terça-feira, 28 de outubro de 2014

 A Verdadeira Posição da Alma

No Srimad Bhagavad-gita, Sri Krsna diz a Arjuna a condição verdadeira da alma:
                       
acchedyo'yam adahyo'yam / akledyo 'sosya eva cha
nityah sarva-gatah sthanur / acalo yam sanatanah

"A alma individual é irrompível e insolúvel e não pode ser queimada e nem seca. A alma é permanente, está presente em toda parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma.” (Bg. 2. 24)

Krsna declara que a alma é sarva-gatah, onipenetrante. Ela pode agir em qualquer condição da criação divina, quer sob os auspícios da energia externa, quer sob os auspícios da energia interna de Bhagavan. E que, além disso, ela é acala, imóvel. Na verdade a alma encontra-se na condição de tatashtha-sakti, a energia marginal de Bhagavan. Segundo as autoridades no serviço devocional, esta energia se situa numa região intermediária entre o oceano causal e a criação material. A entidade viva (jiva) que se situa nesta posição tem o livre arbítrio de escolher onde se abrigar. Ela pode viver tentando desfrutar da posição de purusha na energia externa, sob as leis do dualismo, ou pode desfrutar de uma vida mais saudável, como serviçal eterna dos sentidos do Maha-purusha num mundo não-dual.
Os Puranas levam à conclusão que desfrutar de uma atmosfera não-dual, apropriada para uma entidade não-dual como a jiva, servindo aos sentidos de Bhagavan e sendo reciprocada por Bhagavan com a gratificação de seus sentidos, é muito mais saudável para a entidade viva.
Não é possível conceber se o tatashtha é um espaço real ou virtual. O mundo espiritual é acyntia, inconcebível para o padrão de raciocínio dualista. Fracassamos ao imaginá-lo como um determinado local segundo os padrões dualistas materiais. Como a alma é todo-penetrante ela pode estar em um determinado local e simultaneamente não estar em local algum.
Lokas, ou locais são espaços materiais. Na condição onipenetrante a alma desfruta de natureza acintya bhedabheda, ou seja, da inconcebível simultaneidade da sua posição constitucional. Esta realidade dualista que vivemos é apenas uma realidade virtual criada pela energia externa. A posição auto-realizada onde se desfruta prema é inconcebível para o pensamento material.
Praticamente todo o conceito de vida na cultura ocidental está baseado num conceito de vida corpórea; isto é, de identificação com o corpo físico. Há escolas filosóficas que admitem o conceito da existência do conjunto corpo e alma como tendo sido criados, ou passado a existir concomitantemente. O corpo seria perecível, mas a alma eterna. Mas onde conceber uma eternidade vinculada a um momento inicial, a partir da formação do conjunto alma-corpo? A eternidade não pode estar restrita a um início, pois deixaria de ser eterna. Seria no máximo perene, mas não absolutamente eterna. As escolas ateístas descartam a existência de uma alma que sobreviva ao desaparecimento do corpo. Após a morte do corpo a entidade viva estaria sujeita ao desaparecimento completo.
Os Puranas analisam exaustivamente estas duas perspectivas e levam ao conceito não-dual de uma existência vinculada à realidade da Verdade Absoluta. As entidades vivas são partes integrantes da Verdade Absoluta e como tal não necessitam de uma atmosfera dual para sua existência. Elas podem servir a esta Verdade Absoluta num plano dualístico, material, que está sujeito às vicissitudes dualísticas de existir e não-existir, e podem viver numa atmosfera não-dual, livre dos inconvenientes de existir dentro dos limites de um corpo físico e passar a não ter existência corpórea manifesta no cataclismo físico denominado “morte.”
O Srimad Bhagavatam, o Purana imaculado, define maravilhosamente este assunto num diálogo entre Krsna e Uddhava. Krsna explicou estes conceitos de vida e morte corpórea a Arjuna num campo de batalha, num momento decisivo e de muita expectativa. Arjuna apesar de ser extremamente inteligente, por ter assimilado todos os ensinamentos de Krsna em pouco menos de uma hora, era um guerreiro, um kshatriya. Não é de se esperar que especialistas em artes marciais sejam grandes filósofos.
Portanto, Krsna fez questão de explicar detalhadamente os mesmos pontos filosóficos a Uddhava, um pouco antes de abandonar este planeta. Uddhava era um grande filósofo e, além disso, era o ministro mais arguto de Krsna, sendo notável pela sua inteligência e preparo psicológico. Ele era tido como o mais perito analista de todas as circunstâncias duais que se pode conceber. Portanto, Krsna tem o mesmo diálogo que teve com Arjuna, e que se tornou famoso com o nome de Bhagavad-gita, com Uddhava e este diálogo está no décimo primeiro canto do Srimad Bhagavatam. E a respeito do conceito de vida e morte corpórea, Krsna faz questão de salientar a posição definitiva:
“Os grandes filósofos analisaram os elementos materiais que constituem este cosmos de muitas maneiras diferentes. Todas as propostas são razoáveis, pois todas são apresentadas com extensa lógica. Estas propostas filosóficas são deveras brilhantes. No entanto, estes mesmos elementos materiais são a causa do falso ego e este falso ego torna-se a causa de toda ilusão e dualidade materiais.
O argumento especulativo dos filósofos — ‘Este mundo é real’, ‘Não, ele não é real’ — baseia-se em conhecimento incompleto a respeito da Verdade Absoluta e visa apenas compreender as dualidades materiais. Embora esta argumentação seja inútil, aqueles que desviam a sua atenção de Mim, que sou a Causa de todas as causas, são incapazes de abandoná-lo.
A mente (que vive em função do falso ego) está presa às reações das atividades materiais e sempre medita nos objetos dos sentidos. Portanto, a mente parece que vem a ser e que depois sofre a aniquilação junto com os objetos de percepção, e dessa maneira perde a sua capacidade de distinguir entre o passado e o futuro.
Ao passar do corpo atual para o próximo corpo criado pelas suas próprias atividades materiais, a entidade viva absorve-se nas sensações agradáveis e dolorosas do novo corpo e esquece por completo a existência do corpo anterior. Este esquecimento total da sua identidade material anterior, causado por uma razão ou por outra, chama-se morte. E o que chamam de nascimento é apenas a identificação total da alma condicionada com o seu novo corpo. Ela completamente iludida, aceita o novo corpo assim como alguém aceita sem ressalvas a experiência de um sonho ou fantasia como sendo realidade. A alma condicionada em seu corpo atual, embora tenha existido antes dele, pensa que só recentemente veio a existir. E como a mente cria esta identificação com o novo corpo, ela se envolve com a dualidade deste mundo.
Os corpos materiais estão sempre passando por criação e destruição decorrentes da força do tempo, cuja rapidez é imperceptível. Devido à natureza sutil do tempo, ninguém nota estas mudanças. Aqueles que apenas desperdiçam as suas vidas equivocamente, pensam e dizem que cada fase particular do corpo é a verdadeira identidade do ser. No entanto, a entidade viva de fato não nasce e sendo imortal não morre. É em virtude da ilusão material que o ser vivo parece nascer e morrer.
Embora o corpo material seja diferente do eu, devido à ignorância decorrente da associação material, a entidade viva eterna equivocadamente se identifica com as condições corpóreas. Contudo, às vezes alguém muito afortunado é capaz de abandonar semelhante invenção mental. Quem compreende de modo realista a criação e destruição dos corpos materiais já não está sujeito a estas dualidades. Mas o homem sem inteligência, incapaz de distinguir-se da natureza material, pensa que a natureza é real, e devido ao contato com ela, acaba ficando completamente confuso e entra no ciclo da existência material, que o faz divagar por diferentes corpos como reação às suas atividades dualísticas.”

‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬