domingo, 31 de dezembro de 2017

Os Três  tipos de Objetivos

(baseado em ensinamentos de Srila Sridhara Maharaj) 
Porque a alma é uma partícula de consciência, ela é dotada de livre arbítrio.  Eliminando o livre arbítrio, só resta a matéria grosseira.  Sem independência, a alma não consegue progredir do cativeiro à liberação, e sua salvação final seria impossível.  Mas seu espírito de exploração é uma força alheia, um intoxicante — um erro de cálculo que envolve sua independência.
Os objetivos de vida podem ser analisados cientificamente como sendo de três tipos:  exploração, renúncia, e dedicação.  A tendência mais comum é daqueles ocupados na exploração de outras pessoas, espécies, ou elementos, para gozo dos sentidos mundano.  Estas pessoas desejam elevar-se materialmente no atual meio ambiente, e portanto são descritas como elevacionistas.  Uma classe mais sóbria descobre as severas reações iguais e opostas das atividades mundanas, e assim se ocupam na renúncia ao mundo, em busca de um equilíbrio comparável a um sono profundo, sem sonhos.  Ao permanecerem desacordados para o mundo, eles esperam escapar de suas reações e sofrimentos concomitantes. Portanto a meta deles é liberação, e são conhecidos como salvacionistas ou liberacionistas.  Porém através da interpretação correta das Escrituras Reveladas feita por devotos sábios como Sri Sanatana Goswami, Sri Jiva Goswami, e Sri Ramanuja, os devotos da Divindade sabem que as atividades da exploração bem como da renúncia são não só infrutíferas, como também prejudiciais ao verdadeiro progresso.
O plano normal, saudável, e feliz  é na vida de dedicação.  Sem explorar ou emprestar qualquer coisa do meio ambiente, e sem tentar renunciar artificialmente ao mesmo, quem for sincero em sua dedicação naturalmente entra em contato com um plano de vida mais elevado e mais sutil.  Através de sua prontidão em dar e servir, a pessoa alcançará uma sociedade mais elevada e conseguirá um mestre apropriado.  O espírito de desfrutar nos força a nos associar com uma seção inferior, a fim de controlar e desfrutar,  o espírito de renúncia seduz  mesmo os eruditos pela sua superioridade “prestigiosa” em relação à exploração.  Portanto isto é mais perigoso, assim como uma meia-verdade é mais perigosa que uma inverdade,  Como é difícil acordar alguém do mais profundo sono possível, os liberacionistas poderão permanecer por tempo incalculável em sua cela de liberação não diferenciada.  Porém a existência mais elevada convidará ao serviço a pessoa que desejar dedicar-se puramente sem remuneração.
Seva — serviço, dedicação, é o summum bonum dos ensinamentos da escola Vaishnava, o terceiro plano da vida onde cada unidade é um membro dedicando num todo orgânico.  Num ajuste normal destes, a todos se assistem mutuamente em seu serviço ao centro, o recipiente mais elevado, a entidade mais elevada.  Tudo está existindo para satisfazer a Ele, porque Ele tem que possuir esta qualificação para ser o Absoluto.  Ele é a causa primordial de todas causas — e tudo existe para Ele, para satisfazê-Lo.
Um conceito rido de mera “ausência de morte não pode conceder-nos qualquer conhecimento de algo positivo, mas somente liberta do lado negativo.  Se a imortalidade significa ”nenhuma influência da mortalidade”, o que então, é seu conceito positivo?  Qual será a natureza, movimento, e progresso daquilo que é imortal?  Sem esta compreensão, imortalidade é só uma idéia abstrata.  Porque não parece demonstrar os sintomas da morte, uma pedra seria ”mais imortal que seres humanos, e as entidades conscientes seriam ”mortais”, aos quais a imortalidade seria eternamente negada.  Qual é, então, este conceito positivo de imortalidade?  Como é que os imortais são “imortais”?  Qual é a realidade positiva na imortalidade  Como se pode virar imortal?  A pessoa deve buscar sua localização intrínseca na ordem universal.  Não será suficiente tentar resolver só o lado negativo da vida que é cheia de sofrimento — nascimento, morte, fraqueza e doença.  Devemos saber que existe um conceito de vida pelo qual vale a pena viver.  Este lado positivo tem sido totalmente negligenciado nas visões religiosas em geral.
A ”imortalidade propalada pelas escolas de Budha e Shankaracharya não leva  à vida positiva.  Suas metas são o maha-nirvana e brahma-sayujya respectivamente.  A teoria budista é que após a liberação, nada permanece.  Eles almejam à extinção absoluta da existência material (prakriti-nirvana),   a teoria da liberação monista de Shankaracharya é perder-se a individualidade ao “tornar-se uno com o aspecto não diferenciado do Absoluto.  Isto é, eles desejam a extinção no Brahman (brahma-nirvana).  Eles postulam que, quando a tríade daquele que vê, daquilo que é visto, e do ato de ver (drasta-drsya-darshana), ou quando o conhecedor, o cognoscível, e o conhecimento (jnata-jneya-jnana) culminam num ponto, a tríade é destruída (triputi-vinasa) e nada mais resta.
A ação e reação material cessam no Viraja, o rio da passividade, o qual se localiza na margem superior deste mundo ilusório (mayika), acima do Viraja está o destino dos Shankaritas — o estagio de ”abcissa” ou o plano não diferenciado de Brahman, chamado Brahmaloka, o qual está situado na borda inferior do reino espiritual.  Ambas são ideias vagas de “imortalidade negativa”. Brahmaloka é um estagio marginal ou “amortecedor a meio caminho entre os mundos espiritual e material, Composto de inumeráveis almas, é um plano imortal destituído de variedade específica (nirvishesha), Possui positividade somente no sentido de que é um plano de existência, um pano de fundo (kastha), porém por si só carece do desenvolvimento positivo da existência variada (kala), A natureza do pano de fundo é a unidade, e o desenvolvimento tecido por cima dele necessita pluralidade ou uma natureza diferenciada (kala-kasthadi rupena parinama-pradayani — Candi, Markandeya Purana).
No Bhagavad-gita (15.16), são descritas existências mutáveis (ksara- e imutáveis (aksara), representando o pessoal e o impessoal, o desenvolvimento e a base, ou conceitos diferenciados e não diferenciados de existência geral, O mutável é representado pela multidão de seres vivos encarnados, enquanto que o aspecto imutável é a grande extensão do Absoluto todo-acomodante, o Brahma (8.3), Na análise da ação mundana, a forma mais sutil de ação passada não frutificada, anterior à tendência presente (o estagio de muda ou broto- de pecado, tem sido definido (B.r.s, Purva 1.23- como incognoscível, indistinto, e de origem inaveriguável (kuta), O imutável aspecto Brahma do Absoluto é da mesma forma definido como sendo unidimensional — indefectível, não específico, e de nenhuma cor, som, ou gosto definido, uma incógnita e incognoscível, um estagio ”não compreensível da existência (kuta), Porém o Senhor Supremo, Krishna, está acima tanto da existência mutável como da imutável, e assim Suas glórias são cantadas através dos Vedas e no mundo como Purushotama, a Suprema Personalidade (Bg.15.18), Sri Shukadeva Goswami afirma que no plano mais remoto e distante, encontramos o Senhor Krishna∫  Ele está em toda parte — a fonte de todos os conceitos (vidura-kasthaya, Bha, 2.4.14),  Ele não pode ser eliminado.
Portanto, a “imortalidade de escolas impersonalistas tais como dos budistas, Shankaritas, etc., não oferece vida positiva,  Porém no Vaishnavismo, a imortalidade é existência positiva, dinâmica,  Acima do Brahman não diferenciado, aspecto do Absoluto, a existência transcendental, variada começa no primeiro vislumbre do céu espiritual, no plano conhecido como o Reino positivo de Deus, primeiro Vaikuntha, então Ayodhya, Dvaraka, Mathura, e finalmente, acima de tudo, Goloka,  Transcendendo as áreas vagas de ”imortalidade negativa às quais os impersonalistas aspiram, os devotos — os Vaishnavas — dedicam-se à vida de eterno serviço devocional ao Senhor Supremo do reino transcendental (Bg, 18.54),  Embora a alma possa adaptar-se mal ao estado caído de existência nos planos da exploração e da renúncia, ela é em sua essência adaptável à vida positiva no Reino de Deus,  E, plenamente desabrochada, ela alcança o reino de Goloka (svarupe sahara haya golokete sthiti — Sri Sri Krsnera Astotara-satã-nama).

Jaya Radhe! 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017


Sambandha,  Abhideya e Prayojana Tattva

Essa seçãose destina a converger todas as evidências anteriores a uma conclusão final.
Sambandha (nossa relação com Deus)
jiver svarupa hoy nitya krishna das
"Todas as jivas são servas eternas de Krishna."
Embora verdadeira, essa declaração não está completa em si mesma. Devido a que Krishna possui formas ilimitadas como Narayana, Nrisimha, Vamana, Rama, ou mesmo Dvarakadisha Mathura e Shri Nandanandana, etc.. Cada Bhagavat Svarupa também possui ilimitados tipos de devotos. Portanto, a questão que surge é a seguinte: "Que tipo de servo e de qual Krishna eu sou?" Com relação a essa filosofia Shri Jiva Gosvami é o Adi Acharya da sampradaya de Cheitanya Mahaprabhu. Sua obra aclamada Sat Samdarba em seis volumes desenvolve em detalhes o tema Sambandha Abhideya Prayojana Tattva. Os primeiros quatro volumes tratam de Tattva, Bhagavat, Paramatma e Krishna Sandarbha exclusivamente lidando com Sambandha Tattva. No final do Shri Krishna Sandarbha, Shri Jiva Prabhu acrescenta um toque refinado aos seus sambandha tattva ao declarar:
atah sarvetopi sandrananda camatkar sri krishna
prakasho sri vrindabanehapi paramadbhuta
prakashah sri radhaya jugaletastu sri krishna iti
Tradução: "Entre as formas ilimitadas de Deus, a de Krishna - Rupa - é a original, possuindo sandra, ananda - camat caritva (potência de prazer assombrosa) entre muitas manfiestações de Krishna, a Sua Vrindavana Svarupa é a mais soberba e em Vrindavana a forma yugala de Krishna abraçada por Shrimati Radharani reina suprema.
Quando Radha Krishna são vishaya (meta) dos devotos prema, o ashraya (abrigo daquele amor) será encontrado nas manjaris. Por essa razão Shriman Gourasundara promoveu manjari bhava upasana por meio de Seus seguidores líderes, os seis Gosvamis. Em quase todos os casos, portanto, os Vaishnavas rupanugas atingem a perfeição como serviçais de Shri Shri Radha Madhava. Este é o seu nitya-sambandha. Como Bhaktivinodha Thakura diz:
ami tosvananda sukhada vasi
sri radhika madhava carana dasi
C.C. Madhya 22
"Eu sou charana dasi de Radha Madhava e uma eterna residente de Svananda Sukhada Kunja (no Shri Radha Kunda).
Abhideya (os meios para alcançar Deus)
No Cheitanya Charitamrita Gouranga Mahaprabhu declara que sadana bhakti é o único abhideya.
abhidheya sadhana bhakti sunaha bicara
sarva jana desh kala dasate byapta jara
dharmadi visaya jaiche ei cari bicar
sadhana bhakti ei cari bicarer para
C.C. Madhya 25
Tradução: "Shri Cheitanya Deva disse: Oh Sanatana ouça meu veredicto. Para a execução apropriada dos deveres religiosos ou atividades piedosas deve-se sempre levar em consideração a pessoa adequada, o lugar, a hora e a circunstância. Todavia o sadana bhakti transcende todas as considerações porque qualquer pessoa em qualquer hora ou lugar e em qualquer situação pode executá-lo."
Existem dois tipos de sadana bhakti
eito sadhana bhakti duito prakara
eka vaidhi bhakti, raganuga bhakti ara
C.C. Madhya-22
"Vaidhi e Raganuga são as duas formas de sadana bhakti."
Foram fornecidos exemplos que demonstram que em Vaidhi bhakti falta a potência para despertar Vraja prema. Assim, Raganuga bhakti é prescrita para as jivas que desejam alcançar Krishna em Vrindavana.
Na opinião dos acharyas Gaudiyas, lila Smarana é o principal ramo de Raganuga Bhakti:
smaran syatra raganugaayam mukhyaaatvam ragasya manodharmatvat
- Shri Visvanatha Chakravarti (Ragavartma-chandrika)
"Da mesma forma que Raga (apego pronfudo) é o dharma da mente, assim também é Smarana. Portanto, Smarana é o principal braço de Raga-marga."
A conclusão é que qualquer um que deseje alcançar Vrajendra nandana, Shri Krishna pode executar lila Smarana, em qualquer local, hora ou sob qualquer circunstância. Nenhuma restrição nas escrituras é necessária nem desejada aqui porque esse é o direto shastriki vidhi de Cheitanya Mahaprabhu que lila Smarana deva sempre ser executada. Uma vez que a mente controla as atividades do corpo e dos sentidos, lila Smarana pode influenciar todas as outra atividades devocionais que a pessoa executa, limpando a mente e a inteligência. Na realidade, lila Smarana é o elo de ligação do sadhaka com o esplendor de Goloka Vrindavana. Quando se adentra nessa dimensão, (por meio do manasi seva) todas as formas de sadhana externo se tornam sasanga (completas) com a potência para alcançar o seu ponto de conexão.
Em Goloka Vrindavana os nitya lilas de Goura e Govinda se desdobram em sequências regulares dia e noite. Os Gaudiyas Vaishnavas acharayas portanto recomendam que se medite em cada lila na hora em que ele acontece. Assim, o asta-kala-lila Smarana foi apresentado e o Shri Govinda Lilamrita de Shri Kaviraja Gosvami, Shri Krishna Bhavanamrita de Shrila Visvanatha Chakravarti e Shri Krishna Aneka Kaumudhi de Shri Kavikarnapura são os livros mais autorizados para aprender como seguir o asta-kala-lila do Senhor. 
Shrila Kaviraja Gosvami aconselha:
caitanya lilamrita pura krishna lila sukarpura
dohe meli hoy sumadhurjya
sadhu guru prasade taha jei asvade
sei jane madhurjya pracurjya
je lilamrita bine, kaya jadi anupane
tabu bhakter durbal jivan
jara eka bindhu pane utphulla tanu mane
hase gaya koraye nartana
ei amrita koro pan jaha sama nahi anal
citte kori sudridha visvasaa
na poro kutarka-garte amedhya karkasabarte
jate potile hoy sarva-nasa
C.C. Madhya 25
Tradução: "A morada de Cheitanya Lilamrita mesclada com a cânfora do Krishna Lilamrita se torna a combinação mais saborosa. Com a graça de Guru e sadhu prove esse néctar supremo. Não negligencie esse Lilamrita e confie em outras formas de dieta, para que sua vida espiritual não enfraqueça. Por outro lado, uma simples gota desse lila rasa pode grandemente revigorar a mente e o corpo e fazer você dar gargalhadas, cantar e dançar em êxtase. Portanto, saboreie o lila rasa e mantenha a fé firme no processo. Pois nada se compara a esse sadhana, advertido-se a não cair na rede dos argumentos conflitantes, porque tudo estaria perdido."
Durante o festival, a bebida anupana é tomada como digestivo, e aqui Shrila Kaviraja Gosvami comparou o Gour Govinda Lilamrita com a refeição em si ou a dieta principal para nutrir o sadhana de alguém. O Anupana se compara a todas as outras formas de sadhana. Em resumo, ele quer dizer que se a pessoa toma o aperitivo digestivo sem a refeição principal, resultará por certo em fraqueza.
O conselho do Kaviraja é muito claro e preciso. Os Vaishnavas que desconsideram essa preciosa instrução são de fato desafortunados. Não vamos cair no poço das argumentações antagônicas e seguir resolutamente a dieta e o remédio como foi prescrito pelo Kaviraja.
ei amrita koro pan, jaha sama nahi ana
citte kori sudrdha visvasa
"Sempre beba o néctar incomparável do Gour Govinda Lila mantendo fé inabalável nesse processo!"
No seu famoso comentário ao Cheitanya Caritamrita Shri Radha Govinda Nath explicou o significado do verso de Shri Rupa Gosvami.
'seva sadhaka rupena siddha-rupena catra hi'
"O Raganuga sadhana divide-se em duas partes: interna e externa. Uma vez que o smarana é o braço principal ele é pochya (mantido); enquanto shravana kirtana ou qualquer um dos 64 tipos de sadhana bhakti são pochak (mantenedores). Em outras palavras, todos os outros tipos de vidhi se destinam simplesmente a nutrir lila Smarana e proteger a pessoa da queda. Esta interpretação é corroborada por um dos mais proeminentes versos do Bhakti Rasamrita Sindhu:
smartabhya satatam vishnu vismartabya na jatucit
sarva vidhi nisedhas syuretayor iva kinkarah(B.R.S. 1/2/28)
"O Senhor Vishnu (Shri Krishna) sempre deve ser lembrado e nunca esquecido. Todas as regras e regulações dos shastras são servos desse Raja Vidhi e Nisedha (rei das regras e proibições)."
É importante destacar agora a relação entre Smarana sadhana e Sankirtana. Shri Visvanatha Chakravarti deixou um lembrete aos sadhakas de Raganuga.
atra raganugayam janmukhyasya tasyapi smaransya
kirtanadhinatvam svasyam -Ragavartma candrika
"Embora Smarana seja o ramo principal para aqueles que praticam Raganuga bhakti ainda assim o Smarana deve permanecer subordinado ao kirtana.
Smarana e kirtana são ambos extremamente importantes ramos do Bhakti sadhana. Os bhaktas raganugas que se apegaram ao Smarana sadhana devem sempre executar kirtana também, lembrando que o próprio Shri Cheitanya Deva promoveu o movimento de Sankirtana. Por outro lado, aqueles que apenas enfatizam o canto devem também se lembrar que o nosso Gouranga cantava com a sua mente fixa em Shri Vrindavana! Devotos experientes não distinguem Smarana de kirtana, eles ligam os dois processos como uma forma ideal de sadhana. Isso é o mesmo que dizer que Smarana está contido no canto inofensivo e dentro do lila Smarana intensivo o Nome também caminha. Consultemos agora Shri Thakura Bhaktivinoddha na sua obra Harinama Chintamani que é um manual exclusivamente devotado ao nama sadana. No último capítulo, Bhaktivinodha compara o nome a um botão em flor. O nama kusuma floresce em estágios revelando, rasa, rupa, guna e lila madhurya de Krishna. O lila representa o esplendor plenamente manifesto do nome:
purna prasphutita nama kusuma-sundar
asta-kala nitya lila prakritir para
"A flor do nome revela completamente sua beleza quando os astakala nitya lilas divinos de Krishna são incluídos." Dessa declaração aprendemos que o exclusivo nama sadhana ou o canto do nome nunca está completo sem o lila Smarana. De fato, Shrila Visvanatha Chakravarti também afirma o mesmo na sua obra Krishna Bhavanamrita ao declarar
"Os passatempos diários óctuplos de Radha Govinda são como uma japa mala cravejadas de jóias quando se combinam, pois cada lila representa uma conta de pedra preciosa." Assim, o sadhaka experiente não só vai cantar o maha-mantra em uma japa mas também vai contemplar mentalmente o astakala-lilas de Radha Govinda.
Shri Bhaktivinodha sintetiza a essência de todos os conselhos ao dizer:
lajjya chari krishna nama sada gan kore
krishner madhura lila sada citte smare
Bhajan-rahasya Cap. 6
"Evite a covardia! Sempre cante os nomes de Krishna ao mesmo tempo se lembrando de seu madhura lila.
"Como podem ser saboreados os nomes ou lilas de Krishna? Shriman Mahaprabhu instrui:
karma japa joga jnana vidhi bhakti tapa dhyana
iha hoite madhurjya durlabha
kebal je raga marge, bhaje krishna anurage
tare krishna madhurjya sulabha
C.C. Madhya 25
"Oh Sanatana, o madhurya de Krishna não pode ser vivenciado por karma, nem pela recitação de mantras silenciosamente, nem pelo sadhana de yoga. Sua doçura permanece totalmente desconhecida mesmo para os que praticam vidhi bhakti, tapasya ou meditação impessoal. Apenas por adorar com anuraga (apego profundo) através do processo de Raganuga bhakti pode-se experimentar o sabor do Krishna madhurya."

Prayojana (Objetivo da Vida)
amate je priti sei prema prayojan-C.C. Madhya 25
"Krishna diz: 'O amor a Mim é o objetivo da vida.'
Prema Pumartho Mahan
Prema é o o param purusharta (supremo objetivo da vida).
Prema é a perfeição do sadhana bhakti; sem ele o darshan de Krishna permanece impossível. Assim, prema é o prayojana (necessidade) para todas as jivas que desejam darshan de Krishna e seu nitya seva.
Shri Cheitanya Deva informou Sanatana Gosvami do seguinte:
bhakti vina krishne kabu nahe prema udaya
prema vina krishna praptianya hoite noya-C.C. Antya 4
"Oh, Sanatana, sem bhakti, prema nunca desperta. E sem prema Krishna é inatingível."
Significado: Muitos Vaishnavas podem ficar sob a impressão de que Krishna prapti (alcançar Krishna) aguarda aos que morrem após completar uma vida de devoção. Sim, assim é, para os bhaktas alcançarem prema. Na referência anterior Cheitanya Mahaprabhu expressou essa opinião. Aqueles que deixam seus corpos após uma vida de devoção, outra vez nascem no mundo material, se um bhakta afortunado alcança o estágio de bhava (quando a potência shuddha sattva do Senhor entra no coração) então Krishna se revela a esse devoto através de sphurti (visão espiritual). Recebendo esse sphurtis regularmente o prema desperta fazendo com que Krishna se revele. Esses kripa siddha ou sadhana siddha bhaktas alcançam o Senhor ao abandonarem os corpos materiais. Esse sidhanta é confirmado pelo poeta mahajana Shri Premananda que é um associado direto do Senhor Gouranga."
sadhana ekane, siddhio ekane bhaver gocar se
ekane jadi ta, dekhite na pao, marile dekhibe ke -Mana-siksha
"O sadhana é para este mundo, siddhi também acontece aqui, podendo ser percebido em bhava. Assim, se nós não vemos Krishna aqui, como o veremos após a morte?"
Existem muitos tipos de Krishna bhaktas e assim muitos níveis de Krishna prema. Falando comparativamente, o Madanakya Mahabhava prema de Shri Radhika Rishabhanu Nandini é supremo. As sakhis e manjaris de Radha também possuem mahabhava, porém é levemente menos potente que o de Radha. O mahabhava prema é o prayojana (necessidade) para os seguidores rupanugas de Cheitanya Mahaprabhu. Devotos desse mundo podem gradualmente se elevar pelos estágios de shraddha, sadhu-sanga, bhajana kriya, anartha nivrtti, nishta, ruci, bhava e finalmente alcança o prema. Esse prema, contudo, é bem inferior ao padrão de mahabhava das sakhis e manjaris de Radharani. Após o despertar de prema existem estágios progressivos: sneha, mana, pranaya, raga, bhava e mahabhava.
Tradução: Uma dúvida pode surgir agora: ao abandonar o corpo material onde o sadhana siddha bhakta fica antes de alcançar o seu Gopi Svarupa? A resposta é a seguinte: esses premika bhaktas mesmo antes de alcançar sneha, mana, pranaya, etc., instantaneamente alcançam o seu acalentado desejo pelo nitya seva (um exemplo é o modo como Shri Narada recebeu a perfeição). O corpo espiritual de Gopi que o devoto recebe é dado pela graça de Yogamaya e toma nascimento no ventre de uma Vraja Gopi. Não há espera uma vez que o bhauma lila de Krishna é eterno. Tal devoto é imediatamente transferido para o universo onde o bhauma lila de Krishna está manifesto. 
Dirigindo-se aos ansiosos raganugas sadhakas Shri Visvanatha Chakravarti conclui: "não se preocupem! O futuro de vocês será auspicioso."

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Uma Selva Religiosa
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Srila Bhakti Raksak Sridhar
Dev-Goswami Maharaj

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Discípulo: Por que há tantas religiões diferentes no mundo?
Srila Sridhar Maharaj: No Srimad-Bhagavatam, Uddhava formulou a mesma pergunta: "Por que existem no mundo tantos ‘ismos’ em nome de religião. Será que todos esses 'ismos' que encontramos aqui me levarão à meta, independentemente? Ou existe alguma gradação?"

Krishna respondeu: "Quando começou a Criação, transmiti as verdades da religião ao coração de Brahma, o criador, e, de Brahma, estas passaram a seus discípulos. Entretanto, de acordo com as diferentes capacidades desses discípulos, o que receberam foi levemente modificado ao ser transmitido aos outros. Quando o transmiti a Brahma, esse conhecimento era um. Logo Brahma o legou a seus discípulos, e, quando eles o receberam, o conhecimento penetrou no terreno de seu coração porém com algumas modificações. Quando por sua vez eles o transmitiram a seus discípulos, houve mais modificações." O conhecimento se perdeu devido à natureza viciosa do plano mundano. Existe uma diferença entre aquele que o recebe originalmente e aqueles que o recebem em sucessão.
Desta maneira, a verdade foi gradualmente modificada e agora vemos que o mundo religioso é uma selva. Alguns dão ênfase à penitência, outros à caridade, a isto ou aquilo. Por conseguinte, surgiram numerosas ramificações religiosas. E, para contradizer essas opiniões descendentes adulteradas, surgiram na mente humana opiniões ascendentes antagônicas, como o ateísmo. Em decorrência, vemos agora que há uma selva.
Krishna aparece de vez em quando para restabelecer os princípios da religião (yada yada hi dharmasya glanir bhavati). Quando a religião se degrada ao extremo, Krishna vem novamente ou manda Seu representante, dizendo-lhe: "Observa e retifica".
Tem de haver diferenças religiosas, porém aquele que puder captar o significado interno e real da verdade estará a salvo. Outros serão enganados e passará muito tempo até que sejam liberados. Uma vez que obtenha uma conexão verdadeira com o Guru genuíno, a pessoa não se perderá. Krishna respondeu desse modo, no décimo-primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam, à pergunta de Uddhava, e é muito fácil compreender. Não é absurdo nem dogmático. Se formos sinceros, não nos perderemos.

segunda-feira, 27 de março de 2017



                     INVEJA E OFENSA: IMPEDIMENTOS QUE FECHAM A CAMINHADA 
 
Dui jane prabhura krpa dekhi ‘bhakta-gane
Hari hari bale sabe nadita-mane

Ao verem a misericórdia do Senhor para com os dois irmãos, todos os devotos ficaram muito contentes e puseram-se a cantar o santo nome do Senhor: “Hari! Hari!”

No significado deste sloka do Sri Chaitanya Caritamitra (C.c. Madhya-lila 1.218), Srila Swami Maharaj Prabhupada ensina o seguinte:

“Srila Narottama Dasa Thakura diz que chadiya vaishnava seva nistara oeche keba: a menos que alguém sirva um vaishnava, não poderá liberar-se. O mestre espiritual inicia o discípulo para libera-lo.  Se o discípulo cumpre a ordem do mestre espiritual e não ofende outros vaishnavas, seu caminho está aberto.  Consequentemente, Sri Chaitanya Mahaprabhu pediu a todos os vaishnavas presentes que mostrassem misericórdia aos irmãos Rupa e Sanatana, por Ele recém iniciados.  Ao ver que outro vaishnava está recebendo a misericórdia do Senhor, o vaishnava fica muito feliz. 
Os vaishnavas não são invejosos.  Se, por sua misericórdia, o Senhor dota um vaishnava de poder para distribuir o santo nome d’Ele em todo o mundo, os outros vaishnavas ficam muito jubilosos — isto é, caso sejam vaishnavas de verdade.

Aquele que tem inveja do sucesso de um vaishnava com certeza não é um vaishnava, mas sim um homem comum e mundano.  Pessoas mundanas manifestam inveja e ciúmes, e não os vaishnavas. Por que deveria um vaishnava invejar outro vaishnava que é exitoso em propagar o santo nome do Senhor? O verdadeiro vaishnava fica muito satisfeito em aceitar outro vaishnava que esteja outorgando a misericórdia do Senhor.  Não se deve respeitar, mas sim rejeitar, uma pessoa mundana disfarçada de vaishnava.  Isto é prescrito nos shastras (upeksa).  A palavra upeksa significa menosprezo.  Deve-se rejeitar uma pessoa invejosa.  O dever do pregador é amar a Suprema Personalidade de Deus, fazer amizade com os vaishnavas, mostrar misericórdia para com os inocentes e rejeitar ou menosprezar aqueles que são invejosos ou ciumentos.
Existem muitas pessoas invejosas disfarçadas de vaishnavas no movimento para a consciência de Krishna, e deve-se rejeita-las completamente.  Não há necessidade de servir a uma pessoa invejosa disfarçada de vaishnava.  Ao dizer chadiya vaishnava seva nistara oeche keba, Narottama Dasa Thakura está indicando um vaishnava de verdade, e não uma pessoa invejosa ou ciumenta vestida de vaishnava.”

Radhe Radhe!

domingo, 19 de fevereiro de 2017


                           A Eficácia da Urdhvapundra.
(Tilaka)
Este diálogo é travado entre o Senhor Shiva e Parvati, no Padma Purana   (UK. 225. 1-59).

Shankara disse:
- Ó senhora de aparência auspiciosa, vou lhe contar sobre a grandeza da urdhavapundra, a marca vertical que os vaisnavas usam na testa. O brâmane que a usar se libera das amarras da existência mundana só por este motivo. No espaço encantador que existe entre as duas linhas da marca, Vishnu está sentado com Lakshmi. Portanto, o corpo de quem usa esta marca é um templo do Senhor, limpo e auspicioso. O devoto de Vishnu que faz esta marca com argila, se banhou em todos os locais sagrados e está preparado para todos os sacrifícios.
O brâmane que tem esta marca é honrado por todas as pessoas e quando deixa o corpo vai para a morada de Vishnu num aeroplano excelente. O brâmane deve colocar esta marca três vezes ao dia, para a purificação de todos os pecados, para obter o fruto dos sacrifícios que realizar e das atividades piedosas como abrir poços, dar presentes, etc. Só por avistar alguém usando esta marca as pessoas se livram de todos os pecados. Por
saudar devotadamente a quem usa a marca obtêm-se o fruto de todos os tipos de caridade. Os ancestrais de quem alimenta um brâmane que use a marca, indubitavelmente ficam satisfeitos por bilhões de kalpas.
Minha querida Parvati, quem fizer uma cerimônia de shraddha com esta marca obtêm o fruto de fazer Shraddha em Gaya por bilhões de kalpas. O mérito religioso dos sacrifícios, caridade, penitências, recitação de hinos védicos, rituais védicos e austeridades realizados por quem usa esta marca é infinito. Todos os sacrifícios e atos caridosos como escavar poços, realizados por aqueles que não usam esta marca, são inúteis. O seres humanos que não usam esta marca não são vistos; sem esta marca um corpo humano é como um campo crematório. Todos os rituais e atividades meritórias realizados por aqueles que não usam esta marca são consignados aos demônios, e quem os realiza acaba indo para o inferno. O brâmane que seja versado nos Vedas deve usar esta marca feita com argila bem clara. A pessoa sábia nunca deve usar esta marca de uma maneira oblíqua, mesmo que esteja num estado miserável.
Os brâmanes devem ter esta marca na vertical. A marca dos kshatriyas deve ser redonda; a dos vaishyas deve ser como uma listra e os shudras devem usar três linhas paralelas. A marca dos brâmanes deve ser feita com argila; a redonda deve ser feita com almíscar; a de listra deve ser feita com sândalo e a de três linhas deve ser feita com cinzas. A marca vertical é recomendada para todos. Ela não é proibida para ninguém.  
Todas as pessoas, de todas as castas, que forem devotas de Vishnu devem usá-la. Os brâmanes não devem usar marcas oblíquas ou em forma de listras, assim como eles não devem adorar nenhuma outra Deidade além de Vishnu. Um brâmane nunca deve usar uma marca de três linhas na testa e nem uma marca feita com cinzas. Isto é exclusividade dos shudras.
A pessoa nobre, que está interessada no bem estar de todas as entidades vivas deve fazer uma marca sob a urdhavapundra na forma dos pés de lótus de Vishnu. A marca deve sempre ter um hiato no dentro, este é o templo de Vishnu. A marca deve ser bela, aprazível, com ambos os lados bem feitos, na forma de um bastão e com um hiato no centro.  No centro desta marca vertical Vishnu está sentado com Lakshmi. Quem faz a marca vertical sem o hiato, expulsa Vishnu e Lakshmi do Seu assento. Os brâmanes desleixados que usam a marca sem hiato na verdade têm uma marca de um pé de cão na testa. Portanto, para atingir o mundo de Vishnu, os brâmanes devem fazer sempre a marca vertical com um hiato no centro. Para assegurar a liberação, o devoto deve trazer argila de um reservatório nas montanhas Venkata e fazer a marca com esta argila. O devoto também pode usar a argila da raiz de tulasi e fazer a marca com ela. Shri Krishna fica muito satisfeito com isso. A marca feita com a argila do reservatório de Dvaravati, que é muito querido por Vishnu, assegura todos os objetos desejados. E quem trouxer com grande devoção a argila das margens do Ganges, e fizer a marca com ela, obtêm o fruto de todos os sacrifícios. Quem faz esta marca com sândalo, curcuma e também com cinzas do fogo sagrado obtêm o controle de tudo. A argila deve ser de um local consagrado a Vishnu. Ela pode ser obtida do alto de uma montanha, das margens de um rio, da raiz de árvore bilva, de um reservatório de água, da areia da praia, da argila de um formigueiro dos locais consagrados a Vishnu e de onde sempre flua a água usada para os banhos de Vishnu. Quem usar a argila com a água que flui dos pés de lótus de Vishnu e com ela marcar os seu corpo em Shri Rangam, Venkatagiri, Shri Kurma, na auspiciosa Dvaraka, Prayaga, na montanha Narasimha ou do bosque de tulasi (Vrindavana) obtêm a liberação. A marca deve ser feita com a argila de um local onde os devotos de Vishnu a utilizem. Dizem que uma marca escura provoca a paz. E que a vermelha causa o auto-controle. Dizem que a amarela trás riquezas. E que a branca conduz à salvação e é auspiciosa.
Uma marca distorcida, oblíqua, sem o hiato, pequena, longa demais, muito fina, com os bordos irregulares, faltando uma linha, com o topo fechado ou com a base cortada, feia, trás infortúnio. E também a marca que não é feita com o dedo, com argila sem aroma ou inadequada. A marca deve começar a ser feita na base do nariz, no meio das sobrancelhas e deve ter um hiato no meio, com a largura do dedo. A argila branca desenha a marca melhor e mais auspiciosa. Ao marcar a testa o devoto deve meditar em Keshava. Ao marcar a barriga ele deve meditar em Narayana, em Madhava como estando no peito e em Govinda na garganta. Ele deve meditar em Vishnu como localizado no lado direito da barriga e em Madhusudhana como estando no braço direito. Ele deve meditar em Trivikrama como situado do lado direito do pescoço e em Vamana na parte esquerda da barriga. Ele deve meditar em Shridhara como estando no seu braço esquerdo e em Hishikesha no lado esquerdo do pescoço. Ele deve meditar em Padmansbha como estando em suas costas e o lugar de Damodara é o final da espinha.
Ele deve meditar em Vasudeva como estando presente sobre a sua cabeça. Na testa, nos braços, no dorso e nos lados do pescoço as marcas devem ter o comprimento de quatro dedos. Na barriga se recomenda uma marca maior, com dez dedos. No peito e nos braços a marca deve ter oito dedos de comprimento. Desta maneira, o brâmane deve sempre ter doze marcas.
Meditando nas Deidades com os seus respectivos mantras, ele deve marcar as partes do corpo. No hiato da marca pode haver o auspicioso pó de curcuma. Dizem que os kshatriyas devem fazer quatro marcas (na testa, no peito e nos braços) e os vaishyas duas marcas (na testa e na testa). As mulheres e os shudras devem usar uma marca na testa. A principal marca é a da testa e deve ser feita primeiro.
E assim Girija (Parvati), eu lhe expliquei a maneira de usar a pundra (marca). Podem-se usar outras marcas como a da folha de lótus, de figueira-de-bengala e de folha de junco, este trio se chama "Mohana".
Pode haver outras marcas como a do disco, maça e outras marcas verticais pelo corpo. Mas em caso de controvérsia, um devoto puro de Vishnu deve sempre usar a marca vertical na forma de um bastão.
Segundo nossos acaryas é de suma importâcia usar a marca na hora de cantar o gayatri, de fazer adoração à Deidade, de cantar a japa e ao fazermos quaisquer outras atividades devocionais. Em suma, deve-se usar essa marca o dia todo.