Vedas ou Hindu?
(Texto baseado em uma conferência proferida por Srila Prabhupada na Inglaterra, nos anos 70)
Na epistemologia védica, pratyaksa,
literalmente empirismo, é
o caminho para se adquirir conhecimento
mediante os sentidos materiais. Ainda
segundo os Vedas, que significa
Conhecimento Original Revelado, a
entidade viva, em seu estado condicionado ao mundo material, está sujeita à
muitas deficiências. O que diferencia
uma alma condicionada de uma alma liberada é que a alma condicionada tem quatro
tipos de defeitos. O primeiro defeito é
que ela não pode deixar de cometer erros.
Todos podem facilmente compreender essa dificuldade. Errar é humano, preconiza um provérbio
popular praticamente conhecido no mundo inteiro.
Outro defeito é iludir-se. Ilusão quer dizer aceitar algo que não é; maya. Maya significa aquilo que não é;
ilusão, ou seja, energia do Supremo que deixa a entidade viva esquecida de sua
verdadeira natureza espiritual. Todos
estão aceitando o seu corpo como o eu.
Se alguém lhe pergunta quem é você, você dirá: “Eu sou o João; eu sou médico;
eu sou brasileiro; eu sou um
homem rico; eu sou isto, eu sou aquilo.”
Tudo isto são identificações corpóreas, mas a pessoa verdadeira não é
este corpo. Isto é ilusão, ou
conhecimento empírico da sua própria constituição.
O terceiro defeito é a propensão para
enganar. Todos estão propensos a enganar
os outros. Embora esteja em ilusão e
cometa erros, como já foi evidenciado, uma pessoa faz pose de muito inteligente
e ainda, na base da “achologia”, teoriza: “Eu acho que isto é
assim, e isto é isto.” Mas ela nem mesmo
conhece a sua própria posição constitucional.
Escreve livros, fala de filosofia
e funda movimentos religiosos para o seu próprio prazer, sua própria gratificação
dos sentidos, apesar de serem defeituosos.
Esta é a sua doença. Isto é enganar.
Finalmente, as entidades vivas têm
sentidos imperfeitos. Orgulham-se de
seus olhos, por exemplo. Mas se uma sala
escurece, não conseguirão sequer ver as suas próprias mãos. Então, qual é o seu poder de visão? Não se pode, portanto esperar conhecimento
(veda) com esses sentidos imperfeitos.
Com todas essas deficiências na vida condicionada, não se pode dar
conhecimento perfeito a ninguém.
Na Índia os princípios védicos são
plenamente aceitos pelos panditas (sábios), pelos sadhus (pessoas santas) e pelos
religiosos e estudiosos em geral.
Por não conterem erros, os princípios védicos são aceitos como verdades
axiomáticas.
Por exemplo, há uma injunção védica que
preconiza a necessidade de se tomar banho imediatamente, caso se toque em excremento. Por outro lado,
os indianos aceitam que o estrume de vaca é puro. Se alguém passar estrume de
vaca em um lugar impuro, este tornar-se-á puro. À luz de uma compreensão
ordinária isso é contraditório, mas é absolutamente verdadeiro. Analisando o estrume de vacas, eminentes e
céticos cientistas de Calcutá descobriram que ele contém inúmeras propriedades
anticépticas.
As escrituras védicas são de amplo
escopo. Só o Rig Veda contém 1017 hinos,
o Mahabharata, no qual está incluído o famoso Bhagavad-Gita, consiste em
110.000 dísticos e os dezoito Puranas principais são compostos por centenas de
milhares de versos. Há ainda os 108
Upanishads, os quatro Vedas Originais, O Pancharatra, o Ramayana, os Itihasas,
etc.
A literatura védica não é morta nem
arcaica. No entanto qualquer literatura
— seja ela moderna ou antiga — é
considerada não-védica se ela se devia do siddhanta védico
(conclusão harmoniosa). Assim, o budismo, o jainismo e o sikismo, embora sejam
ramificações da literatura védica, não são considerados védicos.
O conceito de hinduísmo,
principalmente, é alheio a conclusão
védica. Chamar os indianos de hindus e os vedas de hinduísmo, não passa de uma
abordagem empírica da milenar sabedoria da Índia. Assim, também, criou-se a “trindade hindu” de
Brahma-Shiva-Vishnu. O termo trindade
sugere uma tentativa de aplicar a teologia cristã às escrituras védicas
reveladas.
As palavras “hindu” e “hinduísmo” não
são encontráveis em nenhuma parte da imensa e mais antiga literatura que o
gênero humano tem conhecimento, a literatura védica revelada. Ainslee T. Embree, historiador inglês, escreveu à página 8 de
seu “The Hindu Tradition”: “O cenário físico é a terra que, desde épocas
passadas, o mundo ocidental conhece como sendo Índia, uma palavra que os gregos
tomaram emprestada dos persas, que, por causa da dificuldade que tinham com o
‘s’ inicial, chamavam o grande rio Sindhu (o atual Indo) de Hindu. Foi com esta palavra que os estrangeiros
passaram a designar a religião e a cultura dos povos que viviam na terra
banhada pelos dois rios, o Indo e o Ganges, embora os próprios nativos jamais
usassem tal termo”.
Assim, hindu e hinduísmo passaram a ser
amplamente usados, e quase todos os dicionários definem Vishnu como o “deus
hindu”, embora nenhum acharya (mestre) ou as escrituras jamais tenham usado
essa expressão. “Religião Hindu” é também o nome hoje utilizado para descrever todas as
espécies de atividades sociais, culturais, religiosas e nacionalistas, muitas
das quais não são sequer védicas.
Para denotar uma sociedade védica
genuína os shastras (escrituras) usam a palavra sânscrita ariana. Para os seguidores dos Vedas, o avanço humano
significa avançar rumo à compreensão espiritual, e uma comunidade com objetivos
espirituais era designada de comunidade ariana.
A instituição social ariana ficou conhecida como varnasrama-dharma que
agrupa a sociedade em quatro ordens sociais e em quatro ordens religiosas. As
famosas quatro castas indianas são, portanto, uma forma deturpada das quatro
ordens sociais védicas, que não são hereditárias como àquelas.
Portanto, para concluir este texto, não
se pode interpretar as injunções védicas de forma empírica usando os nossos
sentidos imperfeitos, pratyaksa, sob pena de nos transformar em
“hinduístas”, ou seja, estudantes de "hinduísmo", ou aquilo que
simplesmente não existe. A propósito,
quem nasce na Índia não é hindu; é indiano.
#ConsciênciaDespertaPREMA #Prema
Pranamas! Baita aula! Super esclarecedor! Muito obrigada Maharaja, tenho compreendido muita coisa de sastra e bhakti com o senhor. Seus mestres espirituais devem se sentir tão felizes com seu seva. Ajuda e incentiva muitos devotos. Obrigada pela associação!
ResponderExcluirEu que agradeço tão doces palavras com essa alma caida.
ResponderExcluirConcordo com a Vrajesvari Devi Dasi
ResponderExcluirExcelente texto. Muito objetivo e esclarecedor. Gratidão!
ResponderExcluirObrigado Áurea.
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