sábado, 28 de fevereiro de 2015



OFENSA CONTRA UM VAISHNAVA

Voltamos ao tema da vaishnava-aparadha, objeto de um vídeo-aula postado em nosso canal do Youtube. Os shastras dizem que um devoto prêmico, aquele que realmente alcançou prema, a meta suprema no relacionamento amoroso com a Verdade Absoluta, não está sujeito aos reveses de uma vaishnava-aparadha. No entanto, nem mesmo o nosso maior acharya, Shrila Rupa Gosvami Prabhupada, parece ter escapado dos efeitos nocivos de uma vaishnava-aparadha, mesmo que tenha se submetido a este evento apenas para nos mostrar sua misericórdia dando o seu exemplo pessoal.
Shrila Rupa Gosvami, no final da sua vida, costumava estar completamente absorto na contemplação da lila de Radha e Krishna, dia e noite. Antes dessa lila se manifetar em seu coração com tanta intensidade, ele recebia inúmeras pessoas que vinham aconselhar-se sobre bhajana e buscar a sua orientação. Ele sempre as recebia e as ouvia pacientemente, resolvia as suas dúvidas e as deixava satisfeitas. Mas agora, devido ao fato de viver absorto contemplando a lila, ele nem se dava conta da presença das pessoas. Elas vinham e sentavam perto dele por algum tempo, na expectativa que ele recobrasse a consciência para o mundo exterior e que pudesse atendê-las. Mas depois de algum tempo elas iam embora desapontadas.
Certo dia um aleijado, mas um vaishnava muito respeitado, chamado Krishnadasa, veio vê-lo com o intuito de sanar alguns problemas. Nesta ocasião Rupa estava completamente absorto numa lila muito interessante: Radha estava tentando segurar o galho de uma árvore para colher uma flor. O galho estava fora do Seu alcance. Ela ficava pulando para alcançá-lo, mas não conseguia. Krishna estava olhando de longe, veio devagarinho por detrás dEla e sem que Ela percebesse, puxou o galho para Ela. Assim que Ela segurou o galho, Ele saiu e A deixou pendurada como um pêndulo. Rupa estava rindo disso. Krishnadasa achou que ele estava rindo do seu defeito físico e foi embora irado, mas Rupa nem notou o que estava acontecendo.
De repente o fluxo de lila na mente de Rupa acabou. Por mais que ele tentasse, não pôde vê-la novamente. Ele ficou inquieto por causa disso. Sem ver a lila a sua vida era impossível. Ele não podia compreender porque a lila tinha se interrompido tão abruptamente. Ele foi ver Sanatana Goswami para tentar resolver o problema. Sanatana lhe disse:
- Intencionalmente ou não, você deve ter cometido alguma ofensa contra algum vaishnava. É por isso que a sua visão da lila parou. Ela só vai voltar novamente se você for se desculpar com o vaishnava pela ofensa cometida.
- Não tenho conhecimento de ter cometido qualquer ofensa contra ninguém. Mas posso tê-la cometido sem saber. Como posso saber contra quem cometi a ofensa?
-Você deve organizar um festival e convidar todos os vaishnavas daqui. Se algum deles não aceitar o seu convite, você pode concluir que foi contra ele que você cometeu a ofensa.
Rupa seguiu o conselho. Quando seu mensageiro foi convidar Krishnadasa baba, este recusou o convite, muito irado e indignado, descrevendo como fora insultado naquele dia.
Rupa Goswami foi se desculpar com ele e explicar-lhe o motivo pelo qual estava rindo. Ele ficou satisfeito com o pedido de desculpas e Rupa voltou a ter a visão da lila.
Este episódio é muito importante para todos os sadhakas (aspirantes ao serviço devocional puro). Mahaprabhu insistiu muito para que nos precavêssemos contra a vaishnava-aparadha. Ele já havia salientado isso quando deu instruções para Rupa durante os seus ensinamentos sobre bhakti. Ele já havia lhe dito que bhakti é como uma plantinha tenra e que a ofensa contra um vaishnava é como um elefante louco, de quem o sadhaka deve protegê-la, para que ela não seja destruída. Talvez este episódio com Rupa tenha sido uma maneira de sempre enfatizar a gravidade desta ofensa.
É lamentável que alguns vaishnavas ignorem este aviso de Mahaprabhu, e devido à sua visão defeituosa ou mentalidade mesquinha insultem outros vaishnavas. O Hari-bhakti-vilasa diz:
"Um vaishnava está condenado se ele odeia outro vaishnava, ou se fica irado com ele, ou se tem má vontade com ele, se fala mal dele, ou mesmo se não expressar felicidade e o cumprimentar devidamente ao encontrá-lo."
Shri Bhagavan, Krishna,  ama o Seu devoto mais do que a Si mesmo. Portanto, Ele sente-Se magoado quando um vaishnava fica magoado. Nem mesmo Ele tem o poder de proteger a pessoa que comete uma ofensa contra um vaishnava 


#ConsciênciaDespertaPREMA  #Prema 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O coração está cheio de diferentes amarras. Nós amarramos com esta ou aquela ideia - milhares de ideias. Estamos amarrados por: “Gosto disso. Gosto daquilo. Gosto.” Porém existe certo tipo de conhecimento que pode descender até nós internamente e que fará com que todas essas amarras sejam soltas de uma só vez.

#ConsciênciaDespertaPREMA  #Prema

Canal Prema: Saiba a Causa dos Sofrimentos, Misérias e Doenças clicando na imagem abaixo  
https://www.youtube.com/watch?v=pUofyy5T4PI

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Srila Narayana Maharaj Ensina
Devoto: Gurudeva, podemos obter associação de alta classe por ler o shastra e por ler os seus livros e os livros de Srila Prabhupada?
 
BVNM: Se você for sincero, não ofensivo, e estiver ouvindo tudo isso, pode abandonar tudo por ouvir, devido a essa classe de associação, como no tempo de Swamiji. Sei que todos esses moços, adolescentes, moços e moças, correram para a missão dele cegamente, sem conhecer nada, por ele. Sei que essas moças, Vrndavana Vilasini e muitas outras, estiveram o tempo todo, vinte e quatro horas por dia, encontrando-se com todo tipo de gente ruim, em aeroportos, portos, locais onde havia jogo, em toda parte. Elas não ligavam para as suas vidas, eram adolescentes, muito belas naquela época, elas levavam os livros e os distribuíam cantando: Hare Krishna Hare Krishna, Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare.  
Agora estou vendo a falta dessas coisas, elas já não têm a inspiração que tinham na adolescência, agora as moças e rapazes não têm tanto entusiasmo em pregar, em fazer kirtana e em distribuir livros. Naquela época eles podem ter tido a experiência de como eram entusiasmados. Às vezes distribuíam livros até em aviões e faziam muitas coisas.
Por isso quero que este nagara-sankirtana volte a ser feito novamente com aquele espírito, a distribuição de livros deve ser feita com aquele mesmo espírito, do contrário não é pregação. Servir  a gurudeva,  essa é a tendência que devemos seguir. Mas, apesar disso ser externo, mesmo assim,  irá nos levar à introspecção. Sempre tentem ser introspectivos.

BN: A pergunta dele foi se por ler livros pode se obter esse tipo de...
 
BVNM: Por ler livros você não pode obter isso nem em lakhs e mais lakhs de anos. Isso pode ajudar um pouco. Se vocês estiverem tendo a associação  de alguém vivo, uma associação de alta classe, vocês poderão compreender todos os significados. Vocês podem ler os livros, mas onde terão conhecimento do tom da palavra ou da sentença que ali foi escrita. Sabem o que é o tom?
 
Syd: Significado.
 
Devoto: Humor, o humor.
 
BVNM: Qual foi o humor com aquilo foi dito. Por exemplo:
Rama, onde Você foi? (indagando)
Rama, onde Você foi? (irado)
Rama, onde Você foi? (falando como brincadeira)
 
Então? Como vocês vão ficar sabendo desse tom no Gita, no Bhagavata nos meus livros e nos livros de Swamiji. Eu lhes disse três tons, mas existem tantos outros. E então o que vocês terão? Por isso: yata bhagavata para, vaishnava para. Vocês devem ir e ouvir todas essas coisas, todos os sastras na associação de vaishnavas de alta classe.
Eles irão dar novos, sempre novos, significados muito agradáveis e vocês irão dar pulos ao ouvi-los, isso estará saturado de amor e afeição. Todas as lágrimas e temores do âmago dos seus corações estarão saturados de amor e afeição.
 
Extraído de uma aula dada por Srila Bhaktivedanta Narayana Maharaja no Havai, em 20 de maio de 1999. 


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domingo, 22 de fevereiro de 2015



O Que é Krsna Prema?

Extraído do "Bhakti-rasamrita-sindhu-bindu", um comentário de Srila Visvanatha Cakravarti Thakura  do "Bhakti-rasamrita-sindhu" de  Srila Rupa Goswami, com comentários de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, apresentado e comentado por Srila Bhaktivedanta Narayana Maharaja:

Krsna-prema é uma realidade eternamente estabelecida; ele não ocorre devido ao sadhana. Ele se manifesta automaticamente no coração purificado pela realização dos vários processos (angas) de bhakti tais como sravana, kirtana, etc.

Bhava é o estágio inicial, indistinto, de prema, e também é conhecido como prema-ankura, ou o broto de prema. A condição madura, ou altamente intensificada de bhava é denominada prema. Portanto, a bhava a que nos referimos também é uma realidade estabelecida eternamente (nitya-siddha-vritti).

A palavra bhava tem sido usada no sentido de upalaksana. Upalaksana significa o ato de implicar algo que não foi expresso distintamente. Upa é um prefixo que significa literalmente em direção a, ao lado de, juntamente com, etc. Quando ao se descrever uma determinada característica (laksana) uma segunda característica é implicada simultânea e indiretamente, isso de chama upalaksana. Portanto a palavra bhava também implica as angas de bhakti, tais como sravana, kirtana, empreendidas como anubhavas ou ações resultantes de bhava-bhakti.

Apesar de Sri Krsna ter “aparecido” na casa de Vasudeva, não devemos imaginar que Vasudeva fez Krsna nascer. Isso é incorreto. Analogamente, não devemos imaginar que o sadhana faz bhava nascer. Isto é, bhava se manifesta automaticamente, por si mesma, nos ouvidos, na língua e noutros sentidos que foram purificados pelo sadhana.

 Nessa ocasião, as atividades de sadhana como sravana e kirtana, estando completamente constituídas de bhava, se igualam à sua natureza. Então elas passam a ser nitya-siddha sendo anubhavas de nitya-siddha-bhava-bhakti. Portanto, as angas de sravana, kirtana, etc., se manifestam por si mesmas automaticamente na língua, nos ouvidos e nos demais sentidos das pessoas que se dedicam às nitya-siddha-angas de bhakti. Isso ocorre devido ao fato de bhakti ser uma função especializada da svarupa-sakti de Bhagavan. 

#Prema #DespertandoConsciênciaPREMA

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Vedas ou Hindu?
 (Texto baseado em uma conferência proferida por Srila Prabhupada na Inglaterra, nos anos 70)

Na epistemologia védica, pratyaksa, literalmente empirismo,  é o caminho para se  adquirir conhecimento mediante os sentidos materiais.  Ainda segundo  os Vedas, que significa Conhecimento Original Revelado,   a entidade viva, em seu estado condicionado ao mundo material, está sujeita à muitas deficiências.  O que diferencia uma alma condicionada de uma alma liberada é que a alma condicionada tem quatro tipos de defeitos.   O primeiro defeito é que ela não pode deixar de cometer erros.   Todos podem facilmente compreender essa dificuldade.  Errar é humano, preconiza um provérbio popular praticamente conhecido no mundo inteiro.

Outro defeito é iludir-se.  Ilusão quer dizer aceitar algo que não é; maya.  Maya significa aquilo que não é; ilusão, ou seja, energia do Supremo que deixa a entidade viva esquecida de sua verdadeira natureza espiritual.  Todos estão aceitando o seu corpo como o eu.  Se alguém lhe pergunta quem é você, você dirá:  “Eu sou o João; eu sou  médico;  eu sou brasileiro;   eu sou um homem rico; eu sou isto, eu sou aquilo.”  Tudo isto são identificações corpóreas, mas a pessoa verdadeira não é este corpo.  Isto é ilusão, ou conhecimento empírico da sua própria constituição.

O terceiro defeito é a propensão para enganar.  Todos estão propensos a enganar os outros.  Embora esteja em ilusão e cometa erros, como já foi evidenciado, uma pessoa faz pose de muito inteligente e ainda, na base da “achologia”, teoriza: “Eu acho que isto é assim,  e isto é isto.” Mas ela nem mesmo conhece a sua própria posição constitucional.  Escreve livros,  fala de filosofia e funda movimentos religiosos para o seu próprio prazer, sua própria gratificação dos sentidos, apesar de serem defeituosos.   Esta é a sua doença. Isto é enganar. 

Finalmente, as entidades vivas têm sentidos imperfeitos.  Orgulham-se de seus olhos, por exemplo.  Mas se uma sala escurece, não conseguirão sequer ver as suas próprias mãos.   Então, qual é o seu poder de visão?  Não se pode, portanto esperar conhecimento (veda) com esses sentidos imperfeitos.  Com todas essas deficiências na vida condicionada, não se pode dar conhecimento perfeito a ninguém.

Na Índia os princípios védicos são plenamente aceitos pelos panditas (sábios), pelos sadhus (pessoas santas)  e pelos  religiosos e estudiosos em geral.  Por não conterem erros, os princípios védicos são aceitos como verdades axiomáticas.

Por exemplo, há uma injunção védica que preconiza a necessidade de se tomar banho imediatamente,  caso se toque em excremento. Por outro lado, os indianos aceitam que o estrume de vaca é puro. Se alguém passar estrume de vaca em um lugar impuro, este tornar-se-á puro. À luz de uma compreensão ordinária isso é contraditório, mas é absolutamente verdadeiro.    Analisando o estrume de vacas, eminentes e céticos cientistas de Calcutá descobriram que ele contém inúmeras propriedades anticépticas.
 
As escrituras védicas são de amplo escopo.  Só o Rig Veda contém 1017 hinos, o Mahabharata, no qual está incluído o famoso Bhagavad-Gita, consiste em 110.000 dísticos e os dezoito Puranas principais são compostos por centenas de milhares de versos.  Há ainda os 108 Upanishads, os quatro Vedas Originais, O Pancharatra, o Ramayana, os Itihasas, etc.

A literatura védica não é morta nem arcaica.  No entanto qualquer literatura — seja ela moderna ou antiga —  é considerada não-védica se ela se devia do siddhanta védico (conclusão harmoniosa). Assim, o budismo, o jainismo e o sikismo, embora sejam ramificações da literatura védica, não são considerados védicos.

O conceito de hinduísmo, principalmente,  é alheio a conclusão védica. Chamar os indianos de hindus e os vedas de hinduísmo, não passa de uma abordagem empírica da milenar sabedoria da Índia. Assim, também,  criou-se a “trindade hindu” de Brahma-Shiva-Vishnu.  O termo trindade sugere uma tentativa de aplicar a teologia cristã às escrituras védicas reveladas.

As palavras “hindu” e “hinduísmo” não são encontráveis em nenhuma parte da imensa e mais antiga literatura que o gênero humano tem conhecimento, a literatura védica revelada.    Ainslee T. Embree,  historiador inglês, escreveu à página 8 de seu  “The Hindu Tradition”:  “O cenário físico é a terra que, desde épocas passadas, o mundo ocidental conhece como sendo Índia, uma palavra que os gregos tomaram emprestada dos persas, que, por causa da dificuldade que tinham com o ‘s’ inicial, chamavam o grande rio Sindhu (o atual Indo) de Hindu.  Foi com esta palavra que os estrangeiros passaram a designar a religião e a cultura dos povos que viviam na terra banhada pelos dois rios, o Indo e o Ganges, embora os próprios nativos jamais usassem  tal  termo”.

Assim, hindu e hinduísmo passaram a ser amplamente usados, e quase todos os dicionários definem Vishnu como o “deus hindu”, embora nenhum acharya (mestre) ou as escrituras jamais tenham usado essa expressão. “Religião Hindu” é também o nome  hoje utilizado para descrever todas as espécies de atividades sociais, culturais, religiosas e nacionalistas, muitas das quais não são sequer védicas.

Para denotar uma sociedade védica genuína os shastras (escrituras) usam a palavra sânscrita ariana.  Para os seguidores dos Vedas, o avanço humano significa avançar rumo à compreensão espiritual, e uma comunidade com objetivos espirituais era designada de comunidade ariana.  A instituição social ariana ficou conhecida como varnasrama-dharma que agrupa a sociedade em quatro ordens sociais e em quatro ordens religiosas. As famosas quatro castas indianas são, portanto, uma forma deturpada das quatro ordens sociais védicas, que não são hereditárias como àquelas.

Portanto, para concluir este texto, não se pode interpretar as injunções védicas de forma empírica usando os nossos sentidos imperfeitos, pratyaksa, sob pena de nos transformar em “hinduístas”, ou seja, estudantes de "hinduísmo", ou aquilo que simplesmente não existe.  A propósito, quem nasce na Índia não é hindu; é indiano.  

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