendicante, perambulou pela Índia, visitando inúmeros locais sagrados nas margens do Ganges.

Ele estava em busca de um mestre espiritual, uma pessoa que pudesse ajudá-lo a desenvolver uma compreensão do mahamantra.

Apesar de ter conhecido inúmeros saddhus e gurus durante a sua vida de chefe de família ­ Orissa tinha inúmeras seitas gaudiya-vaishnavas proeminentes ­ ele não encontrou ninguém cujos ensinamentos pudessem tocar-lhe o coração. Ele vagou pela Índia um ano inteiro e ainda assim não pôde encontrar o seu mestre espiritual, até que chegou a Vrindavana, acreditando que o seu desejo certamente seria satisfeito na querida morada de Krishna.

Duas semanas depois de ter chegado a Vrindavana ele viu um grande cartaz onde se lia: “Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, Fundador Acarya Sua Divina Graça A.C. Bhakivedanta Swami Prabhupada,” e encontrou um grupo de devotos ocidentais que lhe deram um exemplar da revista Volta ao Supremo.

Quando leu o conteúdo descrevendo a glória do amor divino por Krishna, seu coração ficou ansioso em encontrar o editor
da revista e fundador do movimento, Shrila Prabhupada. Ao entrar nos aposentos de Shrila Prabhupada, ele se apresentou e a primeira coisa que Shrila Prabhupada lhe perguntou foi: “Você tomou sannyasa?”

Gour Govinda Maharaja respondeu que não. “Então eu vou lhe dar sannyasa!” exclamou Shrila Prabhupada. Compreendendo que Shrila Prabhupada conhecia o seu coração, ele se rendeu aos seus pés de lótus e logo se tornou discípulo iniciado de Shrila Prabhupada.

Em 1975, ao abrir o templo de Shri Shri Krishna Balarama em Vrindavana, Shrila Prabhupada concedeu-lhe a ordem de sannyasa, mandando-o para Orissa pregar e construir um templo numa propriedade que acabara de ser doada para a Iskcon em Bhubaneswara.

A terra doada era um matagal cheio de mosquitos, cobras e escorpiões. Ficava longe do centro da cidade e até durante o dia as pessoas tinham medo de visitar.

Meditando no desejo de Shrila Prabhupada, Gour Govinda
Maharaja trabalhou com grande determinação e entusiasmo. Às vezes residindo na despensa de um negociante de chá e outras vezes compartilhando uma cabana pequena de trabalhadores da construção de estradas, ele começou a traduzir para o oria os livros de Shrila Prabhupada como havia sido instruído.

Ele saía para visitar casa por casa, escritório por escritório em torno de Bhubaneswara para coletar pequenas doações e assim construiu com suas próprias mãos uma cabana de sapé na propriedade doada.

No começo de 1977, Shrila Prabhupada foi a Bhubaneswara. Apesar de terem sido feitos arranjos para que ele pudesse se hospedar confortavelmente no State Guesthouse, Shrila Prabhupada rejeitou a proposta de imediato:

“Vou ficar onde o meu querido discípulo Gour Govinda construiu uma cabana de taipa para mim.” Shrila Prabhupada ficou em Bhubaneswara dezessete dias e nesse período começou o trabalho de tradução do décimo canto do Shrimad Bhagavatam.

Na auspiciosa ocasião do aparecimento do Senhor Nityananda, ele colocou a pedra fundamental do futuro templo, seu último projeto.

Durante uma visita a Mayapura em 1979, Gour Govinda Swami  participava  de um kirtana e de repente caiu no chão inconsciente. Ele foi carregado para o seu aposento por diversos líderes da Iskcon e por muitos devotos preocupados. Vieram médicos para examiná-lo, mas foram incapazes de diagnosticar a causa daquela sua condição. Alguém até sugeriu que deveria estar possuído por um fantasma.

Finalmente, Akiñcana Krishnadasa Babaji Maharaja, um irmão espiritual de Shrila Prabhupada, explicou que Gour Govinda Swami estava manifestando os sintomas de bhava o estágio avançado de amor a Deus.

Quando ele voltou para Bhubaneswara, tornou-se cada vez mais absorto na missão do seu mestre espiritual. Alguns devotos ocidentais foram enviados para ajudá-lo, mas a maioria deles não pôde suportar as condições austeras. Eles ficaram surpresos ao ver como ele nunca se perturbava, como podia comer apenas uma vez ao dia e como nunca dormia.

Ele simplesmente pregava, cantava e escrevia suas anotações dia e noite.

Seguindo a ordem de Shrila Prabhupada, Gour Govinda Maharaja pregou vigorosamente por toda Orissa. Ele deu início a programas simples de festivais de pada-yatra e programas de nama-hatta, tendo recebido ajuda de milhares de pessoas da terra onde o Senhor Caitanya realizou os Seus passatempos, re-descobrindo suas raízes espirituais e assumindo o cantar do mahamantra:

Hare Krishna Hare Krishna, Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare

Shrila Prabhupada deu a Gour Govinda Swami três instruções principais:

1.Traduzir os seus livros do inglês para o oria,
2. Construir o templo de Bhubaneswara e,
3. Pregar pelo mundo inteiro.

Seguir essas instruções foi a vida e alma de Gour Govinda Swami. Ele seguia estritamente a disciplina de não comer nada até que tivesse completado a sua cota diária de tradução. Os devotos ficavam atônitos ao ver como ele sempre insistia em primeiro fazer as traduções que o seu mestre espiritual ordenara antes de comer ou dormir. Essa foi a disciplina que ele manteve até o último dia da sua vida.

Em 1985, Shrila Gour Govinda Swami fez a primeira viagem para o exterior para pregar. Ele tinha muito entusiasmo para pregar Krishna-katha e viajava todo ano, por onze anos, a despeito de uma lesão crônica em sua perna e de todas as inconveniências pessoais.

Apesar de ser sempre muito manso e humilde em seus relacionamentos pessoais, em suas aulas sobre o Shrimad Bhagavatam ele rugia como um leão, esmagando o orgulho e eliminando os equívocos dos corações daqueles que o ouviam. Krishna-katha era a sua vida e sua alma.

Ele costumava dizer: “O dia que passa sem Krishna-katha é como um dia  muito ruim.” Durante suas aulas ele invariavelmente cantava empolgado, nutrindo a todos com sentimentos devocionais de alegria, humildade e rendição, como expressam as orações de Shrila Bhaktivinoda Thakura e dos outros acaryas.

Gour Govinda Swami tinha um conhecimento formidável das escrituras. Ele podia sustentar cada coisa que dizia com evidências de toda a literatura védica. Às vezes ele formulava uma pergunta a um discípulo e se o discípulo não podia respondê-la com referência às escrituras, ele exclamava imediatamente: “Ele é um charlatão! Não seja um patife. Um vaishnava cita a autoridade.”

Dessa maneira Gour Govinda Swami estava sempre pregando destemidamente, nunca comprometendo as conclusões das escrituras objetivando ser “prático.” Ele costumava dizer: “Uma pessoa que não pode ver Krishna é cega. Ela pode falar sobre Krishna, mas está fazendo especulação mental .

Portanto, suas palavras nunca são eficientes. Um verdadeiro saddhu nunca fala teoricamente.”

Gour Govinda Swami sempe mantinha um diário e toda anotação ele concluía da mesma maneira: “Gopal sabe de todo serviço que esse servo possa ter feito hoje.” Todo dia ele orava a Gopal nesse seu diário: “Por favor me conceda a associação de bons devotos.”
Em 1991, no dia de Rama Navami, depois de dezesseis anos de esforços egrande determinação, Gour Govinda Swami cumpriu as instruções do seu querido mestre espiritual Shrila Prabhupada abrindo um magnífico templo em Bhubaneswara, com o nome de Shri Shri Krishna-Balarama mandir que vem crescendo e atraindo milhares de visitantes.

Ele nunca abandonou seu estilo de vida simples. Até seus últimos dias ele continuou a viver na mesma cabana de taipa que ele havia construído para Shrila Prabhupada em 1977. Os devotos pediram-lhe inúmeras vezes que incrementasse as atividades de administração, mas ele sempre se recusava, dizendo: “Não sou um administrador, sou um pregador.” No entanto, quando visitou Gadai-giri, onde passou a infância e onde residia o seu querido Gopal numa estrutura simples, que foi doada para a Iskcon, ele assumiu a responsabilidade de mais esse projeto, o de construir um magnífico templo para Gopal.

Gour Govinda Swami dizia: “Eu abri uma “escola de choro” aqui em
Bhubaneswara. A menos que se chore por Krishna, não poderemos ter a Sua misericórdia.” Essa foi a mensagem que ele pregou incessantemente pelo mundo inteiro durante os dez anos em que manifestou seus passatempos finais.

Em fevereiro de 1996, ele mencionou que: “Shrila Bhaktisiddhanta disse que esse mundo material não é um lugar para cavalheiros. Portanto, como estava desgostoso, abandonou esse mundo prematuramente. Eu também posso ir. Não sei. Vou perguntar para Gopal. Vou fazer o que Ele desejar.”

No dia seguinte Gour Govinda Swami foi para Gadai-giri para ver Gopal.

Depois de regressar, ele pregou mais vigorosamente do que nunca para milhares de pessoas reunidas no festival para o centenário de Shrila Prabhupada, em Bhubaneswara. Então ele partiu para o encontro anual dos dirigentes da Iskcon, em Shridhama Mayapura.
Em 9 de fevereiro de 1996, no dia do aparecimento de Shrila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, dois devotos antigos da Iskcon
pediram-lhe para se encontrar com ele à tarde. Eles nunca haviam
conversado com ele pessoalmente, mas estavam ansiosos em ouvi-lo contar algum passatempo depois de terem lido alguns de seus livros. Eles perguntaram: “Por que o Senhor Caitanya ficou em Jagannatha Puri?”

Deleitado com essa pergunta, ele começou a explicar o significado
confidencial  dos passatempos de Mahaprabhu em Puri. Ele descreveu com muita emoção a dor de saudades sentida por Radha e Krishna quando Krishna estava fora de Vrindavana.

Todos os devotos que estavam no quarto ficaram emocionados com o tema nectáreo da conversa, e ele finalmente chegou ao ponto em que Radha e Krishna Se unem depois da Sua longa
separação. Ele descreveu Krishna em êxtase ao ver RadharaNi e entrando na forma com os olhos arregalados e com as mãos e pés retraídos como uma tartaruga, manifestando a forma do Senhor Jagannatha. Nesse momento os devotos notaram lágrimas nos seus olhos, e notaram que sua voz ficou embargada. Quase que de forma inaudível, ele disse:

“Então os olhos de Krishna se encontraram com os de RadharaNi. União olho a olho.”

Incapaz de continuar, ele se desculpou de mãos postas: “Por favor me perdoem. Não posso falar.” Ele então deu as suas instruções finais:

“Kirtana! Kirtana!” Os devotos presentes começaram a cantar para o seu mestre espiritual, que calmamente deitou-se em sua cama, respirando lenta e profundamente. Um servo colocou um quadro de Gopal Jiu em sua mão. Então, contemplando amorosamente aquele quadro da sua Deidade adorável, Gour Govinda Swami exclamou:

“Gopal!” e partiu para o mundo espiritual para se unir com o seu Senhor amado.