domingo, 31 de dezembro de 2017

Os Três  tipos de Objetivos

(baseado em ensinamentos de Srila Sridhara Maharaj) 
Porque a alma é uma partícula de consciência, ela é dotada de livre arbítrio.  Eliminando o livre arbítrio, só resta a matéria grosseira.  Sem independência, a alma não consegue progredir do cativeiro à liberação, e sua salvação final seria impossível.  Mas seu espírito de exploração é uma força alheia, um intoxicante — um erro de cálculo que envolve sua independência.
Os objetivos de vida podem ser analisados cientificamente como sendo de três tipos:  exploração, renúncia, e dedicação.  A tendência mais comum é daqueles ocupados na exploração de outras pessoas, espécies, ou elementos, para gozo dos sentidos mundano.  Estas pessoas desejam elevar-se materialmente no atual meio ambiente, e portanto são descritas como elevacionistas.  Uma classe mais sóbria descobre as severas reações iguais e opostas das atividades mundanas, e assim se ocupam na renúncia ao mundo, em busca de um equilíbrio comparável a um sono profundo, sem sonhos.  Ao permanecerem desacordados para o mundo, eles esperam escapar de suas reações e sofrimentos concomitantes. Portanto a meta deles é liberação, e são conhecidos como salvacionistas ou liberacionistas.  Porém através da interpretação correta das Escrituras Reveladas feita por devotos sábios como Sri Sanatana Goswami, Sri Jiva Goswami, e Sri Ramanuja, os devotos da Divindade sabem que as atividades da exploração bem como da renúncia são não só infrutíferas, como também prejudiciais ao verdadeiro progresso.
O plano normal, saudável, e feliz  é na vida de dedicação.  Sem explorar ou emprestar qualquer coisa do meio ambiente, e sem tentar renunciar artificialmente ao mesmo, quem for sincero em sua dedicação naturalmente entra em contato com um plano de vida mais elevado e mais sutil.  Através de sua prontidão em dar e servir, a pessoa alcançará uma sociedade mais elevada e conseguirá um mestre apropriado.  O espírito de desfrutar nos força a nos associar com uma seção inferior, a fim de controlar e desfrutar,  o espírito de renúncia seduz  mesmo os eruditos pela sua superioridade “prestigiosa” em relação à exploração.  Portanto isto é mais perigoso, assim como uma meia-verdade é mais perigosa que uma inverdade,  Como é difícil acordar alguém do mais profundo sono possível, os liberacionistas poderão permanecer por tempo incalculável em sua cela de liberação não diferenciada.  Porém a existência mais elevada convidará ao serviço a pessoa que desejar dedicar-se puramente sem remuneração.
Seva — serviço, dedicação, é o summum bonum dos ensinamentos da escola Vaishnava, o terceiro plano da vida onde cada unidade é um membro dedicando num todo orgânico.  Num ajuste normal destes, a todos se assistem mutuamente em seu serviço ao centro, o recipiente mais elevado, a entidade mais elevada.  Tudo está existindo para satisfazer a Ele, porque Ele tem que possuir esta qualificação para ser o Absoluto.  Ele é a causa primordial de todas causas — e tudo existe para Ele, para satisfazê-Lo.
Um conceito rido de mera “ausência de morte não pode conceder-nos qualquer conhecimento de algo positivo, mas somente liberta do lado negativo.  Se a imortalidade significa ”nenhuma influência da mortalidade”, o que então, é seu conceito positivo?  Qual será a natureza, movimento, e progresso daquilo que é imortal?  Sem esta compreensão, imortalidade é só uma idéia abstrata.  Porque não parece demonstrar os sintomas da morte, uma pedra seria ”mais imortal que seres humanos, e as entidades conscientes seriam ”mortais”, aos quais a imortalidade seria eternamente negada.  Qual é, então, este conceito positivo de imortalidade?  Como é que os imortais são “imortais”?  Qual é a realidade positiva na imortalidade  Como se pode virar imortal?  A pessoa deve buscar sua localização intrínseca na ordem universal.  Não será suficiente tentar resolver só o lado negativo da vida que é cheia de sofrimento — nascimento, morte, fraqueza e doença.  Devemos saber que existe um conceito de vida pelo qual vale a pena viver.  Este lado positivo tem sido totalmente negligenciado nas visões religiosas em geral.
A ”imortalidade propalada pelas escolas de Budha e Shankaracharya não leva  à vida positiva.  Suas metas são o maha-nirvana e brahma-sayujya respectivamente.  A teoria budista é que após a liberação, nada permanece.  Eles almejam à extinção absoluta da existência material (prakriti-nirvana),   a teoria da liberação monista de Shankaracharya é perder-se a individualidade ao “tornar-se uno com o aspecto não diferenciado do Absoluto.  Isto é, eles desejam a extinção no Brahman (brahma-nirvana).  Eles postulam que, quando a tríade daquele que vê, daquilo que é visto, e do ato de ver (drasta-drsya-darshana), ou quando o conhecedor, o cognoscível, e o conhecimento (jnata-jneya-jnana) culminam num ponto, a tríade é destruída (triputi-vinasa) e nada mais resta.
A ação e reação material cessam no Viraja, o rio da passividade, o qual se localiza na margem superior deste mundo ilusório (mayika), acima do Viraja está o destino dos Shankaritas — o estagio de ”abcissa” ou o plano não diferenciado de Brahman, chamado Brahmaloka, o qual está situado na borda inferior do reino espiritual.  Ambas são ideias vagas de “imortalidade negativa”. Brahmaloka é um estagio marginal ou “amortecedor a meio caminho entre os mundos espiritual e material, Composto de inumeráveis almas, é um plano imortal destituído de variedade específica (nirvishesha), Possui positividade somente no sentido de que é um plano de existência, um pano de fundo (kastha), porém por si só carece do desenvolvimento positivo da existência variada (kala), A natureza do pano de fundo é a unidade, e o desenvolvimento tecido por cima dele necessita pluralidade ou uma natureza diferenciada (kala-kasthadi rupena parinama-pradayani — Candi, Markandeya Purana).
No Bhagavad-gita (15.16), são descritas existências mutáveis (ksara- e imutáveis (aksara), representando o pessoal e o impessoal, o desenvolvimento e a base, ou conceitos diferenciados e não diferenciados de existência geral, O mutável é representado pela multidão de seres vivos encarnados, enquanto que o aspecto imutável é a grande extensão do Absoluto todo-acomodante, o Brahma (8.3), Na análise da ação mundana, a forma mais sutil de ação passada não frutificada, anterior à tendência presente (o estagio de muda ou broto- de pecado, tem sido definido (B.r.s, Purva 1.23- como incognoscível, indistinto, e de origem inaveriguável (kuta), O imutável aspecto Brahma do Absoluto é da mesma forma definido como sendo unidimensional — indefectível, não específico, e de nenhuma cor, som, ou gosto definido, uma incógnita e incognoscível, um estagio ”não compreensível da existência (kuta), Porém o Senhor Supremo, Krishna, está acima tanto da existência mutável como da imutável, e assim Suas glórias são cantadas através dos Vedas e no mundo como Purushotama, a Suprema Personalidade (Bg.15.18), Sri Shukadeva Goswami afirma que no plano mais remoto e distante, encontramos o Senhor Krishna∫  Ele está em toda parte — a fonte de todos os conceitos (vidura-kasthaya, Bha, 2.4.14),  Ele não pode ser eliminado.
Portanto, a “imortalidade de escolas impersonalistas tais como dos budistas, Shankaritas, etc., não oferece vida positiva,  Porém no Vaishnavismo, a imortalidade é existência positiva, dinâmica,  Acima do Brahman não diferenciado, aspecto do Absoluto, a existência transcendental, variada começa no primeiro vislumbre do céu espiritual, no plano conhecido como o Reino positivo de Deus, primeiro Vaikuntha, então Ayodhya, Dvaraka, Mathura, e finalmente, acima de tudo, Goloka,  Transcendendo as áreas vagas de ”imortalidade negativa às quais os impersonalistas aspiram, os devotos — os Vaishnavas — dedicam-se à vida de eterno serviço devocional ao Senhor Supremo do reino transcendental (Bg, 18.54),  Embora a alma possa adaptar-se mal ao estado caído de existência nos planos da exploração e da renúncia, ela é em sua essência adaptável à vida positiva no Reino de Deus,  E, plenamente desabrochada, ela alcança o reino de Goloka (svarupe sahara haya golokete sthiti — Sri Sri Krsnera Astotara-satã-nama).

Jaya Radhe!