Brahma-Gayatri
(Significado por Srila Sridhar Maharaj)
Om bhur bhuvah svah tat savitur varenyam bhargo devasya
dhimahi dhyo yo nah pracodayat
O
significado do brahma-gayatri deve
levar-nos à conclusão do Srimad-Bhagavatam.
O mantra-gayatri e o Srimad-bhagavatam são unos e idênticos.
Isto é a própria essência do Vedanta-sutra.
O Srimad-bhagavatam é o comentário
elaborado do gayatri.
artho’yam
brahma-sutranam
bharatartha-vinirnayah
gayatri-bhashya-rupau
‘sau
vedarthah
paribrmhitah
Garuda Purana
O
significado do gayatri-mantra deve
situar-se na linha do Srimad-Bhagavatam.
Ao analizarmos como isto é possível, deveremos descobrir os passos que levam o gayatri-mantra até o Srimad-Bhagavatam.
Qual é o
significado do gayatri ? A palavra gayatri é uma combinação de duas
palavras sânscritas: ganat,(o que é
cantado) e trayate, (o que liberta).
Isto significa, “Um tipo de canção pela qual podemos conseguir nossa salvação,
alívio e emancipação.” O gayatri é
conhecido como veda-mata, a mãe dos Vedas. E o gayatri produziu todos os Vedas.
Se examinarmos a conclusão védica, desde seu mais conciso aforismo até sua mais
ampla expressão, descobriremos que começa com o omkara: a sílaba védica om.
Essa verdade expressa como gayatri-mantra,
aparece, a seguir, na forma dos Vedas
e logo, como Vedanta-sutra.
Finalmente, a conclusão védica recebe sua expressão plena no Srimad-Bhagavatam. Desde que o
significado, ou o propósito do conhecimento védico, progride nesta linha, o gayatri-mantra tem que conter, em si, o
significado do Srimad-Bhagavatam,
isto é, que Krsna é o conceito mais elevado do Supremo.
Este deve ser
o significado do gayatri-mantra.O
problema, entretanto,é :como extrair o Srimad-Bhagavatam,
o conceito Krsna, do âmago do gayatri
? Ouvi dizer que Jiva Goswami deu tal
interpretação, mas eu não pude encontrá-la em seus escritos. Ouvi dizer que ele
apresentou o significado do gayatri
conduzindo à consciência de Krsna. De qualquer maneira, a tendência que surgiu
em mim foi a de levar o significado para a concepção Krsna.
O
significado geral do gayatri é “a
canção que concede libertação.” Libertação tem que ter algum significado
positivo. Libertação não quer dizer liberdade do lado negativo, mas um ganho
positivo. Esta é a definição dada no Srimad-Bhagavatam: muktir hitvanyatha rupam svarupena vyavashthitih – a menos e até
que alcancemos o posicionamento positivo mais elevado possível não terá
ocorrido mukti real, verdadeira salvação. A mera retirada do plano negativo não
pode ser chamada de libertação. Hegel disse que o objetivo de nossa vida é a
auto-determinação. Temos que determinar nossa função normal no todo orgânico;
não a mera emancipação do lado negativo, mas a participação numa função
positiva, no domínio do serviço. Isto é considerado como sendo a maior meta da
vida. Este é o verdadeiro significado do gayatri.
A palavra gayatri surge de duas raízes sânscritas:
ganat e trayate. Trayate significa
obtenção positiva do estágio final (svarupena
vyavashthitih). E ganat significa
não apenas o mero som, mas o som musical. Aquele som musical, que nos concede a
libertação positiva suprema, indica o sankirtana
de Sri Chaitanya Mahaprabhu e a canção
da flauta de Sri Krsna.
O
significado do brahma-gayatri-mantra
é o seguinte: a primeira palavra é om.
Om é o mantra-semente que contém tudo dentro de si. A palavra seguinte é bhur. Bhur é onde nos encontramos, Bhu-Loka: o mundo de nossa
experiência. A próxima palavra é bhuvah.
Bhuvarloka é o mundo da aquisição mental. É o sustentáculo. É o plano de fundo
de nossa experiência. Nosso nível de experiência atual é o efeito de nossa
aquisição mental. O fato de estarmos aqui, no mundo da experiência, não é um
acidente. Adquirimos esta posição pôr nosso karma anterior. A esfera física –
este mundo de nossa experiência – é apenas o produto, o resultado de nossos
prévios impulsos mentais. E o mundo sutil do karma anterior, a esfera mental, é
conhecida como Bhuvarloka.
A próxima
palavra do mantra é svah. Acima de
Bhuvarloka está Sva-loka. O mundo mental, Bhuvarloka, significa aceitação e
rejeição, o que fazer e o que não fazer, “gosto disto, não gosto daquilo.”
Sva-loka, entretanto, é o plano da decisão, o mundo da inteligência –
Buddhiloka. Nossa inteligência nos diz, “Você pode gostar disto mas não o faça,
pois, desta maneira, sairá perdendo.” Esse plano, o plano da razão, é conhecido
como Sva-loka. Portanto este mundo material compõe-se de três camadas gerais: bhur, mundo físico, bhuvah, o mundo mental e svah,
o mundo intelectual.
É claro que
uma análise mais minuciosa revelará sete camadas: Bhur, Svah, Maha, Jana, Tapa e Satyaloka. No seu Brhad-Bhagavatamrtam Sanatana Goswami
lidou com este assunto em forma detalhada. Agora, estes sete estratos foram
resumidos em três planos de existência: física, mental e intelectual. E estes
três planos de experiência foram resumidos em uma só palavra – tat.
A palavra
seguinte no brahma-gaiatry é savitur. Savitur, em geral, quer dizer surya, o sol. E o sol significa,
figurativamente, aquilo que revela ou ilumina; aquilo por meio do que podemos
ver. Os três extratos grosseiros e sutis, dentro deste mundo, nos são mostrados
pôr algo particular: savitur. E o que é isso ? A alma. Na verdade, não é o sol
mas a alma que nos mostra o mundo. O que é que realmente nos permite percepção
e nos deixa ver as coisas ? Não é, realmente, o sol que nos ajuda a ver. Vemos
auxiliados pela alma. Isto é dito na Bhagavad-gita:
yatha prakashayaty ekah krtsnam lokam imam ravih. A alma revela este mundo
da mesma forma que o sol, pois este pode mostrar a cor a nossos olhos. O ouvido
pode revelar o mundo-som e a mão pode revelar o mundo-tato. Mas, realmente, a
alma encontra-se no centro. É a alma quem dá luz a este mundo e quem nos
concede uma compreensão do meio-ambiente, do mundo da percepção. Toda percepção
é possível, somente, devido à alma.Aqui a palavra savitur, que geralmente significa sol, pode apenas significar alma,
pois é a alma, tal como o sol, quem nos mostra tudo.
Todos os
sete extratos de nossa existência, representados por bhur, o plano físico, bhuvah,
o plano mental e svah, o plano
intelectual, foram aqui reduzidos a uma entidade: tat, “aquilo”. “Aquilo” é mostrado pelo sol que, neste contexto,
indica a alma. Aqui, alma significa alma individual. A alma individual é a
causa de seu mundo. Não é que a mente está no mundo, mas é o mundo que está na
mente. Berkeley disse que o mundo estána mente. E aqui está sendo dito que tudo
é visto com auxílio do sol. Se não houver sol tudo ficará escuro, nada poderá
ser visto. E, num sentido elevado, luz quer dizer alma. A alma é o sujeito e os
sete planos de experiência dentro deste mundo, são seus objetos.
A próxima
palavra no gayatri-mantra é varenyam. Varenyam significa pujya: adorável, venerável. Isto indica o fato
de que, mesmo estando dentro deste plano do mundo objetivo, a alma é o sujeito
e existe outra dimensão a ser venerada e adorada pela alma. Essa é a região da
Superalma.
Esse plano
adorável de existência transcendental é conhecido como bhargo. Bhargo significa
a região super-subjetiva, a região da Superalma. Menciona-se isto no primeiro
verso do Srimad-Bhagavatam: dharma svena sada nirasta-kuhakam satyam
param dhimahi. Srila Vyasadeva diz que, agora, ele vai lidar com outro
mundo, cuja glória original á de tal magnitude que, por um seu raio,
desfazem-se todos os equívocos. O sujeito é a alma e seu objetivo são todos
estes mundos de experiência. E o super-sujeito é a região venerável que é superior
ao sujeito, à alma. Essa é a região super-subjetiva.
A palavra bhargo significa "mais sutil que a
alma", e "possuindo uma posição de maior importância que a da
alma." De modo que isto significa a Superalma – Paramatma. Geralmente, é
claro, a palavra bhargo comumente
quer dizer luz. Assim como o raio-X pode mostrar-nos o que a visão
ordinariamente não vê, bhargo é svarupa-shakti: uma luz mais alta e
poderosa que pode revelar a alma. E a quem pertence essa energia, bhargo ?
Pertence a deva. Qual é o significado
da palavra deva ? Deva quer dizer,
"Quem é belo e brincalhão", isto é, Sri Krsna: A Realidade, O Belo.
Ele não é uma substância indiferenciada, mas é pleno de lila – passatempos. Deva
significa passatempos e beleza combinados, o que significa Krsna.Sua dimensão é
bhargo, brilhante e varenyam, venerável pela alma jiva. Qual é a natureza de svarupa-shakti ? É a vaibhava, a extensão de Srimati
Radharani. Ela possui a total responsabilidade de serviço e a enrgia para
servir a Krsna. Bhargo não é menos do
que vaibhava, o corpo expandido de
Srimati Radharani, o qual contém tudo para o serviço a Krsna. Bhargo representa Mahabhava, a divindade
predominante e deva, Krsna, é
Rasaraja, a divindade predominante.
No gayatri-mantra nos é pedido, bhargo devasya dhimahi: “vem meditar.”
Qual o tipo de meditaçào que é possível naquele plano de dedicação ? Nào uma
meditação abstrata, mas o cultivo do serviço – krsnanushilanam. Dhimahi
significa, “participar do fluxo espontâneo, da corrente de devoção, em
Vrndavana.” E qual será o resultado ? dhyo
yo nah pracodayat : incrementar a capacidade de nosso cultivo. À medida que
servimos, em troca, obteremos capacidade e predisposição para serviços maiores.
É como um banco que soma juros ao capital depositado – dasa kari’vetam more deha prema-dhana. Desta forma o princípio de
dedicação incrementará mais e mais em nós. Dhimahi
significa aradhana, adoração. Não
pode deixar de ser explicado em termos de aradhana,
puja, seva: adoração, veneração e serviço amoroso. A palavra dhi deriva-se da palavra buddhi, que geralmente significa aquilo
que cultivamos, auxiliados pela inteligência . Mas aqui, dhi refere-se àquela inteligência venerável que descende até esta
dimensão para ajudar-nos a cultivar o serviço. Assim, dhimahi não significa meditação abstrata mas, sim, serviço
devocional. Este é o significado recôndito do gayatri-mantra.
Gayatri, a canção para libertação,
também significa sankirtana. O kirtana também é cantado e também nos
aperfeiçoa rumo ao ideal maior. O sankirtana
de Sri Chaitanya Mahaprabhu igualmente recoloca-nos em nossa posição
superior de serviço. Desta forma brahma-gayatri,
conectado a Mahaprabhu, vem a significar krsna-kirtana.
Em seguida alcança Vrndavana e a flauta-kirtana.
E, ao entrarmos em Vrndavana, descobriremos que o doce som da flauta de Krsna
auxilia todos os servos do Senhor a ocupar-se em seus deveres respectivos.
Quando a flauta soa, as gopis e os
outros ajustam-se a seus respectivos deveres. À noite, ouvindo o som da flauta
, as gopis correrão até o Yamuna,
pensando, “Ó, Krsna está lá!” E quando Yashoda ouve o som da flauta de Krsna,
ela pensa, “Lá está meu filho. Logo estará voltando ao lar.” Desta maneira o
som da flauta ocupa todos os servos do Senhor em suas posições respectivas e os
inspira a ser prestimosos em seu serviço.
Em meu
comentário sânscrito do gayatri-mantra
escrevi: dhiraradhanam eva nanyaditi tad
radha-padam dhimahi: Todos os outros serviços estão representados
plenamente em Radhika. Como ramificações, são todos parte dela. Madhura-rasa é a chefe ou mukhya-rasa, a combinação de todas as
rasas. Srimati Radharani é Mahabhava, representa a completa atitude de serviço.
A música da
flauta de Sri Krsna, expressa pelo gayatri-mantra,
nos está recordando e ocupando-nos em nosso serviço. E qual é nosso serviço ?
Nosso serviço deve ser de render-nos ao serviço de Srimati Radharani, de
aceitar a sugestão de Radharani. O gayatri-mantra
nos entusiasmará a sermos cuidadosos quanto aos pés de lótus de Srimati
Radharani – a seguirmos suas ordens. Ela está, principalmente representando
toda a dimensão do serviço, Portanto, o serviço a Sri Radha é tentarmos
ocupar-nos em seu serviço, sob suas ordens; o significado do gayatri-mantra culmina em radha-dasyam, auto-determinação, svarupena vyavasthitih.
Entretanto,
a representação parcial de vatsalya e
sakhya-rasa também são parte, parcela
do sentimento original de amor conjugal, madhura-rasa.
O devoto em vatsalya-rasa servirá
Nanda e Yashoda, o devoto em sakhya-rasa
servirá Sridama e Sudama. Mas, em última análise, em Radharani está incluido
todo o sistema, em apenas uma concepção.
O
significado final a ser extraído do gayatri-mantra
é radha-dasyam, o serviço a Srimati
Radharani. Essa é a finalidade suprema de nossa vida. Não pode deixar de sê-lo.
O Srimad-Bhagavatam é o teísmo máximo
ou desenvolvido que pode ser extraído dos Vedas,
Upanishads, e tantas outras escrituras. Toda a verdade revelada eleva-se a
seu cume, sua posição mais elevada, na concepção que nos é dada pelo Srimad-Bhagavatam. E o Srimad-Bhagavatam nos ensina que a
realização maior, a auto-determinação, encontra-se no serviço a Srimati
Radharani. Que, sob sua orientação, poderemos servir a Sri Krsna. Aspiramos pôr
uma conexão direta com seu serviço.
Qual é,
então, o significado interno e o propósito da palavra bhargo ? Bhargo vai
vrsabhanuja-atma-vibhava-eka-aradhana-sri-puram. Bhanu significa o sol ou, “quem nos mostra pela luz.” Radharani é a
filha de Vrshabhanu, Assim, eu selecionei a palavra bhanu. Para apresentar a extensão de seu próprio ser eu usei a
palavra vaibhava. Vaibhava significa,
“o que sai de fora”, ou “o ser expandido”. Prabhava
é a representação central e vaibhava
é sua extensão exterior. A própria essência de svarupa-shakti é Srimati Radharani e o todo de svarupa-shakti é seu ser estendido. A plenitude de svarupa-shakti é a residência de seu
belo serviço, isto é, o país, a morada de seu belo serviço.
Da mesma
forma que os raios de luz expandem-se do sol, a potência interna é toda uma
expansão de Mahabhava, Sri Radhika. Ela se desenvolveu até uma região tão bela
de esplendor, de energia interna e, dali, ela serve ao Senhor. Todas estas
necessidades brotaram dela. Todas elas brotaram para auxiliá-la a servir o
Senhor. Quando a energia interna total é condensada numa forma concisa, esta é
Mahabhava, Radharani. E, quando Radharani quer servir, ela se expande em
diferentes formas ilimitadas. E com alguma ajuda de Baladeva e Yogamaya, o
mundo espiritual todo, incluindo Vrndavana, Mathura e Vaikuntha, origina-se
para dar assistência a Srimati Radharani em seu serviço a Sri Krsna.
Desta forma
eu extraí radha-dasyam, o serviço a
Srimati Radharani, como sendo o significado do gayatri-mantra e tentei representá-lo em versos sânscritos.
#ConsciênciaDespertaPREMA
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