CONFERÊNCIA
DE SRILA BHAKTIVINODA THAKUR
PROFERIDA NO SÉCULO XIX
"Adoramos ler um
livro que nunca lemos antes. Estamos ansiosos para reunir quaisquer informações
que ele contenha, e com tais aquisições encerra-se nossa curiosidade. Esta
forma de estudo prevalece entre um grande número de leitores que se consideram
grandes homens em sua própria avaliação bem como na avaliação daqueles que são
da mesma natureza. De fato, as maiorias dos leitores são meros repositórios de
fatos e afirmativas feitas por outras pessoas. Mas isso não é estudo. O
estudante deve ler os fatos com vistas a criar e não objetivando uma retenção
infrutífera. Estudantes, igual a satélites, deveriam refletir qualquer luz que
recebem dos autores e não aprisionar os fatos e pensamentos tal como juízes que
aprisionam os convictos na prisão!
O pensamento é progressivo.
O pensamento do autor deve progredir no leitor na forma de correção ou de
desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento
posterior de um pensamento antigo; mas o mero denunciante é um inimigo do
progresso e consequentemente da natureza. O progresso é certamente a lei da
natureza, e devem existir correções e desenvolvimentos com o passar do tempo.
Mas progresso significa ir além ou elevar-se. O crítico superficial e o leitor
infrutífero são os dois maiores inimigos do progresso. Queremos nos afastar
deles.
O verdadeiro crítico,
por outro lado, nos aconselha a preservarmos o que já obtivemos e a ajustarmos
nossa corrida desde o ponto em que chegamos ao calor de nosso progresso. Ele
jamais nos aconselhará a retornarmos ao ponto de partida, pois ele sabe bem que
nesse caso seria uma total e infrutífera perda de nosso tempo e labor valiosos.
Ele orientará o ajuste do ângulo de nossa corrida no ponto em que nos
encontramos.
Essa é também a
característica do estudante útil. Ele lerá um autor antigo e encontrará sua
exata posição no progresso do pensamento. Ele jamais proporá queimar um livro
por considerar que contém pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil.
Pensamentos são meios pelos quais atingimos nossos objetivos. O leitor que
denuncia um mau pensamento não sabe que uma má estrada é capaz de ser melhorada
e convertida numa boa estrada. Um pensamento é uma estrada que leva a outro.
Assim, o leitor descobrirá que um pensamento, que é o objetivo hoje, amanhã
será o meio para um objetivo posterior. Pensamentos necessariamente continuarão
a ser uma série infindável de meios e objetivos no progresso da humanidade.
Os grandes reformadores
sempre afirmarão que não vieram para destruir a velha lei, mas para
satisfazê-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus, Maomé, Confúcio e Chaitanya
Mahaprabhu vieram para afirmar o fato, seja expressamente ou por sua conduta.
Nosso crítico, contudo,
pode nobremente nos dizer que um reformador como Vyasa - a menos que seja
puramente explicado - no futuro, poderá trazer problemas a milhares de homens.
Mas, meu caro crítico, estude a história das eras e dos países! Onde você
encontra o filósofo e reformador sendo totalmente compreendido pelas pessoas? A
religião popular é o medo de Deus e não o amor puro e espiritual que Platão,
Vyasa, Jesus e Chaitanya ensinaram a seus contemporâneos em particular! Seja
que você transmite a religião absoluta em imagens ou expressões simples, ou a
ensina por meio de livros ou palestras públicas, os ignorantes e imprudentes
precisam degradá-la.
Na verdade, é muito fácil de dizer e fácil de
ouvir que a Verdade Absoluta tem tal afinidade com a alma humana que se
manifesta intuitivamente e que não há necessidade de esforço algum para ensinar
os preceitos da verdadeira religião, mas esta é uma idéia enganosa. Pode ser
verdade no que se refere à ética e ao alfabeto da religião, mas não no que se
refere à forma mais elevada de fé, que exige uma alma elevada para sua
compreensão. Todas as verdades elevadas, ainda que intuitivas, exigem uma
educação prévia nas verdades mais simples. A religião mais pura é a que nos
concede a mais pura idéia de Deus. Como então é possível que o ignorante jamais
obtenha a religião absoluta, enquanto permanecer ignorante?
Assim, não devemos
escandalizar o Salvador de Jerusalém ou o Salvador de Nadia por estes males
subsequentes. Queremos Luteros em vez de críticos para corrigir esses males
pela verdadeira interpretação dos preceitos originais.
Deus nos dá a verdade
como a deu a Vyasa quando buscamos ansiosamente por ela. A verdade é eterna e
inexaurível. A alma recebe uma revelação quando está ansiosa por ela. As almas
dos grandes pensadores de eras passadas - que atualmente vivem espiritualmente
- muitas vezes se aproximam de nosso espírito inquiridor e o ajudam em seu
desenvolvimento. Desse modo, Vyasa foi assistido por Narada e por Brahma.
Nossos sastras - ou, em outras palavras, os livros de pensamentos - não contêm
tudo o que podemos conseguir do Pai infinito. Nenhum livro está livre de erros.
A revelação de Deus é a Verdade Absoluta, mas é raramente recebida e preservada
em sua pureza natural. Fomos aconselhados no Srimad Bhagavatam (11.14.3) a
acreditarmos que a verdade, quando revelada, é absoluta, mas recebe a tintura
da natureza do recebedor no curso do tempo, e se converte em erro pela troca
contínua de mãos de era em era. Portanto, novas revelações são necessárias
continuamente a fim de manter a verdade em sua pureza original. Somos desse
modo alertados a sermos cuidadosos em nossos estudos de autores antigos, por
mais sábios que sejam considerados. Aqui, temos liberdade total para
rejeitarmos a idéia errada, que não for sancionada pela paz de consciência.
Vyasa não estava
satisfeito com o que ele reuniu nos Vedas, arrumou nos Puranas e compôs no
Mahabharata. A paz de sua consciência não aprovava seu esforço. Disse-lhe
internamente: "Não, Vyasa,! Você não pode descansar feliz com o quadro
equivocado da verdade que foi necessariamente apresentada por você para os
sábios de eras passadas! Você mesmo deve bater à porta do estoque inesgotável
de verdade de onde os sábios de antanho obtiveram sua riqueza. Vá! Ascenda até
a fonte da verdade, onde nenhum peregrino se encontra com o desapontamento de
qualquer tipo." Vyasa fez isso e obteve o que desejava. Nós todos fomos
aconselhados a fazer o mesmo.
Portanto, devemos
considerar que o princípio da liberdade é o presente mais valioso de Deus. Não
devemos nos permitir de sermos guiados por aqueles que viveram e pensaram antes
de nós. Devemos pensar por nós mesmos e tentarmos obter verdades suficientes
que ainda não foram descobertas. No Srimad-Bhagavatam (11.21.23) fomos
aconselhados a aceitarmos o espírito dos Sastras e não suas palavras. Bhagavata
é, portanto, uma religião de liberdade, verdade sem misturas e amor absoluto.
Sua outra
característica é o progresso. A liberdade é certamente a mãe de todo progresso.
A liberdade sagrada é a causa do progresso ascendente que ascende rumo à
eternidade e à atividade infinidável do amor. A liberdade mal utilizada causa a
degradação, e o vaishnava deve sempre utilizar com muito cuidado este presente
elevado e belo de Deus.
O espírito deste texto
almeja poder chegar a honrar todos os grandes reformadores e professores que
viveram e viverão em outros países. O vaishnava está pronto a honrar todos os
homens sem distinção de casta, pois todos estão repletos da energia de Deus. Veja
quão universal é a religião do Bhagavata. Não se destina apenas a certa classe
de hindus, mas é um presente para toda a humanidade, em qualquer país em que
ele nasça e em qualquer sociedade em que tenha crescido. Em resumo, o vaishnavismo
é o Amor Absoluto que une todos os homens ao Deus infinito, incondicionado e
absoluto. Que a paz possa reinar para sempre em todo o universo no
desenvolvimento contínuo de sua pureza pelo esforço dos futuros heróis, que
serão abençoados segundo a promessa do Bhagavata com poderes do Pai
Todo-poderoso, o Criador, o Preservador e o Aniquilador de todas as coisas no
Céu e na Terra. "
#ConsciênciaDespertaPREMA
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(Palestra proferida em
Inglês em 1869 em Dinajpur, Bengala Ocidental)