segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CONFERÊNCIA DE SRILA BHAKTIVINODA THAKUR 
PROFERIDA NO SÉCULO XIX

"Adoramos ler um livro que nunca lemos antes. Estamos ansiosos para reunir quaisquer informações que ele contenha, e com tais aquisições encerra-se nossa curiosidade. Esta forma de estudo prevalece entre um grande número de leitores que se consideram grandes homens em sua própria avaliação bem como na avaliação daqueles que são da mesma natureza. De fato, as maiorias dos leitores são meros repositórios de fatos e afirmativas feitas por outras pessoas. Mas isso não é estudo. O estudante deve ler os fatos com vistas a criar e não objetivando uma retenção infrutífera. Estudantes, igual a satélites, deveriam refletir qualquer luz que recebem dos autores e não aprisionar os fatos e pensamentos tal como juízes que aprisionam os convictos na prisão!
O pensamento é progressivo. O pensamento do autor deve progredir no leitor na forma de correção ou de desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento posterior de um pensamento antigo; mas o mero denunciante é um inimigo do progresso e consequentemente da natureza. O progresso é certamente a lei da natureza, e devem existir correções e desenvolvimentos com o passar do tempo. Mas progresso significa ir além ou elevar-se. O crítico superficial e o leitor infrutífero são os dois maiores inimigos do progresso. Queremos nos afastar deles.
O verdadeiro crítico, por outro lado, nos aconselha a preservarmos o que já obtivemos e a ajustarmos nossa corrida desde o ponto em que chegamos ao calor de nosso progresso. Ele jamais nos aconselhará a retornarmos ao ponto de partida, pois ele sabe bem que nesse caso seria uma total e infrutífera perda de nosso tempo e labor valiosos. Ele orientará o ajuste do ângulo de nossa corrida no ponto em que nos encontramos.
Essa é também a característica do estudante útil. Ele lerá um autor antigo e encontrará sua exata posição no progresso do pensamento. Ele jamais proporá queimar um livro por considerar que contém pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil. Pensamentos são meios pelos quais atingimos nossos objetivos. O leitor que denuncia um mau pensamento não sabe que uma má estrada é capaz de ser melhorada e convertida numa boa estrada. Um pensamento é uma estrada que leva a outro. Assim, o leitor descobrirá que um pensamento, que é o objetivo hoje, amanhã será o meio para um objetivo posterior. Pensamentos necessariamente continuarão a ser uma série infindável de meios e objetivos no progresso da humanidade.
Os grandes reformadores sempre afirmarão que não vieram para destruir a velha lei, mas para satisfazê-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus, Maomé, Confúcio e Chaitanya Mahaprabhu vieram para afirmar o fato, seja expressamente ou por sua conduta.
Nosso crítico, contudo, pode nobremente nos dizer que um reformador como Vyasa - a menos que seja puramente explicado - no futuro, poderá trazer problemas a milhares de homens. Mas, meu caro crítico, estude a história das eras e dos países! Onde você encontra o filósofo e reformador sendo totalmente compreendido pelas pessoas? A religião popular é o medo de Deus e não o amor puro e espiritual que Platão, Vyasa, Jesus e Chaitanya ensinaram a seus contemporâneos em particular! Seja que você transmite a religião absoluta em imagens ou expressões simples, ou a ensina por meio de livros ou palestras públicas, os ignorantes e imprudentes precisam degradá-la.
 Na verdade, é muito fácil de dizer e fácil de ouvir que a Verdade Absoluta tem tal afinidade com a alma humana que se manifesta intuitivamente e que não há necessidade de esforço algum para ensinar os preceitos da verdadeira religião, mas esta é uma idéia enganosa. Pode ser verdade no que se refere à ética e ao alfabeto da religião, mas não no que se refere à forma mais elevada de fé, que exige uma alma elevada para sua compreensão. Todas as verdades elevadas, ainda que intuitivas, exigem uma educação prévia nas verdades mais simples. A religião mais pura é a que nos concede a mais pura idéia de Deus. Como então é possível que o ignorante jamais obtenha a religião absoluta, enquanto permanecer ignorante?
Assim, não devemos escandalizar o Salvador de Jerusalém ou o Salvador de Nadia por estes males subsequentes. Queremos Luteros em vez de críticos para corrigir esses males pela verdadeira interpretação dos preceitos originais.
Deus nos dá a verdade como a deu a Vyasa quando buscamos ansiosamente por ela. A verdade é eterna e inexaurível. A alma recebe uma revelação quando está ansiosa por ela. As almas dos grandes pensadores de eras passadas - que atualmente vivem espiritualmente - muitas vezes se aproximam de nosso espírito inquiridor e o ajudam em seu desenvolvimento. Desse modo, Vyasa foi assistido por Narada e por Brahma. Nossos sastras - ou, em outras palavras, os livros de pensamentos - não contêm tudo o que podemos conseguir do Pai infinito. Nenhum livro está livre de erros. A revelação de Deus é a Verdade Absoluta, mas é raramente recebida e preservada em sua pureza natural. Fomos aconselhados no Srimad Bhagavatam (11.14.3) a acreditarmos que a verdade, quando revelada, é absoluta, mas recebe a tintura da natureza do recebedor no curso do tempo, e se converte em erro pela troca contínua de mãos de era em era. Portanto, novas revelações são necessárias continuamente a fim de manter a verdade em sua pureza original. Somos desse modo alertados a sermos cuidadosos em nossos estudos de autores antigos, por mais sábios que sejam considerados. Aqui, temos liberdade total para rejeitarmos a idéia errada, que não for sancionada pela paz de consciência.
Vyasa não estava satisfeito com o que ele reuniu nos Vedas, arrumou nos Puranas e compôs no Mahabharata. A paz de sua consciência não aprovava seu esforço. Disse-lhe internamente: "Não, Vyasa,! Você não pode descansar feliz com o quadro equivocado da verdade que foi necessariamente apresentada por você para os sábios de eras passadas! Você mesmo deve bater à porta do estoque inesgotável de verdade de onde os sábios de antanho obtiveram sua riqueza. Vá! Ascenda até a fonte da verdade, onde nenhum peregrino se encontra com o desapontamento de qualquer tipo." Vyasa fez isso e obteve o que desejava. Nós todos fomos aconselhados a fazer o mesmo.
Portanto, devemos considerar que o princípio da liberdade é o presente mais valioso de Deus. Não devemos nos permitir de sermos guiados por aqueles que viveram e pensaram antes de nós. Devemos pensar por nós mesmos e tentarmos obter verdades suficientes que ainda não foram descobertas. No Srimad-Bhagavatam (11.21.23) fomos aconselhados a aceitarmos o espírito dos Sastras e não suas palavras. Bhagavata é, portanto, uma religião de liberdade, verdade sem misturas e amor absoluto.
Sua outra característica é o progresso. A liberdade é certamente a mãe de todo progresso. A liberdade sagrada é a causa do progresso ascendente que ascende rumo à eternidade e à atividade infinidável do amor. A liberdade mal utilizada causa a degradação, e o vaishnava deve sempre utilizar com muito cuidado este presente elevado e belo de Deus.
O espírito deste texto almeja poder chegar a honrar todos os grandes reformadores e professores que viveram e viverão em outros países. O vaishnava está pronto a honrar todos os homens sem distinção de casta, pois todos estão repletos da energia de Deus. Veja quão universal é a religião do Bhagavata. Não se destina apenas a certa classe de hindus, mas é um presente para toda a humanidade, em qualquer país em que ele nasça e em qualquer sociedade em que tenha crescido. Em resumo, o vaishnavismo é o Amor Absoluto que une todos os homens ao Deus infinito, incondicionado e absoluto. Que a paz possa reinar para sempre em todo o universo no desenvolvimento contínuo de sua pureza pelo esforço dos futuros heróis, que serão abençoados segundo a promessa do Bhagavata com poderes do Pai Todo-poderoso, o Criador, o Preservador e o Aniquilador de todas as coisas no Céu e na Terra. "
‪#‎ConsciênciaDespertaPREMA‬


(Palestra proferida em Inglês em 1869 em Dinajpur, Bengala Ocidental)