O VERDADEIRO
JULGAMENTO DO AMOR
De acordo com
as autoridades médicas indianas, no corpo existe ar, bílis e muco, que
correspondem ao ar, fogo, e água, três elementos no éter que influenciam a
terra. A terra é principalmente influenciada pela água, e a água pelo calor, o
calor pelo ar, e todos estäo brigando, lutando dentro do éter. Esta é a
natureza do mundo material. Depois temos o mundo mental, a manifestaçäo da
energia mental: "Quero isto, näo quero aquilo; gosto disso, näo gosto
daquilo." E, a inteligência dá a diretriz para a mente: "Näo aceite
isso, aceite aquilo." Mas está tudo dentro do ahankara, ego material.
Acima disso temos a alma, que experimenta tudo, bom e mau. Esta chama-se
purusha:
purushah
sukha-duhkhanam, bhoktrtve hetur ucyate
(Bhagavad-gita
13.21)
"Estabeleceu-se
que é a entidade viva condicionada, o próprio purusha que é a causa responsável
dos sentimentos de alegria e tristeza que experimentamos neste mundo."
Essa é a
diferença entre espírito e matéria. Matéria, chamada prakrti, é energia, porém
a alma, purusha, experimenta bem e mal; ela é a pessoa que sente bem ou mal,
tristeza ou felicidade. Ela é de uma substância, e aquilo que é sentido é de
outra:
karya-karana-kartrtve,
hetuh prakrtir ucyate
(Bhagavad-gita
13.21)
"Certamente
neste mundo impermanente todo movimento ocorre através da qualidade inerente da
natureza material predominada, prakrti, que é responsável tanto pela causa (a
força dos sentidos) e efeito (o corpo material).
Portanto toda
atividade que encontramos aqui, todo movimento, é devido a essa energia
material, e quem sente tudo, quem conhece, quem concebe, é a alma. A alma é
como o olho, um olho vendo qualquer coisa e tudo.
Na filosofia
sankhya, este relacionamento prakrti-purusha tem sido comparado ao de um cego e
um aleijado. Um aleijado poderá andar sentado nos ombros de um cego. Aquele que
está se movendo (prakrti) é cego; e aquele que é aleijado, e que está em seus
ombros (purusha), tem olhos para ver e pode guiar. A alma está
"aleijada"; näo consegue mover-se, porém pode ver. O cego é o
comandante da energia, que pode movimentar-se aqui e ali; pode carregar, porém
é cego. Desta maneira, a alma é a conhecedora, quem sente, a existência
subjetiva, e o aspecto energético é aquele da força, prakrti. Portanto, há
força e consciência.
Estamos täo
absorvidos na força; só queremos a força, a energia, e esquecemos que somos
quem sente essa força! Este ser que a sente, é espantoso; se tentarmos
compreender nosso próprio ser, ficaremos estupefatos: "Oh, que é isso? Sou
de tal natureza! Näo tenho nada a ver com esse mundo da mortalidade; posso
viver independentemente deste mundo mortal? É assim mesmo?"
Entäo
conseguiremos compreender mais além, que existe uma Superalma. No mundo
material existem tantos planos diferentes: o mundo do calor, da água, do ar.
Tudo está evoluindo de um plano mais sutil para coisas mais grosseiras, como
pedra ou madeira. Assim como há desenvolvimento nesta direçäo no mundo
material, assim no mundo subjetivo também existe desenvolvimento, porém para
cima, da alma para a Superalma, até a Super-Superalma; desta maneira há
desenvolvimento e este é infinito. E nós somos tatastha, marginais; nossa alma
está na posiçäo marginal, entre o superior e o inferior, entre o lado sutil e o
lado grosseiro. O lado superior é eterno, é sat-chit-anandam, eterno,
consciente e feliz; e aqui: asat, acit, nirananda. É asat, vacilante, a cada
minuto está morrendo; e acit, inconsciente; e nirananda, sem nenhum sentimento
de júbilo ou felicidade. Estas säo as respectivas naturezas deste mundo, e
daquele mundo. E se quisermos ter associaçäo com aquele mundo, nos dizem que na
posiçäo superior há infinita beleza, amor, e êxtase. Esse mundo pode descer até
nós, e podemos ser aceitos como um dos membros familiares do Senhor. Podemos
viver como um membro familiar com a Entidade mais elevada daquele mundo!
Mahaprabhu nos disse que é possível, mas só através da afeiçäo, e näo pelo
conhecimento ou qualquer realizaçäo mística. Pela afeiçäo e amor podemos
atraí-Lo de tal maneira que possamos ser reconhecidos como membro familiar, uma
posiçäo muito próxima a Ele - a tal ponto é possível.
No
Bhagavad-gita o Senhor diz:
tato mam
tattvato jnatva, vishate tad anantaram
(Bhagavad-gita
18.55)
"Após
realizar Minha devida posiçäo, eles entram lá; isto é, na Minha própria
jurisdiçäo especial, na Minha família." E o Bhagavatam diz:
mamatma-bhuyaya
ca kalpate vai
(Srimad-Bhagavatam
11.29.34)
"Recebem
reconhecimento täo elevado que os qualifica a irem viver Comigo eternamente,
como Meus. Se eles se adiantarem desinteressadamente para satisfazer-Me,
deixando tudo de lado, ananya bhajana,
se quiserem somente a Mim e a nada mais, entäo esta é a futura perspectiva
deles."