Os Três tipos
de Objetivos
(baseado em ensinamentos de Srila Sridhara
Maharaj)
Porque a alma
é uma partícula de consciência, ela é dotada de livre arbítrio. Eliminando o livre arbítrio, só resta a
matéria grosseira. Sem independência, a
alma não consegue progredir do cativeiro à liberação, e sua salvação final
seria impossível. Mas seu espírito de
exploração é uma força alheia, um intoxicante — um erro de cálculo que envolve
sua independência.
Os
objetivos de vida podem ser analisados cientificamente como sendo de três
tipos: exploração, renúncia, e
dedicação. A tendência mais comum é
daqueles ocupados na exploração de outras pessoas, espécies, ou elementos, para
gozo dos sentidos mundano. Estas pessoas
desejam elevar-se materialmente no atual meio ambiente, e portanto são
descritas como elevacionistas. Uma
classe mais sóbria descobre as severas reações iguais e opostas das atividades
mundanas, e assim se ocupam na renúncia ao mundo, em busca de um equilíbrio comparável
a um sono profundo, sem sonhos. Ao
permanecerem desacordados para o mundo, eles esperam escapar de suas reações e
sofrimentos concomitantes. Portanto a meta deles é liberação, e são conhecidos
como salvacionistas ou liberacionistas.
Porém através da interpretação correta das Escrituras Reveladas feita
por devotos sábios como Sri Sanatana Goswami, Sri Jiva Goswami, e Sri Ramanuja,
os devotos da Divindade sabem que as atividades da exploração bem como da
renúncia são não só infrutíferas, como também prejudiciais ao verdadeiro
progresso.
O
plano normal, saudável, e feliz é na
vida de dedicação. Sem explorar ou
emprestar qualquer coisa do meio ambiente, e sem tentar renunciar
artificialmente ao mesmo, quem for sincero em sua dedicação naturalmente entra
em contato com um plano de vida mais elevado e mais sutil. Através de sua prontidão em dar e servir, a
pessoa alcançará uma sociedade mais elevada e conseguirá um mestre
apropriado. O espírito de desfrutar nos
força a nos associar com uma seção inferior, a fim de controlar e desfrutar, o espírito de renúncia seduz mesmo os eruditos pela sua superioridade “prestigiosa”
em relação à exploração. Portanto isto é
mais perigoso, assim como uma meia-verdade é mais perigosa que uma
inverdade, Como é difícil acordar alguém
do mais profundo sono possível, os liberacionistas poderão permanecer por tempo
incalculável em sua cela de liberação não diferenciada. Porém a existência mais elevada convidará ao
serviço a pessoa que desejar dedicar-se puramente sem remuneração.
Seva
— serviço, dedicação, é o summum bonum dos ensinamentos da escola Vaishnava, o
terceiro plano da vida onde cada unidade é um membro dedicando num todo
orgânico. Num ajuste normal destes, a
todos se assistem mutuamente em seu serviço ao centro, o recipiente mais
elevado, a entidade mais elevada. Tudo
está existindo para satisfazer a Ele, porque Ele tem que possuir esta
qualificação para ser o Absoluto. Ele é
a causa primordial de todas causas — e tudo existe para Ele, para satisfazê-Lo.
Um
conceito rido de mera “ausência de morte não pode conceder-nos qualquer
conhecimento de algo positivo, mas somente liberta do lado negativo. Se a imortalidade significa ”nenhuma
influência da mortalidade”, o que então, é seu conceito positivo? Qual será a natureza, movimento, e progresso
daquilo que é imortal? Sem esta
compreensão, imortalidade é só uma idéia abstrata. Porque não parece demonstrar os sintomas da
morte, uma pedra seria ”mais imortal que seres humanos, e as entidades
conscientes seriam ”mortais”, aos quais a imortalidade seria eternamente
negada. Qual é, então, este conceito
positivo de imortalidade? Como é que os
imortais são “imortais”? Qual é a
realidade positiva na imortalidade Como
se pode virar imortal? A pessoa deve
buscar sua localização intrínseca na ordem universal. Não será suficiente tentar resolver só o lado
negativo da vida que é cheia de sofrimento — nascimento, morte, fraqueza e
doença. Devemos saber que existe um
conceito de vida pelo qual vale a pena viver.
Este lado positivo tem sido totalmente negligenciado nas visões
religiosas em geral.
A
”imortalidade propalada pelas escolas de Budha e Shankaracharya não leva à vida positiva. Suas metas são o maha-nirvana e
brahma-sayujya respectivamente. A teoria
budista é que após a liberação, nada permanece.
Eles almejam à extinção absoluta da existência material
(prakriti-nirvana), a teoria da
liberação monista de Shankaracharya é perder-se a individualidade ao “tornar-se
uno com o aspecto não diferenciado do Absoluto.
Isto é, eles desejam a extinção no Brahman (brahma-nirvana). Eles postulam que, quando a tríade daquele
que vê, daquilo que é visto, e do ato de ver (drasta-drsya-darshana), ou quando
o conhecedor, o cognoscível, e o conhecimento (jnata-jneya-jnana) culminam num
ponto, a tríade é destruída (triputi-vinasa) e nada mais resta.
A
ação e reação material cessam no Viraja, o rio da passividade, o qual se
localiza na margem superior deste mundo ilusório (mayika), acima do Viraja está
o destino dos Shankaritas — o estagio de ”abcissa” ou o plano não diferenciado
de Brahman, chamado Brahmaloka, o qual está situado na borda inferior do reino
espiritual. Ambas são ideias vagas de
“imortalidade negativa”. Brahmaloka é um estagio marginal ou “amortecedor a
meio caminho entre os mundos espiritual e material, Composto de inumeráveis
almas, é um plano imortal destituído de variedade específica (nirvishesha), Possui
positividade somente no sentido de que é um plano de existência, um pano de
fundo (kastha), porém por si só carece do desenvolvimento positivo da
existência variada (kala), A natureza do pano de fundo é a unidade, e o
desenvolvimento tecido por cima dele necessita pluralidade ou uma natureza
diferenciada (kala-kasthadi rupena parinama-pradayani — Candi, Markandeya
Purana).
No
Bhagavad-gita (15.16), são descritas existências mutáveis (ksara- e imutáveis
(aksara), representando o pessoal e o impessoal, o desenvolvimento e a base, ou
conceitos diferenciados e não diferenciados de existência geral, O mutável é
representado pela multidão de seres vivos encarnados, enquanto que o aspecto
imutável é a grande extensão do Absoluto todo-acomodante, o Brahma (8.3), Na
análise da ação mundana, a forma mais sutil de ação passada não frutificada,
anterior à tendência presente (o estagio de muda ou broto- de pecado, tem sido
definido (B.r.s, Purva 1.23- como incognoscível, indistinto, e de origem
inaveriguável (kuta), O imutável aspecto Brahma do Absoluto é da mesma forma
definido como sendo unidimensional — indefectível, não específico, e de nenhuma
cor, som, ou gosto definido, uma incógnita e incognoscível, um estagio ”não
compreensível da existência (kuta), Porém o Senhor Supremo, Krishna, está acima
tanto da existência mutável como da imutável, e assim Suas glórias são cantadas
através dos Vedas e no mundo como Purushotama, a Suprema Personalidade
(Bg.15.18), Sri Shukadeva Goswami afirma que no plano mais remoto e distante,
encontramos o Senhor Krishna∫ Ele está
em toda parte — a fonte de todos os conceitos (vidura-kasthaya, Bha,
2.4.14), Ele não pode ser eliminado.
Portanto,
a “imortalidade de escolas impersonalistas tais como dos budistas, Shankaritas,
etc., não oferece vida positiva, Porém
no Vaishnavismo, a imortalidade é existência positiva, dinâmica, Acima do Brahman não diferenciado, aspecto do
Absoluto, a existência transcendental, variada começa no primeiro vislumbre do
céu espiritual, no plano conhecido como o Reino positivo de Deus, primeiro Vaikuntha,
então Ayodhya, Dvaraka, Mathura, e finalmente, acima de tudo, Goloka, Transcendendo as áreas vagas de ”imortalidade
negativa às quais os impersonalistas aspiram, os devotos — os Vaishnavas —
dedicam-se à vida de eterno serviço devocional ao Senhor Supremo do reino
transcendental (Bg, 18.54), Embora a
alma possa adaptar-se mal ao estado caído de existência nos planos da
exploração e da renúncia, ela é em sua essência adaptável à vida positiva no
Reino de Deus, E, plenamente
desabrochada, ela alcança o reino de Goloka (svarupe sahara haya golokete
sthiti — Sri Sri Krsnera Astotara-satã-nama).
Jaya Radhe!