sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Brahma-Gayatri
(Significado por Srila Sridhar Maharaj)

Om bhur bhuvah svah tat savitur varenyam bhargo devasya dhimahi dhyo yo nah pracodayat

   O significado do brahma-gayatri deve levar-nos à conclusão do Srimad-Bhagavatam. O mantra-gayatri e o Srimad-bhagavatam são unos e idênticos. Isto é a própria essência do Vedanta-sutra. O Srimad-bhagavatam é o comentário elaborado do gayatri.
artho’yam brahma-sutranam
bharatartha-vinirnayah
gayatri-bhashya-rupau ‘sau
vedarthah paribrmhitah
                                                                                          Garuda Purana

   O significado do gayatri-mantra deve situar-se na linha do Srimad-Bhagavatam. Ao analizarmos como isto é possível, deveremos descobrir os passos que levam o gayatri-mantra até o Srimad-Bhagavatam.
   Qual é o significado do gayatri ? A palavra gayatri é uma combinação de duas palavras sânscritas: ganat,(o que é cantado) e trayate, (o que liberta). Isto significa, “Um tipo de canção pela qual podemos conseguir nossa salvação, alívio e emancipação.” O gayatri é conhecido como veda-mata, a mãe dos Vedas. E o gayatri produziu todos os Vedas. Se examinarmos a conclusão védica, desde seu mais conciso aforismo até sua mais ampla expressão, descobriremos que começa com o omkara: a sílaba védica om. Essa verdade expressa como gayatri-mantra, aparece, a seguir, na forma dos Vedas e logo, como Vedanta-sutra. Finalmente, a conclusão védica recebe sua expressão plena no Srimad-Bhagavatam. Desde que o significado, ou o propósito do conhecimento védico, progride nesta linha, o gayatri-mantra tem que conter, em si, o significado do Srimad-Bhagavatam, isto é, que Krsna é o conceito mais elevado do Supremo.
 Este deve ser o significado do gayatri-mantra.O problema, entretanto,é :como extrair o Srimad-Bhagavatam, o conceito Krsna, do âmago do gayatri ? Ouvi dizer que Jiva Goswami deu tal interpretação, mas eu não pude encontrá-la em seus escritos. Ouvi dizer que ele apresentou o significado do gayatri conduzindo à consciência de Krsna. De qualquer maneira, a tendência que surgiu em mim foi a de levar o significado para a concepção Krsna.
   O significado geral do gayatri é “a canção que concede libertação.” Libertação tem que ter algum significado positivo. Libertação não quer dizer liberdade do lado negativo, mas um ganho positivo. Esta é a definição dada no Srimad-Bhagavatam: muktir hitvanyatha rupam svarupena vyavashthitih – a menos e até que alcancemos o posicionamento positivo mais elevado possível não terá ocorrido mukti real, verdadeira salvação. A mera retirada do plano negativo não pode ser chamada de libertação. Hegel disse que o objetivo de nossa vida é a auto-determinação. Temos que determinar nossa função normal no todo orgânico; não a mera emancipação do lado negativo, mas a participação numa função positiva, no domínio do serviço. Isto é considerado como sendo a maior meta da vida. Este é o verdadeiro significado do gayatri.
   A palavra gayatri surge de duas raízes sânscritas: ganat e trayate. Trayate significa obtenção positiva do estágio final (svarupena vyavashthitih). E ganat significa não apenas o mero som, mas o som musical. Aquele som musical, que nos concede a libertação positiva suprema, indica o sankirtana de Sri  Chaitanya Mahaprabhu e a canção da flauta de Sri Krsna.
   O significado do brahma-gayatri-mantra é o seguinte: a primeira palavra é om. Om é o mantra-semente que contém tudo dentro de si. A palavra seguinte é bhur. Bhur é onde nos encontramos, Bhu-Loka: o mundo de nossa experiência. A próxima palavra é bhuvah. Bhuvarloka é o mundo da aquisição mental. É o sustentáculo. É o plano de fundo de nossa experiência. Nosso nível de experiência atual é o efeito de nossa aquisição mental. O fato de estarmos aqui, no mundo da experiência, não é um acidente. Adquirimos esta posição pôr nosso karma anterior. A esfera física – este mundo de nossa experiência – é apenas o produto, o resultado de nossos prévios impulsos mentais. E o mundo sutil do karma anterior, a esfera mental, é conhecida como Bhuvarloka.
   A próxima palavra do mantra é svah. Acima de Bhuvarloka está Sva-loka. O mundo mental, Bhuvarloka, significa aceitação e rejeição, o que fazer e o que não fazer, “gosto disto, não gosto daquilo.” Sva-loka, entretanto, é o plano da decisão, o mundo da inteligência – Buddhiloka. Nossa inteligência nos diz, “Você pode gostar disto mas não o faça, pois, desta maneira, sairá perdendo.” Esse plano, o plano da razão, é conhecido como Sva-loka. Portanto este mundo material compõe-se de três camadas gerais: bhur, mundo físico, bhuvah, o mundo mental e svah, o mundo intelectual.
   É claro que uma análise mais minuciosa revelará sete camadas: Bhur, Svah, Maha, Jana, Tapa e Satyaloka. No seu Brhad-Bhagavatamrtam Sanatana Goswami lidou com este assunto em forma detalhada. Agora, estes sete estratos foram resumidos em três planos de existência: física, mental e intelectual. E estes três planos de experiência foram resumidos em uma só palavra – tat.
   A palavra seguinte no brahma-gaiatry é savitur. Savitur, em geral, quer dizer surya, o sol. E o sol significa, figurativamente, aquilo que revela ou ilumina; aquilo por meio do que podemos ver. Os três extratos grosseiros e sutis, dentro deste mundo, nos são mostrados pôr algo particular: savitur. E o que é isso ? A alma. Na verdade, não é o sol mas a alma que nos mostra o mundo. O que é que realmente nos permite percepção e nos deixa ver as coisas ? Não é, realmente, o sol que nos ajuda a ver. Vemos auxiliados pela alma. Isto é dito na Bhagavad-gita: yatha prakashayaty ekah krtsnam lokam imam ravih. A alma revela este mundo da mesma forma que o sol, pois este pode mostrar a cor a nossos olhos. O ouvido pode revelar o mundo-som e a mão pode revelar o mundo-tato. Mas, realmente, a alma encontra-se no centro. É a alma quem dá luz a este mundo e quem nos concede uma compreensão do meio-ambiente, do mundo da percepção. Toda percepção é possível, somente, devido à alma.Aqui a palavra savitur, que geralmente significa sol, pode apenas significar alma, pois é a alma, tal como o sol, quem nos mostra tudo.
   Todos os sete extratos de nossa existência, representados por bhur, o plano físico, bhuvah, o plano mental e svah, o plano intelectual, foram aqui reduzidos a uma entidade: tat, “aquilo”. “Aquilo” é mostrado pelo sol que, neste contexto, indica a alma. Aqui, alma significa alma individual. A alma individual é a causa de seu mundo. Não é que a mente está no mundo, mas é o mundo que está na mente. Berkeley disse que o mundo estána mente. E aqui está sendo dito que tudo é visto com auxílio do sol. Se não houver sol tudo ficará escuro, nada poderá ser visto. E, num sentido elevado, luz quer dizer alma. A alma é o sujeito e os sete planos de experiência dentro deste mundo, são seus objetos.
   A próxima palavra no gayatri-mantra é varenyam. Varenyam significa pujya: adorável, venerável. Isto indica o fato de que, mesmo estando dentro deste plano do mundo objetivo, a alma é o sujeito e existe outra dimensão a ser venerada e adorada pela alma. Essa é a região da Superalma.
  Esse plano adorável de existência transcendental é conhecido como bhargo. Bhargo significa a região super-subjetiva, a região da Superalma. Menciona-se isto no primeiro verso do Srimad-Bhagavatam: dharma svena sada nirasta-kuhakam satyam param dhimahi. Srila Vyasadeva diz que, agora, ele vai lidar com outro mundo, cuja glória original á de tal magnitude que, por um seu raio, desfazem-se todos os equívocos. O sujeito é a alma e seu objetivo são todos estes mundos de experiência. E o super-sujeito é a região venerável que é superior ao sujeito, à alma. Essa é a região super-subjetiva.
   A palavra bhargo significa "mais sutil que a alma", e "possuindo uma posição de maior importância que a da alma." De modo que isto significa a Superalma – Paramatma. Geralmente, é claro, a palavra bhargo comumente quer dizer luz. Assim como o raio-X pode mostrar-nos o que a visão ordinariamente não vê, bhargo é svarupa-shakti: uma luz mais alta e poderosa que pode revelar a alma. E a quem pertence essa energia, bhargo ? Pertence a deva. Qual é o significado da palavra deva ? Deva quer dizer, "Quem é belo e brincalhão", isto é, Sri Krsna: A Realidade, O Belo. Ele não é uma substância indiferenciada, mas é pleno de lila – passatempos. Deva significa passatempos e beleza combinados, o que significa Krsna.Sua dimensão é bhargo, brilhante e varenyam, venerável pela alma jiva. Qual é a natureza de svarupa-shakti ? É a vaibhava, a extensão de Srimati Radharani. Ela possui a total responsabilidade de serviço e a enrgia para servir a Krsna. Bhargo não é menos do que vaibhava, o corpo expandido de Srimati Radharani, o qual contém tudo para o serviço a Krsna. Bhargo representa Mahabhava, a divindade predominante e deva, Krsna, é Rasaraja, a divindade predominante.
   No gayatri-mantra nos é pedido, bhargo devasya dhimahi: “vem meditar.” Qual o tipo de meditaçào que é possível naquele plano de dedicação ? Nào uma meditação abstrata, mas o cultivo do serviço – krsnanushilanam. Dhimahi significa, “participar do fluxo espontâneo, da corrente de devoção, em Vrndavana.” E qual será o resultado ? dhyo yo nah pracodayat : incrementar a capacidade de nosso cultivo. À medida que servimos, em troca, obteremos capacidade e predisposição para serviços maiores. É como um banco que soma juros ao capital depositado – dasa kari’vetam more deha prema-dhana. Desta forma o princípio de dedicação incrementará mais e mais em nós. Dhimahi significa aradhana, adoração. Não pode deixar de ser explicado em termos de aradhana, puja, seva: adoração, veneração e serviço amoroso. A palavra dhi deriva-se da palavra buddhi, que geralmente significa aquilo que cultivamos, auxiliados pela inteligência . Mas aqui, dhi refere-se àquela inteligência venerável que descende até esta dimensão para ajudar-nos a cultivar o serviço. Assim, dhimahi não significa meditação abstrata mas, sim, serviço devocional. Este é o significado recôndito do gayatri-mantra.
   Gayatri, a canção para libertação, também significa sankirtana. O kirtana também é cantado e também nos aperfeiçoa rumo ao ideal maior. O sankirtana de Sri Chaitanya Mahaprabhu igualmente recoloca-nos em nossa posição superior de serviço. Desta forma brahma-gayatri, conectado a Mahaprabhu, vem a significar krsna-kirtana. Em seguida alcança Vrndavana e a flauta-kirtana. E, ao entrarmos em Vrndavana, descobriremos que o doce som da flauta de Krsna auxilia todos os servos do Senhor a ocupar-se em seus deveres respectivos. Quando a flauta soa, as gopis e os outros ajustam-se a seus respectivos deveres. À noite, ouvindo o som da flauta , as gopis correrão até o Yamuna, pensando, “Ó, Krsna está lá!” E quando Yashoda ouve o som da flauta de Krsna, ela pensa, “Lá está meu filho. Logo estará voltando ao lar.” Desta maneira o som da flauta ocupa todos os servos do Senhor em suas posições respectivas e os inspira a ser prestimosos em seu serviço.
   Em meu comentário sânscrito do gayatri-mantra escrevi: dhiraradhanam eva nanyaditi tad radha-padam dhimahi: Todos os outros serviços estão representados plenamente em Radhika. Como ramificações, são todos parte dela. Madhura-rasa é a chefe ou mukhya-rasa, a combinação de todas as rasas. Srimati Radharani é Mahabhava, representa a completa atitude de serviço.
   A música da flauta de Sri Krsna, expressa pelo gayatri-mantra, nos está recordando e ocupando-nos em nosso serviço. E qual é nosso serviço ? Nosso serviço deve ser de render-nos ao serviço de Srimati Radharani, de aceitar a sugestão de Radharani. O gayatri-mantra nos entusiasmará a sermos cuidadosos quanto aos pés de lótus de Srimati Radharani – a seguirmos suas ordens. Ela está, principalmente representando toda a dimensão do serviço, Portanto, o serviço a Sri Radha é tentarmos ocupar-nos em seu serviço, sob suas ordens; o significado do gayatri-mantra culmina em radha-dasyam, auto-determinação, svarupena vyavasthitih.
   Entretanto, a representação parcial de vatsalya e sakhya-rasa também são parte, parcela do sentimento original de amor conjugal, madhura-rasa. O devoto em vatsalya-rasa servirá Nanda e Yashoda, o devoto em sakhya-rasa servirá Sridama e Sudama. Mas, em última análise, em Radharani está incluido todo o sistema, em apenas uma concepção.
   O significado final a ser extraído do gayatri-mantra é radha-dasyam, o serviço a Srimati Radharani. Essa é a finalidade suprema de nossa vida. Não pode deixar de sê-lo. O Srimad-Bhagavatam é o teísmo máximo ou desenvolvido que pode ser extraído dos Vedas, Upanishads, e tantas outras escrituras. Toda a verdade revelada eleva-se a seu cume, sua posição mais elevada, na concepção que nos é dada pelo Srimad-Bhagavatam. E o Srimad-Bhagavatam nos ensina que a realização maior, a auto-determinação, encontra-se no serviço a Srimati Radharani. Que, sob sua orientação, poderemos servir a Sri Krsna. Aspiramos pôr uma conexão direta com seu serviço.
   Qual é, então, o significado interno e o propósito da palavra bhargo ? Bhargo vai vrsabhanuja-atma-vibhava-eka-aradhana-sri-puram. Bhanu significa o sol ou, “quem nos mostra pela luz.” Radharani é a filha de Vrshabhanu, Assim, eu selecionei a palavra bhanu. Para apresentar a extensão de seu próprio ser eu usei a palavra vaibhava. Vaibhava significa, “o que sai de fora”, ou “o ser expandido”. Prabhava é a representação central e vaibhava é sua extensão exterior. A própria essência de svarupa-shakti é Srimati Radharani e o todo de svarupa-shakti é seu ser estendido. A plenitude de svarupa-shakti é a residência de seu belo serviço, isto é, o país, a morada de seu belo serviço.
   Da mesma forma que os raios de luz expandem-se do sol, a potência interna é toda uma expansão de Mahabhava, Sri Radhika. Ela se desenvolveu até uma região tão bela de esplendor, de energia interna e, dali, ela serve ao Senhor. Todas estas necessidades brotaram dela. Todas elas brotaram para auxiliá-la a servir o Senhor. Quando a energia interna total é condensada numa forma concisa, esta é Mahabhava, Radharani. E, quando Radharani quer servir, ela se expande em diferentes formas ilimitadas. E com alguma ajuda de Baladeva e Yogamaya, o mundo espiritual todo, incluindo Vrndavana, Mathura e Vaikuntha, origina-se para dar assistência a Srimati Radharani em seu serviço a Sri Krsna.
   Desta forma eu extraí radha-dasyam, o serviço a Srimati Radharani, como sendo o significado do gayatri-mantra e tentei representá-lo em versos sânscritos.

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                                                                 Goura Haribol

terça-feira, 28 de outubro de 2014

 A Verdadeira Posição da Alma

No Srimad Bhagavad-gita, Sri Krsna diz a Arjuna a condição verdadeira da alma:
                       
acchedyo'yam adahyo'yam / akledyo 'sosya eva cha
nityah sarva-gatah sthanur / acalo yam sanatanah

"A alma individual é irrompível e insolúvel e não pode ser queimada e nem seca. A alma é permanente, está presente em toda parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma.” (Bg. 2. 24)

Krsna declara que a alma é sarva-gatah, onipenetrante. Ela pode agir em qualquer condição da criação divina, quer sob os auspícios da energia externa, quer sob os auspícios da energia interna de Bhagavan. E que, além disso, ela é acala, imóvel. Na verdade a alma encontra-se na condição de tatashtha-sakti, a energia marginal de Bhagavan. Segundo as autoridades no serviço devocional, esta energia se situa numa região intermediária entre o oceano causal e a criação material. A entidade viva (jiva) que se situa nesta posição tem o livre arbítrio de escolher onde se abrigar. Ela pode viver tentando desfrutar da posição de purusha na energia externa, sob as leis do dualismo, ou pode desfrutar de uma vida mais saudável, como serviçal eterna dos sentidos do Maha-purusha num mundo não-dual.
Os Puranas levam à conclusão que desfrutar de uma atmosfera não-dual, apropriada para uma entidade não-dual como a jiva, servindo aos sentidos de Bhagavan e sendo reciprocada por Bhagavan com a gratificação de seus sentidos, é muito mais saudável para a entidade viva.
Não é possível conceber se o tatashtha é um espaço real ou virtual. O mundo espiritual é acyntia, inconcebível para o padrão de raciocínio dualista. Fracassamos ao imaginá-lo como um determinado local segundo os padrões dualistas materiais. Como a alma é todo-penetrante ela pode estar em um determinado local e simultaneamente não estar em local algum.
Lokas, ou locais são espaços materiais. Na condição onipenetrante a alma desfruta de natureza acintya bhedabheda, ou seja, da inconcebível simultaneidade da sua posição constitucional. Esta realidade dualista que vivemos é apenas uma realidade virtual criada pela energia externa. A posição auto-realizada onde se desfruta prema é inconcebível para o pensamento material.
Praticamente todo o conceito de vida na cultura ocidental está baseado num conceito de vida corpórea; isto é, de identificação com o corpo físico. Há escolas filosóficas que admitem o conceito da existência do conjunto corpo e alma como tendo sido criados, ou passado a existir concomitantemente. O corpo seria perecível, mas a alma eterna. Mas onde conceber uma eternidade vinculada a um momento inicial, a partir da formação do conjunto alma-corpo? A eternidade não pode estar restrita a um início, pois deixaria de ser eterna. Seria no máximo perene, mas não absolutamente eterna. As escolas ateístas descartam a existência de uma alma que sobreviva ao desaparecimento do corpo. Após a morte do corpo a entidade viva estaria sujeita ao desaparecimento completo.
Os Puranas analisam exaustivamente estas duas perspectivas e levam ao conceito não-dual de uma existência vinculada à realidade da Verdade Absoluta. As entidades vivas são partes integrantes da Verdade Absoluta e como tal não necessitam de uma atmosfera dual para sua existência. Elas podem servir a esta Verdade Absoluta num plano dualístico, material, que está sujeito às vicissitudes dualísticas de existir e não-existir, e podem viver numa atmosfera não-dual, livre dos inconvenientes de existir dentro dos limites de um corpo físico e passar a não ter existência corpórea manifesta no cataclismo físico denominado “morte.”
O Srimad Bhagavatam, o Purana imaculado, define maravilhosamente este assunto num diálogo entre Krsna e Uddhava. Krsna explicou estes conceitos de vida e morte corpórea a Arjuna num campo de batalha, num momento decisivo e de muita expectativa. Arjuna apesar de ser extremamente inteligente, por ter assimilado todos os ensinamentos de Krsna em pouco menos de uma hora, era um guerreiro, um kshatriya. Não é de se esperar que especialistas em artes marciais sejam grandes filósofos.
Portanto, Krsna fez questão de explicar detalhadamente os mesmos pontos filosóficos a Uddhava, um pouco antes de abandonar este planeta. Uddhava era um grande filósofo e, além disso, era o ministro mais arguto de Krsna, sendo notável pela sua inteligência e preparo psicológico. Ele era tido como o mais perito analista de todas as circunstâncias duais que se pode conceber. Portanto, Krsna tem o mesmo diálogo que teve com Arjuna, e que se tornou famoso com o nome de Bhagavad-gita, com Uddhava e este diálogo está no décimo primeiro canto do Srimad Bhagavatam. E a respeito do conceito de vida e morte corpórea, Krsna faz questão de salientar a posição definitiva:
“Os grandes filósofos analisaram os elementos materiais que constituem este cosmos de muitas maneiras diferentes. Todas as propostas são razoáveis, pois todas são apresentadas com extensa lógica. Estas propostas filosóficas são deveras brilhantes. No entanto, estes mesmos elementos materiais são a causa do falso ego e este falso ego torna-se a causa de toda ilusão e dualidade materiais.
O argumento especulativo dos filósofos — ‘Este mundo é real’, ‘Não, ele não é real’ — baseia-se em conhecimento incompleto a respeito da Verdade Absoluta e visa apenas compreender as dualidades materiais. Embora esta argumentação seja inútil, aqueles que desviam a sua atenção de Mim, que sou a Causa de todas as causas, são incapazes de abandoná-lo.
A mente (que vive em função do falso ego) está presa às reações das atividades materiais e sempre medita nos objetos dos sentidos. Portanto, a mente parece que vem a ser e que depois sofre a aniquilação junto com os objetos de percepção, e dessa maneira perde a sua capacidade de distinguir entre o passado e o futuro.
Ao passar do corpo atual para o próximo corpo criado pelas suas próprias atividades materiais, a entidade viva absorve-se nas sensações agradáveis e dolorosas do novo corpo e esquece por completo a existência do corpo anterior. Este esquecimento total da sua identidade material anterior, causado por uma razão ou por outra, chama-se morte. E o que chamam de nascimento é apenas a identificação total da alma condicionada com o seu novo corpo. Ela completamente iludida, aceita o novo corpo assim como alguém aceita sem ressalvas a experiência de um sonho ou fantasia como sendo realidade. A alma condicionada em seu corpo atual, embora tenha existido antes dele, pensa que só recentemente veio a existir. E como a mente cria esta identificação com o novo corpo, ela se envolve com a dualidade deste mundo.
Os corpos materiais estão sempre passando por criação e destruição decorrentes da força do tempo, cuja rapidez é imperceptível. Devido à natureza sutil do tempo, ninguém nota estas mudanças. Aqueles que apenas desperdiçam as suas vidas equivocamente, pensam e dizem que cada fase particular do corpo é a verdadeira identidade do ser. No entanto, a entidade viva de fato não nasce e sendo imortal não morre. É em virtude da ilusão material que o ser vivo parece nascer e morrer.
Embora o corpo material seja diferente do eu, devido à ignorância decorrente da associação material, a entidade viva eterna equivocadamente se identifica com as condições corpóreas. Contudo, às vezes alguém muito afortunado é capaz de abandonar semelhante invenção mental. Quem compreende de modo realista a criação e destruição dos corpos materiais já não está sujeito a estas dualidades. Mas o homem sem inteligência, incapaz de distinguir-se da natureza material, pensa que a natureza é real, e devido ao contato com ela, acaba ficando completamente confuso e entra no ciclo da existência material, que o faz divagar por diferentes corpos como reação às suas atividades dualísticas.”

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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O que é mayavada?

A palavra maya geralmente refere-se à jada-sakti (potência material ou externa) ou avidya-sakti, que é o reflexo da svarupa-sakti do para-tattva (potência divina de Sri Bhagavan). Maya é a deidade regente do mundo material. Esta potência faz com que a entidade vivente em seu cativeiro material se identifique com o corpo material considerando como seus os objetos relacionados com o corpo e aceita o refúgio da mayavada.

A doutrina mayavada propõe que o Brahman é um espírito homogêneo ou não diferenciado, desprovido de potências ou atributos. Desta perspectiva não pode existir então uma potência maya separada com a função característica de criar uma ilusão. Não obstante, os mayavadis afirmam também que a jiva é, na realidade, o Brahman e que a existência aparente de uma entidade vivente separada de Brahman é apenas uma ilusão criada pela influência de maya ou avidya. A jiva existe enquanto exista maya. Neste sentido, os mayavadis consideram que a potência maya existe. Segundo a doutrina mayavada, maya tem a característica específica e peculiar de ser tanto sat como asat e é, portanto, indescritível. As pessoas que sustentam essa opinião enganosa são conhecidas como mayavadis ou impersonalistas. Segundo a concepção mayavada, Isvara, é igual à jiva, se encontra nas garras de maya. Afirma também que, não obstante, a diferença entre Isvara e a entidade vivente é que esta é forçada a aceitar os frutos de suas ações enquanto que Isvara não tem que aceita-los quando é coberto por maya. Os vaishnavas acharyas têm afirmado que essa idéia é contrária tanto aos sastras como na lógica.


O autor do Vedantra-sutra, o onisciente Sri Krsna-dvaipayana Vedavyasa, que dividiu os Vedas, declara no Padma Purana, outra obra sua, que a mayavada é falsa e contrária aos Vedas.


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sábado, 25 de outubro de 2014

Mais um Néctar do JAIVA-DHARMA

Há cinco tipos de baddha-jivas – seres ou almas condicionadas aprisionadas no mundo material, a saber:  

acchadita-ceta­na - São  aquelas cujas cons­ciências estão completamente encobertas. São seres nos corpos de árvores, plantas, trepadei­ras, gramas, pedras e assim por diante, que se esqueceram do serviço a Krsna, e estão assim absortas nas qualidades ma­teriais de maya que não tem sequer um sinal de sua natu­reza senciente.

sankucita-cetana - São aquelas cujas consciências estão encolhidas ou retraídas.  Os animais, pássaros, cobras, peixes, aquáti­cos, mosquitos, várias criaturas similares têm consciência encolhida ou contraída. As consciências dessas jivas estão aparentes até certo nível, de um modo diferente das jivas no grupo anterior, cujas consciências estão completamente encobertas. Por exemplo, aquelas jivas que realizam ativi­dades tais como, comer, dormir, movimentar-se livremente, e brigar com os outros por coisas que considera sua proprie­dade estão neste nível de consciência. Elas também demonstram medo, e ficam iradas quando vêem injustiça. Porém, elas não têm conhecimento do mundo espiritual.

Há aquelas cujas consciências estão levemen­te germinadas (mukulita-cetana), outras com suas consciências desenvolvidas (vikasita-cetana); e outro grupo com consciência plenamente desenvolvida (purna-vikasita-cetana).

As jivas condicionadas com corpos hu­manos estão nestas três categorias: com a cons­ciência ligeiramente desperta (mukulita-cetana), com consciência desenvolvida (vikasita-cetana), e com consciência plenamente desenvolvida (purna- vikasita-cetana).

Geralmente, a raça humana pode ser di­vidida em cinco grupos: 1) ateístas imorais, 2) ateístas mo­rais, 3) teístas morais, que tem moralidade e fé em Isvara, 4) aqueles que estão ocupados em sadhana-bhakti, e 5) aque­les que estão ocupados em bhava-bhakti.

Aqueles que são ateístas conscientemente ou inconsciente­mente são os ateístas morais ou imorais. Quando uma alma ou jiva desenvolve um pouco de fé em Isvara, ela é chama­da um teísta moral. Aqueles que desenvolvem interesse em sadhana-bhakti de acordo com os princípios do shastra são chamados sadhana-bhaktas, e aqueles que desenvolveram algum amor puro por Isvara são chamados bhava-bhaktas.


Tanto os ateístas morais quanto os ateístas imorais têm ligei­ramente a consciência desperta; teístas morais e sadhana-bhaktas têm a consciência desenvolvida; e os bhava-bhaktas têm a consciência completamente desenvolvida. 

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Vaishnava Aparadha

Srila Bhakti Promode Puri Maharaja, do Livro: O Coração de Krsna

O desenvolvimento etimológico da palavra aparadha é radhat arthat aradhanat-apagatah, que significa "estar distanciado da adoração".
As ofensas cometidas aos pés de lótus dos Vaishnavas, os devotos, distanciam qualquer pessoa do serviço devocional ao Senhor Supremo.
Contudo, no sentido mais elevado, aparadha significa ser removido do serviço de Sri Radha. Todos os serviços divinos a Krishna são conduzidos sob Sua direção. Ofender os servos de Srimati Radharani é tornar-se incompatível com Seu serviço. Todo o objetivo da Consciência de Krishna é radha-dasyam, o divino serviço a Sri Radha, e ofensa aos pés de lótus dos Vaishnavas torna a pessoa incompatível com tal serviço.
O Senhor é excessivamente protetor de seus devotos (bhakta vatsalya) e não tolera nenhuma ofensa contra eles. Esses excelsos devotos possuem devoção (bhakti) e podem despertá-la em nossos corações.
Bhakti é o único meio para atrair Krishna, que é um escravo da devoção. O
Mesmo se diz de Sri Cheitanya Mahaprabhu. O Cheitanya Bhagavata declara:
"Uma pessoa pode alcançar o abrigo de Mahaprabhu somente pela graça de
um Vaishnava superior. As práticas religiosas e mesmo o cantar dos Santos
Nomes sem devoção são inúteis."

Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Prabhupada escreve em seu comentário:

"Sem o desenvolvimento de um espírito de serviço, o canto do Santo Nome é
em vão. A verdadeira devoção somente pode ser cultivada quando alguém recebe as bênçãos de um devoto imaculado."

Vrindavana Dasa Thakura diz:

"Se uma pessoa comete uma ofensa aos pés de lótus de uma Vaishnava, muito embora possa ter recebido a misericórdia de Krishna, ela nunca alcançará o amor divino, prema."

Srila Prabhupada escreve:

"Mesmo sendo um Vaishnava, se alguém comete ofensa aos Santos Nomes, torna-se inadequado para render devoção sem vestígio de interesse pessoal.
Apesar de parecer estar sendo favorecida pelo Senhor, pois continua fazendo um espetáculo de canto sem dificuldade, Krishna está, de fato, muito desgostoso com tal pessoa por causa do seu antagonismo em relação aos devotos. Para abandonar a ofensa contra o nome do Senhor (nama aparadha), devemos, primeiramente, abandonar a propensão de encontrar defeitos nos devotos (sadhu-ninda)".

A respeito da frase "muito embora tenha recebido a misericórdia de Krishna" (Krishna kripa hoileo), Srila Sarasvati Thakura comenta:

"As pessoas podem pensar que, como um ofensor pareça continuar o canto sem dificuldade, o Senhor ainda deve estar favorecendo-o; contudo, talpensamento é incorreto. O Senhor não está sequer levemente tocado por essa devoção fingida."

Vrindavana Dasa adverte-nos contra termos uma visão superficial dos devotos, quando nos limitamos a seus aspectos externos. Tal atitude condenada:

"A fim de nos ensinar o absurdo que é julgar os devotos por suas características externas, de acordo com raça, cor, família ou outras considerações, o Senhor Supremo fez arranjos para Haridasa Thakura
nascer na seção inferior da sociedade. Todas as escrituras enfatizam que se um devoto fidedigno aparece mesmo em circunstâncias sociais inferiores, ainda assim ele deve ser adorado por todos.

O Vaishnava pode nascer em qualquer família ou seção da sociedade, ainda assim ele é a pessoa mais elevada conforme o mandamento das escrituras."
Deus é o protetor de todas as entidades vivas e Ele não pode tolerar insultos e desrespeito dirigidos os Seus devotos. Extremamente cuidadoso com o bem-estar de Seus queridos devotos, Ele recusa-Se a aceitar qualquer adoração daqueles que os menosprezam. O Senhor ama tanto Seus devotos que não apenas aceita alimento e presentes deles, como, às vezes, chega a furtar suas oferendas, enquanto rejeita as oferendas de um não devoto.
Num passatempo, Krishna estava muito ansioso para comer arroz quebrado feito pela esposa de Vidura, e ignorou a festa real programada por Duryodhana. Do mesmo modo, o Senhor não pôde resistir em comer um bocado de arroz inflado oferecido por Sudhama. Ele disse:

"Ó, brâmane, que coisas maravilhosas você trouxe de sua casa? Mesmo uma pequena oferenda de um devoto é uma grande festa para Mim; enquanto uma festa de um não devoto não pode Me dar nenhuma satisfação. Tudo o que Me for oferecido com amor Eu aceitarei com amor."
Sriman Mahaprabhu cita do Itihasa-Samuccaya, registrado por Srila Krishnadasa Kaviraja:

"Uma pessoa pode aprender todos os Vedas, mas se não tem devoção, como pode ser Meu devoto? Ao passo que uma pessoa nascida na mais baixa seção da sociedade, se tem devoção, é muito querida para Mim. Todo respeito deve ser demonstrado a tal alma elevada. Suas oferendas devem ser aceitas por todos, pois ela é tão digna de adoração quanto Eu sou. "Mahaprabhu também cita o Hari-bhakti-sudhodaya:

"Os pecados de um brâmane são reduzidos a cinzas pelo fogo poderoso de Krishna-bhakti. Ao passo que um erudito védico ateu é ridicularizado. Qualquer pessoa desprovida de devoção pode nascer numa grande família ou nação, ter amplo conhecimento das escrituras, executarem atividades ou
cantar mantras védicos; mas essas atividades são como ornamentos num corpo morto. Apenas os tolos ficarão impressionados."

Quando Mahaprabhu foi abraçar Haridasa Thakura, com toda a humildade Haridasa lhe disse:

"Meu querido Senhor, por favor, não me toque. Eu sou o mais caído, o mais baixo entre os homens."
Mahaprabhu respondeu:

 "Eu desejo tocá-lo simplesmente para que possa purificar-Me. Você é tão imaculado; é como se a todo o momento estivesse se banhando em todos os rios sagrados, visitando todos os lugares de peregrinação e executando todos os sacrifícios, austeridades e caridade imagináveis. Você é ainda mais exaltado do que qualquer brâmane ou sannyasi."

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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

“O processo de inquerir”
por Sri Srimad Gour Govinda Maharaja

Como pode uma alma condicionada capturada por maya compreender sua verdadeira identidade? Como ela pode obter esta consciência original, o começo da pureza, a auto-identificação como um servo do Senhor? Ela não pode compreender isto a não ser que Krsna a ensine. Porque Krsna é nosso único amigo e bem-querente, Ele fala o sastra somente para nos ensinar. Mas baseado em nosso próprio mérito, inteligência ou conhecimento mundano, não podemos compreender o sastra. É uma questão de tattva-vicara. Existem dois tipos de considerações, dois tipos de compreensão do sastra: apara-vicara e tattva-vicara, consideração aparente e consideração absoluta. Nossa filosofia vaisnava está baseada somente na consideração absoluta, tattva-vicara. Apara-vicara é condenado. Assim, um guru, um tattva-acarya é necessário.

tad viddhi pranipatena pariprasnena sevaya
upadeksyanti te jñanam jñaninas tattva-darsinah

No Bhagavad-gita é dito que devemos aceitar um tattva-acarya, um tattva-darsinah, aquela pessoa que viu a verdade e conhece a verdade. Tal tattva-acarya pode nos dá tattva-jñana. De outra forma não há como obtermos este conhecimento. Embora o sastra esteja lá, somente por lê-lo não é possível entendê-lo. Krsna ensina através do sastra, do guru e do sadhu. A pessoa deve ser submissa e se aproximar de um vaisnava:

tad-vijñanartham sa gurum evabhigacchet
samit-panih srotiyam brahma-nistham

Para aprender a ciência transcendental, a pessoa deve se aproximar de um mestre espiritual fidedigno, numa linha de sucessão discipular, e que esteja fixo na verdade absoluta.

Se você for muito sério e estiver ansioso por conhecer este tattva-jñana, você deve se aproximar de uma pessoa apropriada. Tal pessoa é um tattva-acarya. Ele conhece tattva. Ele recebeu este tattva-jñana de seu acarya escutando com submissão. Ele vem numa linha de sucessão guru-discípulo autorizada. Você deve se aproximar de tal pessoa. Então, pranipatena pariprasnena sevaya, renda-se completamente aos pés de lótus dele. Sirva-o, satisfaça-o e humildemente lhe faça perguntas sobre tattva. Então, pela misericórdia deste guru, acarya, ele irá colocar todo o conhecimento dentro de você. Este é o começo da pureza da consciência na busca do desejo do Senhor.

Quando você está muito ávido – “Como posso conhecer este tattva-jñana?” – então você deve se associar com um sadhuadau sraddha tatah sadhu-sangah. Você deve ouvir com submissão o que o sadhu tem a dizer. Colocando fé firme nas palavras do sadhu, você deve se render. A não ser que você se renda, você não pode colocar fé completa nas palavras do sadhu. Não! Mesmo que você vá até ele, se sente e ouça, ainda assim você não pode conseguir a sua misericórdia. Você não tem fé nas palavras dele porque você não se rendeu.

Por ouvir de um sadhu apropriado você pode entender qual a sua verdadeira identificação: “Oh, ami krsna-dasa, sou um servo de Krsna”. Aqui é dito que a auto-identificação como um servo do Senhor é o começo da pureza da consciência.


* trecho traduzido do livro Pariprasna – The process of Inquiry de Sri Srimad Gour Govinda Swami Maharaja.

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GURU GAYATRI MANTRA
AIM GURUDEVAYA VIDMAHE KRISHNANANDAYA DHIMAHI TANNO GURU PRACHODAYAT

O canto desse mantra auxilia a fixar a atenção no que está sendo adorado assim ele desperta a apreciação pelo mestre espiritual podendo realizar a forma feminina do guru pelo poder desse mantra.
A forma de meditação no Guru depende da maturidade do devoto, ou seja, sua realização. Os principiantes vêem o Guru como o próprio Krishna, depois de algum tempo, compreenderão que o Guru é o representante de Krishna dotado de poder, e finalmente o discípulo compreenderá a identidade eterna do Guru como uma serviçal de Radha, ou seja, o discípulo meditará na forma manjari do seu gurudeva, compreendendo que o Guru está no campo de Lalita Sakhi servindo sob as ordens de Rupa manjari no nikunja auxiliando os romances amorosos de Radha-Madhava. Assim o Guru se revela em uma forma variada.
Srila Vishvanatha Thakura cujo nome do seu corpo eterno como uma mocinha serviçal de Radha é Vinoda-vallari manjari mostra em sua canção ao Guru esse conceito de nikunja-yuno rati keli siddyai "Meu gurudeva como uma auxiliar assiste as gopis nos passatempos íntimos conjugais de Radha-Madhava".
Quase a totalidade absoluta dos acharyas da Gaudiya sampradaya está em madhura rasa, ou seja, são eternas mocinhas em manjari bhava, por isso, enquanto se canta esse gayatri, o sadhaka deve meditar na forma de seu Guru em siddha Svarupa, ou seja, como uma manjari.
AIM ou AING - é o bija mantra ou semente que contém a energia do mantra dentro de si com a potência de invocar uma energia especifica tanto dentro quanto fora da pessoa que o pronuncia. Especificamente AIM invoca a potência do conhecimento divino.
Assim a palavra aim descreve o Guru como a fonte do conhecimento transcendental que se origina em Baladeva, o mestre original. Aim também se refere à Radha que se expande como Divya Sarasvati. Uma das missões do Guru é ensinar o discípulo a saborear bem aventurança. Aqui se usa o mula mantra, ou seja, a combinação de bijas que é não diferente da deidade a que se refere.
Esse mantra de forma geral é usado como INVOCAÇÃO ou chamamento seja do Guru ou do Senhor usado na adoração ou puja.
KRISHNANANDAYA - indica o humor do serviço amoroso do Guru a Radha.

Meditação

O sadhaka implora por pela misericórdia do guru com a revelação das identidades do Guru, Gauranga e Radha Giridhari. E medita como o mestre espiritual está outorgando grande bem aventurança a Shrimati Radharani por meio de vários serviços.
O primeiro mantra ao Guru no Gayatri é AIM (AING) GURAVE NAMAH ou o Guru MANTRA onde o discípulo se aproxima presta reverências e se oferece ao Guru.
Misticamente o que se dá é a transferência da shakti do Guru ao discípulo, do seu utsaha (entusiasmo).
Antes de cantar o Guru-gayatri o sadhaka deve meditar no Senhor Cheitanya sentado em um trono dourado e rodeado por Shri Nityananda, Gadadhara e Seus associados íntimos. Meditação na forma do guru no Gaura Lila:
A forma do Guru é refulgente e suave como o brilho de um milhão de luas. Suas duas mãos outorgam bênçãos e concedem destemor ao discípulo rendido. Ele está vestido com uma roupa e uma guirlanda de flores brancas, com decorações de chandana pelo seu corpo. Seu rosto reflete paz interna e satisfação. Ele sempre está absorto na felicidade de Gaura Bhajana. Seu corpo é sat-chit-ananda, com belos olhos de lótus e uma tez dourada refulgente na sua idade eterna de kishora. Ele é um resoluto seguidor de seu próprio gurudeva e do parampara, fiel ao caminho mostrado por Shri Rupa Gosvami. Ele está sempre ansioso para executar todos os tipos de Bhagavat seva, e satisfaz os desejos de seus discípulos. Desse modo, em um estado purificado e límpido o sadhaka deve fixar sua mente em smaranam, ou seja, a lembrança da forma de seu gurudeva. 

Nota:

Shri Jiva Gosvamipada, no seu Bhakti Samdarbha 286 e Anu ou Krama Samdarbha 11/27/29 descreve duas formas do Guru, isto é, o Vyasti Guru e o Samasti Guru.
jha eva bhagavanatra vyasti rupataya bhaktavatarivena
Shri Guru rupo bartate, as eva tatra samastirupataya
svabamapradese sakhad avatartvenapi tadrupo bartate
Tradução: O Senhor Supremo outorga misericórdia às jivas na forma do Guru de duas maneiras: como Vyasti Guru, que descende ao mundo material como um Bhakta Avatara do Senhor e como Samasti Guru que é um Avatara direto do próprio Senhor que permanece do lado esquerdo de Shri Cheitanya Mahaprabhu no yoga pita, no mundo espiritual.
Para uma explicação mais clara podemos dizer que o diksha Guru de uma pessoa é o Vyasti Guru. O Vyasti Guru é o representante do Samasti Guru. Segundo os atos piedosos, karma e conhecimento adquiridos as diversas jivas possuem níveis diferentes de elegibilidade para se aproximarem do Senhor Supremo. Por esta razão, o Vyasti Guru pode assumir várias formas como Bhakta Avatara para elevar as jivas. A forma do Samasti Guru, contudo, permanece eternamente a mesma. Essa forma eterna do Guru no Gaura Lila foi descrita no verso anterior.

Em uma plataforma abaixo de Mahaprabhu e seus associados fica o Guru parampara, todos vestidos de branco em uma forma kishori (jovens e belos meninos) e mentalmente o sadhaka adora seu gurudeva  e o Guru parampara com guirlandas, flores etc., depois se canta o Guru-gayatri.

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terça-feira, 21 de outubro de 2014

KAMA GAYATRI
Klim kama-devaya vidmahe pushpa-banaya dhimahi tan no' nangah prachodayat

É a seqüência do Gopala mantra onde se manifesta a corporificação dos três vedas. Ele é composto de 24  silabas e meia e leva a vivência plena dos passatempos transcendentais mais íntimos de gopijanavallabha.
O kama gayatri representa a Quinta nota da flauta de Krishna , que é a nota especialmente tocada para atrair as gopis.
Brahma após ouvir o som "tapa " duas vezes e após Krishna ter aparecido para ele e falado os 4 versos sementes do Bhagavatam e após ter recebido de Divya Sarasvati, consorte do Senhor Narayana, o Gopala mantra, Brahma se tornou um Vaishnava e sua tapasya foi cantar e meditar no Gopala mantra. Ou seja, Brahma passou a praticar Raganuga sadhana bhakti, visualizando a si mesmo como uma manjari das gopis, cantava o Gopala mantra prestando serviço mental nas 64 artes e trabalhos manuais conforme descrito no Brahma samhita.
Porém , a devoção de Brahma era gauna-bhakti, ainda não pura, mesclada com o desejo de criar o mundo material. Mesmo assim Brahma pode ver Vaikuntha e assim após 1.000 anos celestiais de meditação no Gopala -mantra , o senhor Brahma estava qualificado para ouvir o doce som da transcendental flauta de Krishna , esse som assumiu a forma do GAYATRI MANTRA.
Nesse ponto Brahma alcança o estágio de duas vezes nascido, tendo sido iniciado pelo próprio Krishna .
Esse gayatri é cantado especialmente pela Gaudiya sampradaya onde se marca os folguedos transcendentais de Krishna com as gopis. Pelo canto desse gayatri , Brahma foi elevado a plataforma de madhyama, o que deu a ele uma idéia sobre sua forma espiritual eterna como uma serviçal, além de uma visão pela sua meditação svarasiki de Goloka, descrita por ele no seu Brahma-samhita.
KLIM - rouba a mente das Vraja gopis
KAMADEVAYA - Shyamasundar com suas sedutoras sobrancelhas expressa kama ou Seu desejo roubando a discriminação das Vraja-gopis.. Krishna é o Kamadeva transcendental, que representa a atração que a Superalma exerce na alma individual ( e nada relacionado com corpos de carne e osso), isso é o desejável sexo espiritual. Esse cupido transcendental possui 5 flechas de flores que representam o gosto, visão, som , toque e aroma e também as cinco rasas: santa, dasya, sakhya, vatsalya e madhurya.
VIDMAHE - rendição a Kamadeva em Vraja madhurya rasa.
PUSHPA, BANAYA, DHIMAHI - pushpa-banaya é o nome de Kandarpa ou Kamadeva que atira flechas de luxúria no coração das almas caídas, porém Krishna atira flechas do kama espiritual estimulando o sambhoga rasa das Vraja-gopis.. Dhimahi significa 'meditemos' nos efeitos maravilhosos dessas flechas de Kamadeva.
TAN - significa 'que é ' Ananga o cupido incorpóreo.
ANANGA - o Cupido cujo corpo foi queimado por Shiva, porém aqui se refere a Krishna , que atrai os corações de todas as pessoas. Também pode se referir a Krishna que desmaiou devido ao êxtase ( perdeu a consciência de Seu corpo - Ananga).
PRACHODAYAT - significa 'que se manifeste' . É a oração que se faz a Krishna pedindo ajuda para vivenciar a forma (prachodayat) dEle. É o pedido de se tornar uma serviçal de Radha.
Esse mantra não pertence ao mundo material, e o sadhaka que o canta toma nascimento em Vrajamandala. Os devotos iniciantes que receberam a segunda iniciação devem sempre cantar esse mantra sinceramente e isso gradualmente qualificará o devoto.
MEDITAÇÃO
Shri Krishna é rasaraja, o rei de todas as doçuras do amor conjugal que nos ocupa no seu transcendental serviço amoroso.
A questão das 24, 5 silabas, foi pesquisada a fundo por Vishvanatha Chakravarti que não conseguiu chegar a uma solução, porém recebeu o darshan de Svamini que esclareceu a dúvida . As palavras da própria Shrimati Radhika a Vishvanatha Chakravarti são muito esclarecedoras: "oh Vishvanatha! Oh Hari Vallabha! Por favor, levante-se! O que Krishna Dasa Kaviraja escreveu é verdadeiro, ele também é Meu servo confidencial. Ele sabe tudo sobre meus humores internos por Minha graça. Esse Kama gayatri mantra é o mantra para Minha adoração - Eu posso ser conhecida pelas silabas desse mantra. Porém, sem Minha misericórdia, ninguém pode adentrar nesses mistérios. A solução da meia silaba está no livro conhecido como varnagama-bhasvadi. A letra 'ya'(devaya) que é seguida pela letra 'vi" (vidmahe) é considerada como meia silaba. Isso recai na testa de Krishna que forma o halo de uma meia -lua. "
Shrila bhakti Prajnana Keshava Maharaja deu a seguinte definição do Kama-Gayatri: "o Kama-Gayatri é Radha e Krishna . basta cantar sinceramente e o mantra revelará tudo a vocês."
No svayambhuva -agama shastra menciona-se a seguinte meditação : "Shri Mukunda em êxtase toca Sua Murali enquanto perambula de bosque em bosque na floresta de Vrindavana. Ele está belamente vestido e abraçado por Radha. Tomado de amor por Radhika, Shyama às vezes revela seu humor luxurioso sorrindo e movendo Suas sobrancelhas sedutoramente."
Shrila Krishna Dasa Kaviraja escreveu o seguinte verso para a prática da meditação de Radha Govinda no yoga-pitha.
Divyad vrindaranya kalpa drumadhah
Srimad ratnagara simhasana sthau
Srimad radha srila Govinda devau
Presthalibhih sevyamanau smarami
"Medito nas belas formas indescritíveis de Radha Govinda, sentados em um trono cravejado de jóias no meio de um Kunja confidencial embaixo de uma árvore kadamba no centro de Vrindavana, que está repleto de árvores do desejo. Radha Govinda estão rodeados por suas mais intimas sakhis e manjaris, cujos olhos que são como abelhas estão sorvendo o néctar que verte das faces de lótus do Casal Divino. Em prema, as sakhis prestam vários serviços como abanar, oferecer tambula. Que a minha mente e coração sempre estejam absortos na lembrança desse passatempo maravilhosamente transcendental "(Cc. Antya 1.6)
Esse verso sempre habita o coração de todos os Gaudiya vaishnavas. A prática é lembrar do verso junto com a seguinte meditação : Enquanto se canta silenciosamente o Kama-Gayatri mantra na mente e no coração, o sadhaka deve meditar em Radha e Krishna sentados no meio de um grande trono de flores de lótus cor de rosa, cravejado com jóias preciosas em um templo dourado as margens do Yamuna. Esse local é conhecido como govindasthali ou Vrindavana yoga-pitha. Radhika está oferecendo pan a Krishna e o mestre espiritual em sua forma de Guru-manjari está ao lado esperando para prestar serviço a Shri Radha . O discípulo está ao lado da Guru manjari em sua forma manjari(siddha deha) auxiliando seu Guru ao segurar uma jarra de água aromatizada ou a cchâmara para ser oferecida a Shrimati Radhika.
O canto do kama gayatri traz a vivência da beleza sublime de Krishna , no coração ou se o Senhor desejar o saksad darshan, ve-lO em pessoa externamente. Esse mantra auxilia o devoto a desenvolver as qualidades transcendentais de Krishna e a perceber os passatempos de Radha e Krishna no aprakrita Vrindavana.